quarta-feira, 30 de março de 2011

Nós e a crise

A minha amiga Fungagá disse-o muito bem: enquanto continuarmos a usar o crescimento (e o PIB, de caminho) como único sinónimo de crescimento, a coisa não vai lá.

Primeiro, porque nem só de PIB se faz a realidade. Sabiam que o PIB contabiliza todas as transacções, sejam elas por coisas positivas (como a venda de produtos transformados, por exemplo) como também negativas (despesas com acidentes de viação ou vandalismo)? De que forma é que o dinheiro gasto a limpar grafitis é positivo?

Na minha opinião, o progresso é mais que o crescimento. É mais que o somatório das transacções de um país. O progresso é bem-estar, é respeito pelo ambiente, é ar puro nas cidades e água potável nas torneiras. É um sistema de transportes públicos integrados, uma rede de cuidados de saúde pública (que, apesar das muitas queixas, existe, lembrem-se disso). O progresso é também poder trabalhar de casa, receber um salário que mereça esse nome e é também cultura, acesso a cinema, teatro e museus. É isso tudo, muito mais que um número, um déficit ou tantas outras percentagens que nos querem atirar à cara a todo o instante.

Não digo que não exista crise em Portugal. Existe. Mas é sobretudo uma crise de confiança. Nós, portugueses, choramos um bocadinho, mas também somos trabalhadores. Sejamos empreendedores, arrisquemos, lutemos. Se for preciso ampliar o mercado, ampliemo-lo: porquê limitarmo-nos a Portugal? Se for preciso emigrar, emigremos. Não vou dizer que não tenho saudades, porque tenho, mas viver fora faz muito bem. Se para mais não servir, dá para ver o país fantástico que temos, mas que tão mal amamos.

Para gostarmos um pouco mais de nós e do nosso país, vale a pena ler este texto, que já correu por e-mail e agora reli numa página de facebook. Fala de invenções, iniciativas e exemplos de êxito dos nossos, amplamente reconhecidos no estrangeiro mas pouco conhecidos dentro das nossas fronteiras.

Penso que mais auto-confiança, a nível nacional, nos vai fazer muito bem. Havemos de conseguir, com as nossas ideias, o nosso trabalho, as nossas iniciativas. Independentemente (ou devo dizer "apesar"?) das cores do futuro governo.

Queiram-me desculpar, caros leitores não-portugueses. Às vezes é preciso mudar um pouco o registo! Mas qualquer dia volto aos fait-divers da vida no Panamá.

terça-feira, 29 de março de 2011

Fresca, fresquinha: a zine de Março!

"We´re in Panama" issue 10

Quem quer ler? É só descarregar, imprimir, dobrar. Para quem não quiser imprimir e dobrar, pode descarregar e virar a cabeça.

Espero que gostem!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pecha Kucha Night!

Pecha Kucha Night Panamá vol.5
Lisboa no Panamá

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Pecha Kucha Night Panamá vol.5

Na quarta-feira passada estreei-me nas lides pechakucheiras. Para quem não sabe o que é, faço um resumo: é um evento em que várias pessoas apresentam os seus projectos, tendo apenas 20 imagens, cada uma durante 20 segundos. Isso perfaz um total de seis minutos e quarenta, de maneira que as mensagens têm de ser passadas de forma concisa.

A minha apresentação foi sobre a minha zine, um projecto que cada dia me é mais querido. Pedi a colaboração dos leitores para que me enviassem fotografias da zine nas respectivas cidades, e... o resultado foi o máximo, foi surpreendente! Cheguei à conclusão de que a zine viaja mais que eu (e tenho a sorte de viajar muito), o que é muito positivo num "filhote" de quase um ano.

O ambiente pechakucheiro é particularmente agradável porque, como me dizia o organizador, é de "zero stresse". E a verdade é que me senti muito à vontade, não estava particularmente nervosa antes de subir ao palco e, lá em cima, o comboio partiu e não houve volta a dar.

Foi uma sensação maravilhosa estar a falar para aquele pessoal todo, sentir as gargalhadas que deram com as minhas piadas e ouvir os comentários no final, a curiosidade por saber onde encontrar a zine ou "como um estrangeiro vê o meu país".

Obrigada a todos os que lêem a zine, me mandaram fotografias e me ajudaram a preparar esta apresentação. Agora, adeusinho, que tenho de ir fazer o número de Março!

Mais informação sobre a Pecha Kucha, a Pecha Kucha Panamá e muitas outras cidades onde se realiza este evento.

Isto é uma vergonha

esgoto a céu aberto

esgoto a céu aberto

E agora não estou a ser irónica. Isto é mesmo uma vergonha: há pelo menos quatro semanas que há um problema qualquer com esta tampa de esgoto e esta aguinha que vocês aqui vêem é isso mesmo, esgoto. Em dias normais, é só o cheirinho a maravilha; em dias maus, vêem-se pedaços de cocó e de papel higiénico a boiar. Bonita descrição, não?

Muitos condutores passam os seus carros por cima do rio do cocó com muita velocidade, levantando água e borrifando os transeuntes que seguem pelo passeio.

Quando passo de bicicleta, procuro a parte da estrada com menos água, ou seja, o mais encostado à esquerda possível. Só que isso, com um pouco mais de movimento automóvel, torna-se impraticável. E há também a própria da molha que o movimento rápido das rodas dos carros me proporciona, já que ninguém abranda ao passar ali.

Resumindo, vou da bicicleta directamente para o duche. Poupo-vos os detalhes.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tweets japoneses

A notícia da tragédia no Japão na sexta-feira passada tem sido badalada e rebadalada na comunicação social, normalmente com um enfoque no volume de destruição que o país sofreu.

Sem querer diminuir os efeitos do gravíssimo sismo e das sucessivas ondas do tsunami que destruiu tudo à sua passagem, gostaria de partilhar aqui o link para tweets japoneses (traduzidos para inglês), onde várias pessoas vão contando os pequenos gestos de ajuda que receberam de desconhecidos. Impressionou-me particularmente os sem-abrigo a partilharem os seus caixotes de cartão com as pessoas à espera de transportes públicos.

Para ler, emocionar-se e partilhar.

(via skinny la minx)

Uma nova aventura

Hoje lancei-me numa nova aventura, a de circular de bicicleta pelas ruas desta cidade. Ensaiei mentalmente o percurso até à minha aula de yoga (é perto), ponderei sobre se devia ir pelos passeios (quando existem) ou pela estrada, junto aos carros. Optei pela segunda alternativa, apesar de tudo, mais... existente.

Preparei-me mentalmente para a enxurrada de piropos e assobios. Segurei a perna da calça de yoga, o tapete às costas e a mala a tiracolo. E lá fui eu, seguindo o trânsito e respeitando semáforos (não é no Panamá que vou tentar a minha sorte passando um sinal vermelho).

Poucos minutos depois cheguei à aula de yoga, sem sustos para contar. Os carros, talvez espantados com a audácia, foram respeitadores, sem sequer apitar! Piropos? Nem ouvi-los. E isto, senhores leitores, é muito surpreendente, dado que de cada vez que ponho o pé na varanda (relembro, 49.º piso) é uma catarata de assobios, "píntames" e afins.

Quando cheguei à aula e estava a acorrentar a bicicleta a uma grade, veio o porteiro do edifício dizer-me que iam lavar aquela secção e que teriam de molhar a bicicleta, não a quereria eu guardar no cubículo perto das escadas? E assim foi. Acho que se não tivesse ido de bicicleta não seria alvo de tanta amabilidade.

Portanto: andar de bicicleta no Panamá - 1; medo de andar de bicicleta porque estes tipos têm uma condução atroz - 0.

Amanhã lá vou eu outra vez.

terça-feira, 8 de março de 2011

Deitar cedo e cedo erguer (parte II)...

detail

...dá saúde e faz o dia render.

Já contei no meu blog de trabalho que me propus um desafio para o mês de Março: o de pintar todos os dias úteis. Não vou necessariamente pintar os dias, nem encher os dias de pintura. Meia hora ou três horas são ambas alternativas válidas na progressão do meu desafio.

E como tenho pintado todos os dias, tenho notado grande aumento na produtividade. Sendo a pintura como o meu parque infantil, onde posso brincar à vontade com as cores, a matéria, as formas e os gestos, quando chego ao meu trabalho tudo corre verdadeiramente melhor.

Acima está um detalhe do primeiro quadro; que mais irei pintar eu este mês?

segunda-feira, 7 de março de 2011

Deitar cedo e cedo erguer

Early morning in Panama City, Panamá

Early morning in Panama City, Panamá

Às vezes pergunto-me que terá acontecido àquela outra eu que gostava de ficar na sorna, na cama, ao fim-de-semana. Não sei. Não é que não goste - não há prazer melhor que um livro ao Sábado de manhã, entre os lençóis - mas parece que gosto mais de me levantar e ir aproveitar a madrugada para a varanda.

Às seis e meia da manhã o sol ainda vem baixinho, mas luminoso. Na estação húmida, é provavelmente o único momento do dia em que há, digamos, sol. A esta hora está, realmente, fresquinho, e sinto pele de galinha quando vou à varanda. Há que aproveitar.

Pinto, ou leio, ou tricoto, ou não faço nada disto e aproveito o silêncio da manhã, antes das actividades, ou das obras do prédio ao lado, ou do sindicalista que vem de megafone em punho gritar aos operários que constroem os arranha-céus onde jamais poderão viver.

À hora do almoço já tudo terá mudado: o calor é insuportável, o barulho e a poeira também, as nuvens estão prestes a despejar a sua carga diária e pontual sobre a cidade.

Para ao fim da tarde regressar a magia.

early evening in Panama City, Panamá

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quem diria?
















































Enquanto tive cá os meus pais, aproveitei - tal como já contei - para pedir ajudas específicas, como nas compotas (mnham) e na mantinha. Assim de passagem mostrei uma blusinha que já tinha cortada, alinhavada e com algumas partes cosidas, blusinha que ficou em fase de projecto. Na minha cabeça processou-se algo do género "eu seja santa, como é que resolvo isto, este decote faz uma ondinha, nem em sonhos descoso tudo e volto a coser".

E pronto, a dita blusinha ficou em águas de bacalhau meses sem fim, quiçá até mais que um ano.

Pois que senhora dona Mãe, de signo tigre no zodíaco chinês, não deixou o projecto voltar para a gaveta e insistiu (rugiu?) que nessa mesma tarde o teria de terminar. Foi-me dando indicações, e enquanto eu cosia (e desfazia e voltava a coser), senhora controladora das costuras foi lendo capítulo após capítulo do livro que queria terminar antes de voltar a Lisboa.

E assim foi. Cheguei ao momento do fecho invisível, na costura lateral. O truque? Alinhavar até mais não, e muita, muita paciência.

Não terminei a blusa no próprio dia, mas terminei-a a tempo de a estrear com os meus pais cá. E já a usei e reusei, exibo-a até mais não poder. Porque, afinal de contas, fui eu que a fiz. E até lhe instalei um fecho invisível. Ora toma, Billy que achava que não conseguia. Conseguiste!

terça-feira, 1 de março de 2011

Mais actividades

Quilted baby blanket | Manta bordada e acolchoada

"Bonequinha feliz..."

"Tenho na minha alma um sonho..."


Outra das actividades desenvolvidas em vez de ir visitar imensos museus, monumentos e jardins foi a costura.

Como sabem (ou não), quando vivia na Argentina criei - na altura com uma sócia - uma marca de roupa de bebé tricotada à mão. Entretanto o projecto tem evoluído: já estou sozinha, já há camisolas para mais crescidos (não exclusivamente bebés) e... agora também temos mantinhas. Não tricotadas, mas cosidas.

A vinda para o Panamá dificultou-me bastante o acesso à fabulosa matéria-prima que existia na Argentina: a lã de merino lá é tão boa que é quase toda exportada, sendo até difícil encontrá-la no comércio tradicional. Aqui no Panamá, terra de Verão todo o ano, não existem lanifícios (não posso censurar!). O que existe, e muito, é algodão. Ou melhor, tecido de algodão.

Enfim, encurtando a história, a acrescentar a todas as razões acima e para combater a sazonalidade inevitável da lã, criei umas mantinhas a partir da ideia do lenço dos namorados, na versão paixão pelos pequenos príncipes e princesas que entram nas nossas vidas.

São bordadas à mão (e à mão levantada, sem desenho prévio) e cosidas à máquina. Algumas são acolchoadas (aptas para climas mais frescos) e outras não, com flanela de algodão para dar apenas algum aconchego. São muito fofas, mas também divertidas, e estão à venda através do site do abbrigate*. Ide, ide ver!

Mais fotos aqui.