Lembro-me de quando era mais miúda que as viagens de avião eram, para mim, uma festa. A viagem, em boa verdade, já era parte das férias. O aeroporto, os destinos longínquos e exóticos, o check-in e as etiquetas, os cartões de embarque e os passaportes, tudo isso era uma antecipação da euforia das férias.
Hoje, confesso, cada vez me custa mais entrar num avião. Talvez seja porque o faço com mais frequência, mas suponho que a minha idade e o cada vez menor conforto da viagem também sejam factores a contabilizar. Lembro-me dos tempos em que levava uma garrafa de água de litro e meio, comprada no supermercado (e não com o preço pornográfico a que é vendida nos aeroportos), e isso não fazer nenhum guarda levantar o sobrolho. Lembro-me de talheres de metal (ainda os há, bem sei, mas já começam a ser espécie rara) e de jogos distribuídos às crianças. E agora, só conheço o desconforto, o pouco espaço, a falta de posição na cadeira. Às vezes calha-nos um daqueles Airbus maravilhosos com ecrã individual e cabine com redução de ruído; às vezes calha-nos ter o lugar do lado vazio; outras vezes, não.
Pois desta feita vinha eu entalada entre a janela e um senhor obeso. Sim, obeso, ao ponto de não conseguir baixar a mesinha e de ter de se levantar para poder carregar em qualquer dos comandos colocados no apoio de braços. Foi quase dramático: o senhor, super incomodado com a falta de espaço, nem sabia o que fazer. A páginas tantas deixou cair qualquer coisa e foi um sarilho para a recuperarmos. Eu não tinha apoio de braços (o senhor precisava dele como espaço vital, temos de nos lembrar que, afinal de contas, ele mal cabia na cadeira) e praticamente não alcançava o espaço à frente do meu lugar. Tinha mesmo pouca margem de manobra.
Com o jantar e o tabuleiro que não chegava a assentar na horizontal - o volume ventral não o permitia - comecei a sentir claustrofobia. A verdade é que não estava a ver bem como íamos fazer uma viagem de treze horas naquelas condições.
E aqui entra a questão: as pessoas mais volumosas devem ou não comprar dois lugares?
Vou falar da minha experiência: por favor, sim.
Sabem aqueles bebés que estão tão incomodados com o voo que choram as tais treze horas sem parar? Os pobres pais já não sabem o que fazer e as pessoas à volta já bufam de impaciência? Pois estar ao lado de um passageiro volumoso, para mim, é pior. É pior porque fico sem espaço. Com barulho enfio uns tampões nos ouvidos e sigo para bingo; sem espaço, dá-me uma sensação de estar fechada (que estou) que me deixa à beira do pânico.
Como é evidente, isto é uma discriminação das pessoas mais volumosas. Eu sei, eu sei. Mas também sei que nem elas, nem eu viajamos com um mínimo de conforto quando temos de estar de coud-à-coud (fica mais bonito assim) por um bocadinho de apoio de braço.
Em jeito de conclusão, e só para descansar as leitoras mais preocupadas (aham... suponho que vocês sabem quem são), mudei de lugar para outra fila mais atrás, com direito a pernas na coxia e lugar livre ao lado. Muito, muito melhor.
VALENTINE 25 - final round-up
Há 1 dia