terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Afinal é possível

O taxista que nos levou de casa até ao aeroporto de Ezeiza alvitrou, a meio caminho entre a cidade e o aeroporto, aquilo que tantos outros alvitram, com a pontaria que é comum a quase todos os outros.

Brasileiros ou italianos?

(suspiro imperceptível)

Ni uno, ni otro: portugueses!

E aí já estávamos preparados para o que é costume: o ser vizinho (por ter ascendência espanhola), o ter estado quase lá (porque viajaram a Espanha) ou então a vertente futebolística da coisa, com Cristianos Ronaldos, Dimarias e Aimares.

Mas não:

O meu apelido é português, é Coelho! O meu avô era português!

E daí em diante foi um desfiar de pérolas portuguesas, desde o nosso "pollo a la portuguesa" (que até hoje não sei como é confeccionado) até à canção popular que tinha manjericos a rimar com "aqui eu não fico" e, a dada altura, um "dá-me a tua mão". Eis senão quando o nosso taxista, uruguaio de Montevideo, neto de português, diz numa dicção perfeita o fonema impronunciável por quase todos os não-lusófonos: a "mão", a este taxista, saiu perfeita.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

É quase Natal!



E como tal, por cá preparam-se malas e ultimam-se detalhes pré-natalícios. Sobre a cama do quarto das visitas, tudo o que me fui lembrando que temos de levar. E já é muito! E ainda não é tudo...

Mas o importante é que nos próximos dias as circunstâncias extraordinárias que são estar em Portugal, a comer feijoada, a namorar com a sobrinha e a pôr a conversa em dia com pais, irmãs e amigos farão com que as minhas contribuições para o "Entre..." sejam mais esporádicas.

Assim sendo, a todos quantos por aqui passarem, desejo Boas Festas, sejam elas no frio ou no calor.

Até breve!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quem vive numa cidade cosmopolita, tal como eu...

...pode ser que tenha a sorte que temos nós, os habitantes desta rua. Explico: o empregado municipal que aqui passa todas as manhãs, vulgo "varredor de rua", também é cantor. E não só é cantor como é um excelente cantor que não nos priva do prazer de o escutar. Enquanto trabalha, canta, enquanto canta, trabalha. E nós ouvimos. Eu ouço, pelo menos.

Sugeriram-me que gravasse a sua voz para a colocar aqui. Se conseguir ultrapassar as minhas limitações técnicas, assim o farei.

E lembrem-se: Carlos Gardel começou assim, enquanto trabalhava no mercado porteño do Abasto.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Grande concerto!

O palco estava instalado sobre umas escadas que vão do pátio até à entrada de um dos pavilhões onde se realizam espectáculos

Ao lado, a tal de pantalla onde eram projectadas as imagens de Liniers a pintar. Nesta música, "Hindue Blues", projectaram um quadro que o artista fez e ofereceu ao outro artista, o da música.

Na sexta-feira passada fomos a um concerto fabuloso: Kevin Johansen+The Nada+Liniers. As duas primeiras parcelas desta soma são os músicos; a segunda, um cartoonista, que está nos concertos a desenhar e a pintar ao vivo e a cores, para nosso deleite. Em cima da mesa dele instalam uma câmara e projectam essas imagens num ecrã gigante (já ia escrever "numa pantalla gigante", mas corrigi a tempo).

Ora como todos as letras das músicas são muito divertidas, as melodias e os arranjos das ditas são muito bons, a banda é excelente e todos, mas todos são rapazes muito bem dispostos, o concerto resultou em três horas de gargalhada sem parar e muitas cãibras nas bochechas.

A páginas tantas, e como relata aqui o próprio Liniers, e podem comprovar aqui em filminho no youtube, vocalista e cartoonista decidem inverter os papéis.

Quem segue o blog de Liniers sabe que ele tem uma guitarra desde o aniversário e que o pouco que sabe tocar não alcança para muito mais que um par de acordes do Knocking on heaven´s door... mas nem mesmo assim o rapaz se descaiu, para gáudio da plateia, que ria e aplaudia sem parar.

Não sei qual a agenda de concertos para o ano que vem, mas se alguém os apanhar numa cidade perto de si, é mesmo um concerto a não perder. Amanhã tocam em Asunción, no Paraguai, para o caso de interessar a algum destes leitores. Fora eu uma fã mais dedicada e lá estaria...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Claudine Caron

chez-Claudine.jpg

Nos idos de 2000 estava de viagem com um casal amigo, regressando a Lisboa depois de uma estadia no sul de França. Com algum receio disseram-me que teríamos de parar para visitar uma prima afastada que vivia numa aldeia perto da fronteira espanhola, que teríamos de lá ficar a dormir e que assim só chegaríamos a Lisboa um dia mais tarde. Foi coisa que não me preocupou, até porque para passeio estou sempre pronta.

A verdade é que essa noite em casa da prima foi um daqueles momentos em que a vida muda um bocadinho, ou talvez até muito. Ao princípio estava preocupada por me sentir vagamente intrusa pois a prima não sabia que eu estava a viajar com eles. Mas rapidamente se dissipou tal sensação: a conversa ao jantar e depois do jantar, a noite bem dormida, embalada pelo som do Atlântico ao alcance da mão e o pequeno-almoço do dia seguinte fizeram daquelas poucas horas um momento absolutamente inesquecível.

Quando cheguei a Lisboa, recebi uma carta da nossa anfitriã a perguntar-me porque não havia escrito no livro das visitas e a pedir-me para o fazer a posteriori. Fiz então esta ilustração, que lhe enviei numa cartinha para ela colar no livro.

A prima chamava-se Claudine Coron e morreu esta semana. Depois deste encontro, nunca mais a vi, mas também nunca mais a esqueci. Esta é a minha homenagem a esta pessoa que em tão pouco tempo me deixou uma impressão tão forte. Bem haja e que descanse em paz.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Argentinizada

Para além de já ter descartado o "tú" e só usar o "vos", eu cebo e bebo mate, digo buendía em vez de buenos días e nunca, por nunca ser uso a palavra c...er, que em Espanha serve para tudo, desde apanhar, agarrar ou tomar.

Mas, apesar de argentinizada, uma pessoa não esquece de onde vem e quem é português, português fica. É o que prova a imagem abaixo:

Pastéis de Feijão de Torres Vedras acompanhados de um mate amargo, à verdadeira gaúcha!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ah, como é bom voltar a "casa"...

E por "casa", entre aspas, quero dizer "Brasil". Sim, ir ao Brasil é como voltar a casa. Porque é assim que me sinto quando vejo o mar, os telhados de telhas, a calçada portuguesa (não sei se no Brasil a chamam de "portuguesa"; por favor não levem a mal a minha falta de alternativa na nomenclatura!).

Apesar do tempo ruim, ou do mau tempo, para quem preferir, que isso agora era para estar de short e camiseta, como me garantiram as minhas fontes, os quase quatro dias passados no Rio foram... óptimos. Foram mesmo cheios de comida boa, de passeios melhores e da companhia dos amigos, o que faz de qualquer visita a outra cidade uma experiência inesquecível. Já da outra vez tinha sido maravilhoso e desta as altas expectativas que tinha não ficaram defraudadas.

Na quinta saímos daqui do centro da cidade, do Aeroparque, rumo ao aeroporto de Montevideo. Experimentámos voar pela Pluna e não nos desiludimos. A escala no Uruguai é muito curta mas faz-se sem problemas, dado que os passageiros são deixados numa mini-salinha (mini, mas bem apetrechada de Duty Free, não que eu seja fã) e os quarenta minutos de espera passam num instante.

Chegados ao Galeão, foi uma alegria poder falar português. Talvez de forma mais pausada, mas é óptimo poder falar a minha língua e ser compreendida, sem ter de estar sempre a traduzir.

saltinho no Museu em NiteróiSaltinho no Museu de Arte Moderna de Niterói, célebre projecto do Arquitecto Niemeyer. E muito fotogénico, não é?

o mítico orelhão O Paulinho telefona à C, num mítico orelhão de Ipanema.

decorações natalícias, brazilian style Decoração natalícia de montra de Ipanema. Quiçá o chinelo da Garota?

Visita ao Brasil, sobretudo se o tempo está mau e a praia não é a opção que mais ocupa o nosso tempo, não está completa sem falar da gastronomia. Ah, e aqui... aqui o Brasil tem cartas para dar, sobretudo com o déficit de oceano, peixe fresco e de saborzinho a feijão. Já para não falar nas sobremesas, apesar de ser mais chegada a salgados que a doces.

água de coco na praia, à noiteA água de coco não podia faltar, né não?

"A" feijoada no Bar do Mineiro, em Santa Teresa"A" Feijoada no Bar do Mineiro, no bairro de Santa Teresa. O bar, mais próximo de uma tasca que de um bar propriamente dito, estava cheio, cheio, o que só atesta a sua qualidade.

casquinha de siriCasquinha de Siri na Tia Penha, nos arredores do Rio.

bobó de camarãoBobó de camarão, também na Tia Penha. Resta-me referir que voou. Desapareceu. Evaporou. Foi-se. Em menos de nada.

queijinho de coalho na brasa, à beira da praiaQueijinho de coalho assado na brasa, à beira da praia. Sol, água de coco e queijinho que vem ter connosco? Pode-se desejar mais na vida?

Domingo de manhã o sol espreitou, ainda que de forma envergonhada, e pude molhar as pernas nas águas do Atlântico Sul, mais ao norte que Cariló. Vesti-me a preceito e tudo, mas depois o mar revolto e um fundão na rebentação actuaram como dissuasor aos meus desejos de um mergulho completo.

saltinho na praiaAh, a praia!!!! O oceano... o mar revolto, as ondas, a água fria, a espuma branca! É o meu déficit de mar a falar mais alto!

De "casa", voltámos a casa. Também foi bom chegar.

P.S. Faltam-me as fotografias para documentar a cocada. Mas, gente, eu não sou chegada a doces e olhem que com este não pude resistir! Mnham, mnham!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Há dias assim

Hoje o dia começou com uma notícia triste e o peso da distância e do oceano que me separa de Portugal fez-se sentir com força. Queria poder ter uma máquina de tele-transporte para estar em Lisboa esta noite e poder acompanhar os amigos durante o dia de amanhã. Não sendo possível, que não é, espero poder dar-lhes um grande abraço quando nos virmos, daqui a um mês.

As cores do dia foram mudando com a ida à aula de pintura, onde hoje sucedeu uma coisa maravilhosa. Hoje tivemos a última aula do ano e o exercício que fizemos foi com a modelo a dançar. Poses fixas? Nada. Dança, poses elegantemente efémeras, pincel, trincha, espátula e mãos a funcionar, desligadas do cérebro.

No último exercício o professor pôs uma música que eu levei e a resposta das pessoas foi, para a descrever de alguma maneira, electrizante. As pinturas de todos os participantes foram diferentes e todos, todos comentaram na análise final que a música tinha sido inebriante e factor decisivo no resultado.

Qual foi a música? A banda sonora original do documentário "Portugal, um retrato social", de Rodrigo Leão.

Não me canso de a ouvir.

Acrescento aqui, já que hoje a música está tão presente neste blog, que dedico aos meus amigos a magnífica obra "Requiem for a friend" de Zbigniew Preisner. Não resolve, mas consola.

"Ceguera"

Na sexta-feira fui ver o filme "Ceguera", a adaptação cinematográfica do romance "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Para resumir: o realizador, Fernando Meirelles, e restante equipa estão de parabéns pelo magnífico trabalho. O filme é tão potente, tão cru, tão feio, ao mesmo tempo com momentos de extrema beleza e ternura, numa alquimia perfeita. A maneira como são exploradas as relações humanas (coisa que já vinha do livro, obviamente) é de uma simplicidade maravilhosa.

Ah, como é bom poder ver coisas destas!

Buenos Aires by night (dia 30)

Buenos Aires by night_30

E assim se conclui esta série de trinta imagens da face nocturna desta cidade que me acolhe, uma cidade grande, gigante mesmo, para os meus parâmetros, cheia de coisas bonitas e de coisas menos bonitas para fotografar.

Quem me conhece sabe que eu não iria resistir à tentação de pôr aqui o Centro Cultural Konex, sobretudo para fechar esta série com chave de ouro.

No próximo dia 12, lá estarei para ouvir Kevin Johansen e seus compinchas (em arranjando bilhetes).

domingo, 23 de novembro de 2008

Buenos Aires by night (dia 29)

Buenos Aires by night_29

Sobre este restaurante, o Sucre, já aqui falei. Voltámos lá recentemente com uns amigos mexicanos, que se deliciaram com o lugar e a refeição.

(Não sei porquê, mas este Buenos Aires by night anda muito relacionado com esta temática... por que será?)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Buenos Aires by night (dia 28)

Buenos Aires by night_28

Para quem já cá esteve, uma pequeníssima tortura: gelado de banana, hmmmm...

Para quem ainda não esteve: visita a Buenos Aires que se preze tem (pelo menos) um gelado de banana do Freddo. Não importa a dieta nem se está frio lá fora. Banana do Freddo é banana do Freddo e não se fala mais nisso.

Coisas chiras

Hoje falei por skype com a minha sobrinha, que me disse muitas vezes, com muito entusiasmo, gesticulando muito para a câmara do computador:

"Biiii, tenho muitas saudades de tiiiii!"

C, eu também tenho muitas saudades tuas.

Felizmente já falta pouco para o Natal.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Boliviana

Hoje vinha pela rua e encontrei uma senhora, talvez boliviana, a vender verduras. Nada de novo até aqui. O que me chamou a atenção é que tinha umas favinhas com muito boa cara. Voltei atrás e perguntei-lhe a quanto as vendia. Com cinco pesos, nada mais, trouxe um belo saquinho de favinhas já descascadas. As que vêm na vagem, gosto de as separar enquanto falo com alguém: é daqueles prazeres que têm mesmo de ser partilhados, senão não são prazeres verdadeiros.

Voltando à senhora, talvez boliviana, talvez peruana, quiçá paraguaia, estendeu-me o saquinho para as mãos, fez-me um sorriso luminoso, agradeceu-me a compra e perguntou-me se eu era boliviana.

Não sei se foi o sorriso dela, se a pergunta, se o desejo de que le salga muy rico, señora!, a verdade é que fiz o resto do caminho até casa com um sorriso na cara.

(Consideração aparentemente lateral: quanto terei eu perdido nos anos macaenses por não falar cantonense!)
Para quem perguntou o que acontece aos puzzles cá em casa, depois de estarem terminados, aqui vai a resposta:





Que é como quem diz: divido-o em placas do tamanho da caixa, ponho uma folha de papel por baixo (a maioria das vezes são duas folhas A4 coladas, à falta de uma folha A3) e coloco as camadas qual lasanha dentro da caixa.

Se me apetecer fazer o puzzle outra vez, desmancho estas plaquitas. Se me apetecer pendurá-lo na parede (coisa que não costuma acontecer, mas quem sabe um dia ainda venho a ter uma casa imensa, cheia de paredes enormes e brancas, sabe-se lá), é mais fácil que refazer do zero.

E é isto. Espero ter esclarecido as tuas dúvidas, Fungagá!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pirraça

Mnham.
É. Admito. Estou a fazer pirraça. Esta é a fruta que ando a comer a toda a hora.

(Na verdade só posso fazer pirraça porque aqui há uns meses atrás andava eu encasacada, tal como quem agora está no hemisfério norte. Além disso, as temperaturas estivais são de pouca dura porque em breve eu própria estarei encasacada a cantar músicas de Natal e a dar ti-ti-ti à sobrinha. Queixo-me? Nada. Já falta pouco!)

Buenos Aires by night (dia 27)

Buenos Aires by night_26Mesmo durante a semana, as noites de Verão são para ser aproveitadas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reimperdível

Quem ainda não tem Cool Iris, clique rapidamente aqui, siga as instruções e prepare-se para uma nova experiência de internet. Para quem faz pesquisa de imagens e de filmes, é mais do que imperdível. É reimperdível, como se diria por cá.

Buenos Aires by night (dia 26)

Buenos Aires by night_26

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Buenos Aires by night (dia 24)

Buenos Aires by night_24

E porque é do interesse comum, relato aqui o diálogo que mantive ontem com um dos professores de salsa, na Viruta. Aos inevitáveis De dónde sos? e Qué hacés acá? respondi que vine con mi marido (para Buenos Aires, e reparem no uso de "mi marido"). A resposta entrou directamente para o top-Argentina, apenas superada pelo episódio Bombon Suizo: "Y tu marido se molesta si te entregamos en la mañana siguiente?"

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Não está com nada

É que não está mesmo. Tem algum jeito eu ficar doente precisamente quando estou sozinha em casa? Se toda a gente sabe que a única vantagem de uma constipação é ter mimo extra e chazinho que vem ter comigo sem eu ter de me levantar... Está mal.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Missão: cumprida!



Sim, senhores ouvintes (ou leitores?), este puzzle foi concluído. Foram 3000 peças, algumas ajudas, uma ajuda grande (sim, de certa e determinada pessoa cujo nome não vou revelar aqui), muitos serões, algumas tardes de Domingo. O melhor do puzzle é mesmo não ter pressa de o fazer: quando o acabamos, (quase) deixa saudades.

Para que fique claro, quem ganhou o concurso "quem vai encontrar Portugal? e Buenos Aires?" fui eu. Pura e elementar questão de justiça. Ainda bem que o acaso cooperou!

Ora aqui está Portugal:


E aqui, Buenos Aires:




Este é um detalhe de um dos painéis.




E o próximo é...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Buenos Aires by night (dia 22)

Avenida 9 de Julio. Agora há radares.

Ainda as eleições...

Só por curiosidade, vejam aqui como são os boletins de voto em vários estados americanos.

(Voltem, boletins de voto simples, estão perdoados!)

Alegrias





É inevitável mencionar a vitória esmagadora do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Estas eleições tinham quase tudo para ser históricas, a começar pelo nível dos candidatos: à partida, qualquer um deles constitui uma considerável melhoria em relação ao actual presidente.

Mas passemos à frente: a vitória dos democratas deixou bem clara a vontade do povo americano e é com imensa alegria que vejo as reportagens na televisão e vejo gente feliz e contente com o resultado. Nem toda a gente estará feliz e contente (há muitos estados vermelhos lá no centro do país, curioso!), mas eu, pelo menos, estou. Estou contente. Acho que a diferença que este Presidente pode vir a fazer nos assuntos internos do país poderá ser tão importante quanto a mudança na política externa americana. E aí... aí, sim, interessa-nos a todos. Quer queiramos quer não, vivemos num mundo globalizado e o que se passa nos Estados Unidos também nos afecta a nós (a "nós" não-americanos, quero eu dizer).

A juntar-se a esta alegria, soube hoje que uma amiga ganhou uma importante bolsa de estudo, bolsa essa que ela mais que merece.

No meio de tantos cancros e crises financeiras (leia-se "más notícias"), hoje há motivos para sorrir.

Parabéns!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Episódios curiosos

Aviso: este post contém linguagem vulgar.

Não sei por que razão mas ultimamente tenho-me lembrado muito de um episódio anedótico que me aconteceu numa tarde luminosa de Novembro na baixa lisboeta. Lembro-me bem da data porque era o aniversário da minha irmã. Saí da faculdade e desci a colina até à zona das lojas da Rua Augusta, onde acabei por lhe comprar umas calças em padrão xadrez - estavam na moda, nessa altura.

Caminhava com o meu ar habitualmente alheado, a olhar para o magnífico céu azul que costuma coroar a cidade e a controlar vagamente o sinal do semáforo, esperando o bonequito verde para poder atravessar a estrada. Eis senão quando um velhote se chega a mim e me diz (nunca me esqueci das palavras dele):

"Menina, faz-me um broche."

Olhei para o lado e tinha um senhor de cabelo branco, ar bastante lavado e insuspeito e não queria acreditar. Olhei para o outro e vi uma pacata concidadã que encolheu os ombros e revirou os olhos. Veio o verde e atravessei a estrada, tentando deixar a experiência para trás. Só que a experiência não cooperou e acompanhou-me.

"Menina, ninguém tem de saber das nossas vidas, faz-me um broche. Tenho ali um quartinho numa pensão. Faz-me um broche", ia-me dizendo o velhote enquanto me perseguia Baixa fora. Sentia-me vagamente como se tivesse um auscultador de telefone gigante atrás de mim, que amplificava o som de uma chamada para uma linha qualquer de pornografia telefónica paga a peso de ouro. O homem não desistiu facilmente, até que perdi a paciência e lhe gritei qualquer coisa que me saiu no momento de estupefacção. E aí lá se foi embora, provavelmente para tentar a sorte noutro lugar qualquer.

Olhando para trás, o episódio dá-me uma tremenda vontade de rir que não consigo reprimir de cada vez que penso na frase mais repetida por ele. E na proposta da pensão. E do quartinho na pensão. E da descrição do que queria que eu lhe fizesse. Vá, ao menos tentou. Não teve sorte, mas tentou.

(Onde andará hoje?)

Buenos Aires by night (dia 21)

Agora que a temperatura começa a subir, as esplanadas enchem-se de gente. Gostei particularmente da localização oportuna do marco de correio.

sábado, 25 de outubro de 2008

Buenos Aires by night (dia 19)

Montra de uma das lojas predilectas do Paulo, que tem a particularidade de ter agora esta fotografia de calçada portuguesa. O coco que o senhor traz na mão faz-me pensar em Calçadão do Rio. De qualquer forma sabe bem ver estes elementos arquitectónicos tão familiares cá longe, ainda que seja só numa montagem fotográfica.

Buenos Aires by night (dia 18)

Café La Biela, um dos cafés notáveis de Buenos Aires.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mudou a hora

Mudou, mas que ninguém pense que foi uma coisa pacífica. Em Portugal já estamos habituados a um fim-de-semana em Março em que temos uma hora a menos para dormir, a partir do qual os dias são compridos. Em Outubro, temos um fim-de-semana em que temos mais uma hora para dormir e, a partir dessa data e até Março do ano que vem, os dias são curtinhos.

Cá a mudança da hora foi todo um tema amplamente discutido, com direito a debate televisivo no horário nobre, com especialistas em neurologia e bio-ritmo, já para não falar nos senadores de diferentes províncias, a favor e contra desta mudança da hora. Que não, que não se poupa energia coisa nenhuma. E que sim, que afecta tremendamente o bio-ritmo. E que terrível é só podermos jantar aí pelas onze da noite, já que só vamos para a cama à uma da manhã (alguém explique a estas pessoas que às onze da noite já muitos argentinos jantam hoje em dia e que jantar com luz do dia nunca fez mal a ninguém, veja-se nomeadamente na amostra que é aquela refeição chamada "almoço", realizada com luz diurna, e muitas vezes seguida pelo descanso a que chamam "sesta", muitas vezes sem correr a persiana).

As províncias mais perto dos Andes (salvo Jujuy) não mudaram a hora. Compreendo que o façam e basta que mencionem o simples facto de não fazer sentido que às oito da manhã seja de noite. Mas gente, por favor, discutam menos e façam mais. E ponham a novela; no cômputo final é mais interessante que o neurologista a mostrar a maquete do cérebro e a localização precisa do nosso relógio biológico.

Pequena nota: não vejo a novela. Mas já dá para entender que o debate foi mesmo pertinente.

Descobertas?

Há bocado estava a pentear-me antes de sair de casa e descobri aquilo que pensei ser um cabelo branco. O meu primeiro cabelo branco. Não é todos os dias que se descobre o primeiro cabelo branco e portanto pus-me a explorar a madeixa para tentar isolar o intruso.

Parece que não, que afinal foi falso alarme. Acho que estou a ficar loura.

Buenos Aires by night (dia 17)

Sushi no Irifune. Cuidado com a saliva a pingar!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Buenos Aires by night (dia 16)

Vista de uma das janelas do Centro de Exposiciones José Verdi, na Avenida Almirante Brown, no bairro de La Boca, durante a inauguração da exposição de pintura "Boedo Erótica"

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Buenos Aires by night (dia 15)

Fim-de-semana em Cariló

Os meus pés no Atlântico Sul.

O fim-de-semana passado foi prolongado devido à comemoração do Día de la Raza. Que raça se comemora, ninguém sabe; mas sabe bem comemorar com um dia livre, sobretudo se nos convidam para ir a Cariló, uma terra à beira-mar plantada a uns 400km de Buenos Aires.

Aceitámos com muita alegria o convite que nos foi feito e lá fomos por essas estradas fora, a caminho da costa atlântica.

No Sábado de manhã, enquanto viajávamos, o tempo estava maravilhosamente quente. Pensei com alegria no biquini que tinha posto à última hora dentro da mala. Mas assim que chegámos ao nosso destino, a temperatura começou a baixar e o resto dos dias foram passados dentro de casa, de lareira e aquecimento acesos. Mas nem o mau tempo estragou o propósito principal da viagem: ver o mar. Ver o mar e dormir a sesta, que com estas duas componentes se constrói um fim-de-semana de sonho.

Cariló é um lugar estranho: é como se fosse um condomínio fechado, mas não é nem condomínio, nem fechado. É uma vila com dois acessos, construída num pinhal. Aqui existem regras de construção e de ocupação do terreno e essas regras são respeitadas. A área de construção em cada parcela de terreno está bem definida e o limite da casa não pode chegar à beirinha da propriedade, o que significa que as ruas - não asfaltadas - têm uma aparência mais ampla.

Em Cariló existem zonas de hotéis, de comércio e residenciais bem integradas na paisagem; apesar disso, o centro não deixa de parecer levemente uma disneylândia, versão férias à beira-mar. Mas isso não lhe retira nem um pouco a sensação de descanso e de conforto da casa dos nossos anfitriões, que tão bem nos receberam. A parilla foi amplamente usada e o Paulinho colaborou com o seu novo prato de confecção superior, o risotto de boletos. Mnham.

E, sem saber ler nem escrever, hoje já é quinta-feira. Vivam as semanas de quatro dias!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Blog Action Day 2008: Pobreza

Este é o meu post para o Blog Action Day 2008.





O tema deste ano é "pobreza". Não é exactamente "luta contra a pobreza"; se fosse, não sei bem o que escreveria, já que tenho a sensação de que todas as coisas que temos feito (de um modo geral e também do ponto de vista particular) não têm surtido grande efeito. A pobreza continua a grassar e, ainda por cima com esta super crise financeira, a aumentar. Não querendo entrar pela temática da crise financeira ao abrigo da minha nova atitude o que é preciso é saudinha, menina, acho que uma das coisas que realmente carece de eficácia é mesmo a luta contra a corrupção. Acho que essa, sim, poderia ajudar bastante a combater a pobreza.

Dada a minha incapacidade-barra-falta-de-vontade de discorrer sobre a luta contra a corrupção, quero apenas contar o que senti ao visitar as minas de Potosí, na Bolívia, momento sobre o qual já aqui escrevi.

Casebres à entrada de uma das minas do complexo de Cerro Rico, em Potosí, na Bolívia.

Cabe aqui explicar, em modo de preâmbulo, que a cooperativa de mineiros abriu a mina ao turismo com o objectivo não só de dar a conhecer o seu trabalho mas também porque as receitas das visitas constituem uma grossa fatia dos seus rendimentos mensais. Para dizer de outra maneira, não foi o turista ou a perversa máquina do turismo que subiram pela montanha acima para ir explorar aquelas pessoas, mas sim uma situação de que ambas as partes beneficiam.

Acho que já todos contactámos com a pobreza, de forma mais ou menos próxima ou mais ou menos permanente. Mas nesta visita às minas contactei com talvez o seu pior aspecto: a total e absoluta falta de perspectivas de melhoria. Esta ausência de perspectivas é tão imensa e tão presente que me pergunto se aquelas pessoas imaginam sequer ser possível existir outras realidades. Admito que sou ingénua e que gosto de o ser. Não acho que aquelas pessoas sejam estúpidas, pelo contrário. Acho apenas que, pura e simplesmente, não sabem nem conseguem imaginar outra vida que não aquela, e isso é que é especialmente aterrador.

Foi nas crianças que mais notei a crueldade desta premissa: aos sete ou oito anos já têm uma camada de caliça incrustada na pele, que, juntamente com a sujidade, lhes forma uma espessa crosta e uma maior carapaça. Têm uma visão cínica da vida, do futuro e muita dessa acidez é canalizada para os turistas que os visitam. Fomos recebidos por meninos sem idade a mandarem-nos pedras com uma fisga, algo que, dado o contexto, equivale vagamente a cuspir na sopa. Mas ao aproximar-nos da entrada da mina percebemos melhor o que o futuro lhes reservou: tabaco, álcool e folhas de coca, uma mistura boa para os deixar atordoados e conformados com a vida. Para eles existe um buraco escuro cheio de pó, dinamite, arsénico e outras coisas que tais, que lhes garantem uma vida curta e um obstrução pulmonar crónica.

Foram estes miúdos sem caras, sem expressões e sem olhar que me fizeram tremer e desejar ardentemente chegar à cidade seguinte no nosso percurso, a cidade universitária de Sucre.

E cada vez mais penso: é certo que pobreza é não ter acesso a alimento e a água potável. Mas é sobretudo a falta de sonhos, de perspectivas de uma vida melhor e de acesso à educação. A pobreza está em todo o lado.

Buenos Aires by night (dia 14)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A devida homenagem

Na sexta-feira passada pudemos finalmente visitar a nossa amiga S., internada no hospital há um mês e meio com um diagnóstico, no mínimo, complicado. Não pensem, contudo, que foi uma ocasião triste, nem mesmo solene ou da circunspecção típica destas ocasiões. Foi - salvaguardadas as respectivas diferenças - como ir beber um café com uma boa amiga.

Não, não creio que ela esteja em negação; penso apenas que tem um espírito optimista e muito lutador. E, honra lhe seja feita, mesmo doente e com a cabeça cheia de peladas, continua a ser o máximo! Para além de bonita, tem um bom humor e não pára de contar piadas com a pinta de quem não entende porque é que tem tanta graça, mas tem.

Por achar que a futilidade e a superficialidade são sinais de muita força em momentos de adversidade, deixo aqui apenas um pequeno apontamento da conduta da S. E que fique bem claro que eu, em situações absolutamente normais, não tenho paciência para fazer (nem uma fracção de) o mesmo.

Ora a história é a seguinte: telefona-lhe o médico que lhe tinha feito a consulta domiciliária urgente com os resultados das análises, aí coisa da uma da manhã, e diz-lhe que se interne naquele momento. Nem no dia seguinte, nem daí a umas horas, mas sim imediatamente. Pois ela, mulher que é, cheia de espírito que é, foi preparar-se para o momento: tomou duche, aplicou banho de creme no cabelo, secou e alisou o cabelo, pintou as unhas dos pés e das mãos e depois foi acordar a mãe para a avisar que tinha de ir para o hospital.

Quem se cuida assim não é gago. Ou lá o que quer que seja que se aplique ao caso.

Que te mejores rápido, querida S. Te queremos y te esperamos para brindar con vos y con nuestro vino de Porto, como combinamos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A prova provada de que realmente sou maledicente e malvada


Ora aqui está a prova de que certa pessoa cujo nome não vou mencionar (mas a cujo corpo pertence a mão que vêem acima) me está a ajudar a fazer o puzzle. Sim, todas as minhas queixas eram infundadas (ou será que serviram de motivação para o esforço?) e, como tal, estou publicamente a retractar-me de todas as acusações perfeitamente infundadas que aqui fiz. (Para ler as acusações, que não são mais do que as habituais palermices que costumo dizer nesta chafarica, clicar aqui e aqui.)

Ora, posto isto, deixem-me guiar o vosso olhar para o facto de os dois anéis que servem para a representação do globo estarem já concluídos, bem como de quase todas as áreas à volta. Resta-nos o oceano e temos até um pequeno concurso entre nós para quem encontrar Portugal.

Espero, espero, espero ser eu a encontrá-la. Seria triste, irónico, indecente, incrivelmente triste, irónico e indecente, diria até totalmente triste, irónico e indecente que outra pessoa que não eu, qualquer outra pessoa entre os dois que aqui vivemos, encontrasse a peça do nosso (querido, saudoso e distante) Portugal, tendo em conta que eu me dedico a pescar, organizar e juntar pecinhas enquanto alguém faz o Benfica ganhar todos os campeonatos na playstation. 3000 pecinhas, não sei se já disse (mas nunca é demais repetir).

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Dave Matthews Band ao vivo, em Buenos Aires

Essa mancha desfocada que se vê no ecrã gigante é o próprio Dave Matthews, a cantar (e encantar) de corpo e alma.


Na sexta-feira senti-me a voltar aos meus anos de Universidade e fui a um festival de música, daqueles com revista das mochilas à entrada e casas de banho de plástico. Lama, esse componente tão importante dos festivais de música, é que faltava: a organização instalou uns módulos plásticos no chão que estavam húmidos, sim, mas não deixavam que puséssemos o pé no lodaçal que estava por baixo.

Ou não havia muita gente (opinião do Paulo) ou então a organização foi mesmo muito boa porque não demorámos tempo nenhum a entrar, a encontrar o palco e a colocarmo-nos a jeito para o concerto da Dave Matthews Band (doravante designada por DMB).

Quando comecei a ouvir e a gostar de DMB acho que ninguém à minha volta a conhecia, portanto tinha zero hipóteses de trocar galhardetes com quem fosse mais entendido do que eu. E também não havia a internet acessível como há hoje. Nesses idos de fins de noventa, conheci apenas uma amiga da minha irmã que tinha, gostava e trocava CD´s comigo para ouvirmos outros álbuns. E pronto, assim se foi cimentando o meu gosto pela música deles.

Vai daí, em 2007 decidem ir a Portugal, precisamente um mês depois de eu me mudar para a Argentina. Danados. E eu triste, só e abandonada, como os gelados, a pensar que a vida de uma fã é irónica e tal.

Eis senão quando vejo um cartaz do festival Pepsi Music cá em Buenos Aires com... DMB! Arrastei o Paulo e lá fomos.

Houve alguns percalços mas, resumindo, o concerto foi muito bom. Não conheço as últimas músicas deles (não compro música pela internet - pelo menos ainda - e cá não encontrei o CD novo) mas vibrei à mesma com elas. A presença deles em palco é, no mínimo, electrizante, energizante, vitalizante. O baterista teve do princípio ao fim do concerto um enorme sorriso na cara, coisa que pudemos apreciar nos ecrãs gigantes (onde o sorriso ganhava novas proporções gigantescas). Apesar de o saxofonista da banda ter morrido há pouco mais de um mês, têm com eles outra pessoa cuja exibição nada deixou a desejar e que encantou o público. O próprio Dave Matthews, vocalista e guitarrista, deu corpo e alma na actuação. Enfim, foi um espectáculo de som e cor que me deixou com um sorriso na cara, a mim e a toda a gente que ali estava. Realmente impressionante.

O aspecto negativo da coisa... bem, é um aspecto afectivo. Gostaria de ter assistido a este concerto em Portugal para o ouvir a dizer "boa noite" e "obrigado" em português. E também posso dizer que o público argentino é bom, mas acho que não se comparam com a energia que sai do público luso. (Esta é uma afirmação completamente idónea e sem a mais pálida sombra de preconceito por eu ser... enfim, por eu ser portuguesa.)

Viva DMB! Que concerto espectacular! (eu achei, o Paulo menos, mas também estava com déficit de sono e era sexta-feira, um dia chato para animação ao serão)

Come and relaaaax my heaaaaaart
put your troooooubleeees down...
You don´t need to bear the weight of your worries
Let them all fall away...