Como qualquer pessoa que abra um guia de Nova Iorque sabe, a cidade tem muitos museus, qual deles o mais apetecível. Então museus de arte, arte aplicada ou design, nem se fala: a escolha fica difícil. Por isso, decidi impor a minha regra de um museu por dia e segui para bingo, isto é, escolhi os museus que mais queria ver. Obviamente deixei muita coisa para trás, o que foi uma pena, mas o que vi, vi com atenção, dedicação e tempo até de me arrepiar e largar a ocasional lagrimita. Acho que a escolha foi acertada.
O primeiro museu que visitei, o
Guggenheim, tem aquela estrutura em espiral que já conhecia de mil filmes, fotografias e reportagens. Poder-se-ia pensar que é uma desilusão quando lá chegamos, que já nada é surpresa, que só lá vamos "confirmar", em vez de descobrir. Mas não. É lindo e arrepiante estar dentro daquela construção.
Confesso: não delirei com a exposição em si,
"Haunted". Não que não seja interessante. Só não é o tipo de expressão artística que me chama. Por outro lado, a exposição estava narrada partindo do piso térreo para cima, subindo os seis andares na estrutura em espiral. Ora, muitas vezes, as plaquinhas com a informação sobre a peça estavam à esquerda da respectiva peça, ou seja, acima da dita. Isto significa que o observador é forçado a subir para ler a placa e a voltar a descer um bocadinho para apreciar a peça. Uma canseira.
Mas, e há sempre um mas, nas salas anexo do museu estavam algumas exposições temporárias. A de
Julie Mehretu deixou-me completamente aparvalhada, encantada, hipnotizada e mesmo fantabulizada. É um conjunto de pinturas gigantes onde a cada olhar, e a cada distância, se descobre um novo nível de leitura. Fiquei muito tempo naquela sala branca, observando as pinturas e as pessoas que olhavam, se aproximavam, se afastavam dos quadros gigantescos, que nos engoliam e regurgitavam. Murmurei várias vezes: "compro todos, podem entregar lá em casa".
No dia seguinte, a escolha recaiu sobre o
Museu de Arte e Design, ou
MAD (aprecio o sentido de humor). Comparado com outros gigantes do panorama local, este museu é pequenino, característica que me agrada sobremaneira. Tirando a falta do ocasional banquinho para o descanso periódico, é um museu com o tamanho perfeito, já que podemos ver todas as exposições sem nos fartarmos de tanta cultura. Porque a cultura, meus amigos, dá muita bolha no pé, essa é que é essa.
Uma das exposições era sobre (pausa para o pigarreio) objectos feitos com coisas mortas. Chama-se
Dead or Alive e, apesar de ser, como explicar,
estranha, é muito, muito interessante. Há objectos que são verdadeiramente lindos, e só quando percebemos que aquelas coisas são insectos verdadeiros (nhaca) ou penas de pombos (nhaca nhaca) é que sentimos - literalmente - comichão.
Gostei também da mostra sobre
bicicletas feitas à medida: quem diria que seria tão interessante?
A loja deste museu é uma terrível perdição: entre outros livros, encontram-se à venda catálogos de exposições antigas - e qual delas a melhor. Para terem uma ideia, a minha mala voou para Nova Iorque com quatro quilos (não estou a exagerar) e voltou com mais vinte. Livros. Livros. Livros. E só comprei os que sabia que não ia encontrar por internet.
O último museu que vi foi o
MoMA. Zanguem-se os puristas do
Met; não deu. Estive lá da outra vez em que fui, em miúda, com os meus pais, e tenho a imagem de um museu gigantésimo, com muita arte egípcia (de que gosto) e muita, muita ala para ver. Esqueçam a bolha do pé. No
Met, é mesmo chaga.
Posto isto, fui ao
MoMA. Muito bem acompanhada, naveguei por todas aquelas salas, pisos, escadas, tudo lindo, tudo branco, e tirei partido do horário ampliado às quintas-feiras, só durante os meses de Verão.
Também aqui, muitíssima emoção ao ver
As Oliveiras, de Van Gogh e, mais tarde,
La Danse (I), de Matisse. Bem a propósito, em Julho abre uma exposição só, só sobre Matisse. Um privilégio!
Parece que neste museu se concentram todas as obras que nos aparecem, ou já apareceram, nos compêndios de história da arte contemporânea: desde Picasso a Frida Kahlo, passando por Piet Mondrian e Brancusi, nesta colecção há de tudo, bem exposto, bem narrado no audio-guia gratuito e com muito espaço para gozar cada uma das obras. Lindo, e a não perder.
As exposições temporárias também são muito boas, nomeadamente as que são sobre design:
"Shaping Design Modernity",
"Action! Design over time" e
"What was good design?MoMA´s message 1944-56"
Felizmente já nem entrei na tentação da loja do museu (vinte quilos em livros, eu seja santa), mas diz que o
brownie do bar é muito bom.
Missão museológica cumprida, fui às
Nações Unidas. Mas isso é conversa para outro dia.