quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Coisas da Argentina de que não vou ter saudades

Alguns autoclismos de Buenos Aires que não funcionam bem (e não vale a pena explicar mais).
O vocábulo usado lá para designar “sanita”: vá-se lá saber porquê, é “inodoro”.
Não vou ter saudades de comprar um frigorífico, uma tarefa bem difícil que necessitou de três tentativas – e finalmente tivemos sucesso porque estava a chover. É um processo complicado: depois de escolhido o modelo e confirmando que existe um exemplar em stock, chegou o momento do pagamento. Existe uma série de incentivos para o consumo, tal como infinitas prestações sem juros e descontos valentes para quem paga de uma vez só (ainda que a crédito). Ora estes dois maçaricos, vindos da terra dos multibancos e do “verde-código-verde”, estavam convencidos de que aqui seria algo semelhante. Não podíamos estar mais longe da verdade: os movimentos com cartão de débito têm um limite máximo por dia, limite esse que só compra meio frigorífico. Teríamos então de fasear os pagamentos em vários dias e deslocar-nos à loja igual número de vezes. Além disso, a mercadoria só seria entregue quando todos os pagamentos estivessem efectuados. Ora bem, tentemos o cartão de crédito e paga-se tudo de uma vez. Bem, mas o cartão retira todos os descontos que faziam da escolha daquele modelo naquela loja uma opção realmente vantajosa. Mudança de loja. Repetição do processo. Pagamento com cartão de crédito necessita de documento de identidade que ateste a nossa boa fé. Dado que o passaporte do Paulo estava retido para trâmites do visto, teria de ser o nosso velhinho BI. E não. BI, ainda que cheio de selos brancos, plastificado e em boas condições, não serve. Desistimos e fomos jantar ao restaurante Los Pinos, instalado numa antiga farmácia e onde a comida é booooooooa. Os meus tagliatelle al verdeo, regados com um bom vinho argentino, estavam deliciosos e ajudaram a minimizar a frustração. Passaram-se alguns dias (e mais tentativas) até que, num dia de muita chuva, a loja aprovou rapidamente o desconto proposto, e, com a correspondente autorização bancária (e passaporte) lá fizemos a transacção. Tivemos de comprar o modelo acima do que queríamos, dado que estava esgotado. E a partir daqui começámos verdadeiramente a sonhar com arrumar a manteiga e comprar víveres frescos e – como também ia uma máquina de lavar roupa – finalmente ter as camisolas sem cheiro de detergente industrial. Mas aventura que se preze não termina assim tão facilmente, e qual não é o espanto quando constatamos (eu e os dois senhores das entregas) que o frigorífico não passa pela porta de serviço e como tal não passa para o monta-cargas. Entra na porta principal, mas não no elevador, nem sequer na porta que dá acesso à escada de serviço. Pura e simplesmente, o frigorífico não cabe. Pânico. “E se, talvez se, talvez desembalando o frigorífico aqui no rés-do-chão...”. Uma meia hora depois e quatro lances de escadas mais tarde lá chega o bendito electrodoméstico, sem um arranhão sequer, ao quarto andar da Rodríguez Peña. Tenho de agradecer infinitamente a quem carregou aquele enorme monstro até lá acima e apenas me pediu “un vasito de água, señora, seria perfecto”.

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