quarta-feira, 14 de março de 2007

Estrangeiro em toda a parte

Ontem foi apresentado na Cinemateca um documentário realizado por Luís Campos Brás. Não sabia nada sobre o realizador pouco sobre o filme: um documentário filmado em Macau, por um rapaz que esteve lá uma temporada, com uma série de pessoas minhas conhecidas, com o título Voltar a A-má-gao: ponte entre uma fuga e um regresso. Admito que as expectativas eram poucas... e talvez por isso me tenha surpreendido agradavelmente. Gostei, gostei, só não sei se fui uma observadora isenta por conhecer espaços, pessoas e as sensações descritas...

...mas adiante.

O documentário mostra uma série de portugueses, na casa dos 20, 30 anos, que foi em miúdo para Macau a acompanhar os pais (tal como eu), veio para Portugal fazer o curso superior (alguns na minha faculdade!) e depois voltaram para lá. Cada qual tem suas razões, todas mais ou menos familiares.

O que mais me fez pensar, ainda assim, foi a parte em que reflectiram um pouco sobre o ser-se estrangeiro nos sítios. Ora... dava matéria para três ou quatro dissertações, é evidente, portanto vou tentar manter a reflexão sucinta. Diziam que se sentiam muito bem sendo estrangeiros em Portugal e que, quando se começavam a habituar a viver cá e a sentir-se "portugueses", que havia chegado a hora de partir outra vez. Residentes em Macau há já uma boa meia dúzia de anos, sentiam-se eternos estrangeiros.

E aqui está onde quero chegar. Agora que vou a caminho da Argentina, confesso que me sinto algo ambivalente em relação ao ser estrangeira. É uma posição muito cómoda, muito confortável, pois posso gozar as coisas boas que o país me oferece e simultaneamente distanciar-me dos aspectos negativos do sítio. Diziam lá no documentário que esta postura, para além de ser muito cómoda, era "oportunista e, paradoxalmente, de grande responsabilidade". Confesso que não alcancei a parte da responsabilidade; para mim parece-me precisamente o contrário, a sacudidela da água do capote. Parece-me que se aproveita o bom e se olha com alguma sobranceria (eventualmente "europocêntrica") para o mau.

Preocupa-me, é só isso.

2 comentários:

fungaga disse...

Bem, acho que aproveitar as coisas boas e evitar as más é o que fazemos sempre, em toda a parte e ainda mais quando não somos estrangeiros. Mas ser desenraizado é difícil de gerir, pelo que vejo à minha volta. Parece que as pessoas estão sempre numa grande ansiedade para rever as pessoas antigas, com pena de perder este ou aquele evento, e que isso às vezes não é compensado com as pessoas que se vão conhecendo nos sítios novos.

Anónimo disse...

Compreendo a posição do filme mas honestamente acho que depende de cada um de nós. Retirar o melhor de cada lugar é natural pois buscamos aprender algo novo, interactuamos com os Macaenses ou Argentinos que nos mostram os seus lugares favoritos, levam-nos a comer a restaurantes incríveis que ao final de um tempo fazem parte também do nosso ambiente. Mas creio que também existe quem tente compreender os problemas que existem no país, através de ouvir os amigos e colegas que aí vivem. E usa a sua voz como meio de explicar o problema ou de ajudar, nem que seja uma pessoa, a ultrapassar a situação que vive. Poderá não ser eficiente mas é um primeiro passo para o caminho correcto pois se todos tocarmos um par de pessoas, com o tempo todo um país poderá ser influenciado.