segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Calendário do Advento, dia 4, ou "tradições natalícias de outras partes")

No Sábado passado fomos convidados para ir rebentar a tradicional piñata navideña. Não tirei fotografias, mas aqui poderão ver o respectivo aspecto.

Assim, sem saber ler nem escrever, partimos nós para a festa da piñata, na total ignorância sobre o que esperar - e mesmo sobre o que levar.

Chegámos a um dos muitos condomínios fechados de Costa del Este - que praticamente parecia uma aldeia do Natal, já que as casas todas iguais tinham quase todas renas, trenós e senhore de vermelho insufláveis por todos os lados. Ali, sim, já se vive o Natal, como que ignorando pacificamente o calor que o Pai Natal deve estar a passar com aquele traje vermelho tão abrigado.

Quando chegámos a casa do nosso anfitrião deparámo-nos com uma imensa festa, com gente muito aperaltada, DJ e grandes colunas e, no meio, a famosa piñata.

O significado da dita é muito interessante e curioso: tem sete picos, que representam os sete pecados mortais (alguém os sabe enumerar?). Uma pessoa de olhos vendados (símbolo de fé) usa um pau - a ferramenta de Deus para combater os pecados - para rebentar a piñata. Quando isso acontece, de dentro saem os frutos da erradicação dos pecados. Neste caso, saíram pequenos brinquedos (bolas, apitos e ioiôs) e muitos doces (chocolates e pastilhas elásticas). Diria mesmo que estes frutos originam o pecado da gula!

Mas a gula-gula, que é como quem diz a "gula-guleira", veio mesmo com o jantar, que estava perfeitamente delicioso. Os anfitriões, mexicanos, convidaram-nos a todos para um convívio de tacos, com as famosas tortilhas de milho e diversos recheios para as acompanhar. O mole (febras de frango em molho de chocolate) estava de lamber as pontas dos dedos e chorar por mais e o puré de feijão era pura poesia. A guacamole estava também deliciosa - e como não gostar de uma boa guacamole, ainda por cima feita por quem a sabe mesmo fazer.

A sobremesa fez-me lembrar Portugal: uma magnífico arroz doce tal qual o da minha mãe, assim humidinho e com os grãozinhos de arroz agulha bem al dente. Delícia total.

Depois de todas estas tentações - e todos sabemos que a comida mexicana não é conhecida por ser levezinha e dietética - só mesmo um passinho de dança para fazer descer a refeição.

Os nossos anfitriões também são ávidos coleccionadores de presépios, todos expostos: o mexicano, uma árvore da vida, foi o meu favorito. E sabem que o menino Jesus, nestes presépios centro-americanos, não está agarrado à manjedoura? A explicação é simples: ele só é lá colocado na noite de Natal, deitado sobre uma caminha de algodão feita com as boas acções das crianças da casa. Não sei se ainda é assim nos presépios tradicionais portugueses, mas desconhecia este costume.

Apesar do calor que se faz sentir, sinto muito mais a presença do Natal aqui no Panamá que na Argentina. Curioso, não é?

(E, para quem celebra, feliz Hanukkah!)

5 comentários:

Mariana Ramos disse...

Eu não sei como é (era) o baile da pinhata, porque nunca fui a bailes, mas sei que havia, no Alentejo, essa tradição, mas lá mais para a Páscoa...
Não sei se é só coincidência de nomes, ou se haverá algumas semelhanças.
Quem nos poderá elucidar é a tia Alice.
O que é bom, no teu caso panamenho, é terem convivido à volta de um bom jantar.

Bjs
M

mm disse...

Ira, gula, inveja, orgulho, avareza, preguiça e luxúria... acho curioso que façam a ligação ao Natal:-)

por aqui, confesso, não sinto o Natal, a não ser na preparação de uma caixa que irá chegar (espero!0 a tempo de um certo jantar:-)))

bjos grandes

Anónimo disse...

E logo ontem que assisti a um episódio do "No Reservations" do Anthony Bourdain passado no México. Mole, feijão e tudo e mais alguma coisa. Era só comida boa!

Acho fascinante estes primeiros encontros com novas culturas. Ainda bem que estás no Panamá. Divertes-te LOL!!

Billy disse...

A piñata é bastante carnavalesca, portanto não me surpreenderia muito que aparecesse no início da quaresma e do tempo da reflexão. Seria essa a explicação?

Mar, parabéns! Sabias isso de cabeça? A mim falta-me sempre um dos pecados mortais, como me falta sempre uma das ilhas dos Açores...

V, era, de facto, comida muito boa! E, segundo os donos da casa, os tacos são para serem comidos com o dedo mindinho levantado. ;)

Anónimo disse...

Isso cheira-me a cristianização de uma coisa tradicional pagã. Cá, os bailes da pinha eram por alturas do Carnaval.
fungaga

P.S. E eu tb sei o 7 pecados mortais, dos quais o que eu mais padeço é o tema deste post.