terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ode à Graciela

Nunca tinha vivido num prédio com porteiro. Nem porteira.

Espera. Quero dizer, minto. Tinha sim, em Macau. Os prédios tinham porteiros e portarias com luz fluorescente de cozinha e marmitas com comidas estranhas lá dentro. Havia um sofazinho esquálido e a relação com ele era de um "halo" e de um sorriso. Deve ter sido por isso que já não me lembrava.

Aqui em Buenos Aires vivemos num prédio com porteira e com casa da porteira. Não sei se depois me poderei habituar outra vez a viver sem esta companhia absolutamente útil - diria quase que imprescindível, não fosse já ter vivido muitos anos sem ela, em Lisboa.

A nossa porteira é o máximo. Tenho a dizer que a Graciela (é o nome dela) é o máximo. Ou então o supra-máximo. A Graciela tem o prédio sempre (e digo mesmo sempre!) num brinquinho. Acode a toda e qualquer emergência. Coordena a comunicação entre vizinhos. Ajuda em caso de infiltrações, elevadores bloqueados e demais assuntos do condomínio.

Mas, para além de tudo isso, a Graciela tem funcionado para mim como um género de páginas amarelas em forma de pessoa. Pergunto-lhe onde se encontra tal coisa e ela sabe sempre de alguém que pode ajudar ou que sabe onde encontrar. No dia seguinte, tem a resposta pronta para me dar.

Agora, a cereja em cima do bolo (por acaso até nem gosto de cerejas em cima de bolos, mas a expressão é esta, qué quessá de fazer?): a Graciela está constantemente a ler. E lê, lê, lê. Noutro dia perguntei-lhe o que estava a ler, Isabel Allende, "La suma de los días", e explicou-me que se tratava de um texto no seguimento de "Paula", o último livro da autora de que seriamente gostei. Pedi-lhe que mo emprestasse quando terminasse.

Sabem o que aconteceu agora mesmo? Veio aqui bater-me à porta para mo deixar.

Ode à Graciela.

5 comentários:

Mariana Ramos disse...

Parabéns a quem tem uma porteira tão interessante!
Quanto à "Suma de los dias", também eu to podia ter emprestado. Não quiseste... Fico cheia de ciúmes.
Beijinhos

Billy disse...

Ora! Não tenhas! Emprestaste-me o Canário! E a Sétima Porta, que li aí! Achas que se compara?

Bau disse...

Graciela! Graciela! Graciela! Realmente, agora que o meu trabalho é aparentado ao de uma porteira (até tenho o molho de chaves que tchinca ao ritmo do meu andar) só posso juntar-me ao coro de apreciadores do trabalho da Graciela, porque imagino que não seja nada fácil. Nunca está terminado e há sempre algo a acontecer. Ela consegue ler, ainda por cima!
Ai!...
Graciela! Graciela! Graciela!

alcinda leal disse...

Também está na lista para ler. A preparação da biblioteca da minha escola e os outros incindentes recentes não me têm deixado tempo.
beijinhos

Anónimo disse...

Vê lá se ela não é bookcrosser...
fungaga