quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da primeira vez que me perguntaram:

Como amaneció?

Olhei pela janela, vi as nuvens cinzentas, a chuva que caía, e respondi, encolhendo os ombros, que estava a chover.

Só depois entendi que essa é a forma dos colombianos se cumprimentarem e de perguntarem como estamos e se dormimos bem.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Medellín, considerações gerais

Downtown Medellín

Fomos a Medellín e vim de lá encantada, apaixonada, enamorada, praticamente cidadã honorária. Depois da nossa primeira viagem à Colômbia, em 2007, já esperava uma magnífica surpresa da parte da cidade com a pior - e mais desactualizada - fama de todo o mundo. E assim foi.

Botero sculptures in Plaza Berrío, Medellín

Esqueçam os dias negros do narcotráfico, do perigo atrás de cada esquina, da ameaça de Pablo Escobar e toda a sua entourage. A Medellín - "Mededjin" no dizer local - de hoje é uma cidade do século XXI, o exemplo claro de que as coisas podem mudar para melhor, havendo vontade e compromisso dos cidadãos.

Passemos aos dados práticos: situada a 1540m de altitude, num vale da Cordilheira Andina, a cidade goza da fama de ter a eterna Primavera, porque a temperatura nunca sobe muito nem desce demasiado. Tem um clima tão agradável que, quando começa a ficar calor, vem logo uma chuvada refrescar o ambiente.

A cidade é servida por dois aeroportos, sendo que o novo, internacional, dista uns 40 minutos em estrada de montanha do centro. O custo de vida é mais alto que no Panamá - o hambúrguer que aqui custa 7 ou 8 dólares lá custa quase o dobro. Não obstante, tem um sistema de transporte público metropolitano, o Metro de Medellín, que assume a forma de comboio de superfície na maioria da sua rede. No centro, circula sobre viadutos; e nas encostas para as montanhas envolventes, transforma-se em teleférico. Estas estações estão localizadas em bairros maioritariamente informais, e por isso não só são marcos arquitectónicos como também sociais, já que permitem um acesso fácil ao centro da cidade.

Metrocable, Medellín

De entre os museus da cidade, visitámos o de Antioquia, na Plaza Berrío (a antiga Plaza Mayor), e o de Arte Moderna. Ambos são muito bons, mas o meu coração derreteu-se completamente no primeiro, que, no seu estilo Art Déco, aproveita as imensas vantagens do perpétuo clima primaveril da cidade. E mais: tem entrada livre!

O mais emocionante da cidade é, na minha opinião, o amor que os seus habitantes nutrem por ela: não há um papel no chão, os equipamentos públicos são usados e muito estimados e as pessoas são amáveis e corteses.

Museo de Antioquia, Medellín

Quero a minha faixa de cidadã honorária de Medellín!

(Mais fotos aqui.)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Bem-vindos à Europa!

Avenida 24 de Julho. Ambas as fotografias são de Christophe Sauvage.

Este pode parecer um título estranho para um post aqui no "Entre...", mas tem uma razão de ser. Os lisboetas que lêem este blogue talvez já tenham reparado que de há uns dias para cá há uns mupis muito curiosos por essas ruas fora. Trata-se de um projecto artístico de nome "Bem-vindo à Europa" (ora cá está) e que se tem desdobrado por várias iniciativas.

Calçada dos Mestres

Uma delas, a que me faz aqui escrever, é uma fabulosa oferta de emprego. Tanto a descrição do perfil do candidato como a das funções dariam grandes gargalhadas, não fossem elas tão ironicamente certeiras.

Na minha opinião, este projecto é um dos mais interessantes, mais ricos e mais bem sustentados em termos conceptuais que vi nos últimos tempos. Os textos são observações que põem o dedo na ferida de uma forma irónica, sempre na fina fronteira entre comédia e tragédia. Texto e imagem dialogam de uma forma subtil para reforçar a mensagem que o artista nos quer passar - e deixam-nos sempre a pensar.

Christophe-Paul Sauvage, o artista em questão, conta tudo no site dele, "Ajudem o Artista", e promete mais novidades para breve. Agradece a ajuda de todos, mas nós também: é sempre bom depararmo-nos com uma mensagem que nos faz pensar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Inaugurámos a casa e estreámos a varanda


E foi assim que no Domingo passado estreámos a nossa casa panamenha. Ainda sem conseguir aceitar o lixo que voa do prédio ao lado e que às vezes me aterra na varanda, nem me ter adaptado à falta de passeios para caminhar e de semáforos para atravessar a estrada.

Agora já cá estamos mesmo, de armas e bagagens e de roupa de Inverno guardada em caixas, cheios de saquetas absorventes de humidade.

Estamos no Panamá, circulamos numa carrinha quatro por quatro com vidros fumados e com o ar condicionado a bombar. Parecendo que não, a estrada inunda-se à mínima pancada de água - e olá se chove -, o sol é inclemente quando espreita - e de vez em quando espreita com força - e ao nível da rua está um calor que não se pode. Será a falta de sombra - e de árvores -, será o calor a ser reflectido pelo macadame das estradas? Não sei, tudo isso e mais qualquer coisa.

No meio de todo este universo que me rodeia e com o qual (ainda?) não me identifico, encontramos alguns oásis de muita alegria, como o sumo de ananás natural, o chocolate de agricultura biológica, conhecer pessoas muito diferentes de nós - e tão parecidas connosco! - e fazer novos amigos de muitos países diferentes.

Diz que é isto, a emigração.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ele há dias...

Sleepy aunt and a Princess
...em que temos modelos mesmo muito bons para desenhar. Uns porque dormem, outros porque estão de olhos vidrados na televisão (ou no ecrã do computador da tia, como é o caso), fazem com que desenhá-los (ou "copiá-los", na terminologia de certa pessoinha pequena-grande aqui representada) seja um autêntico prazer.

Lembro-me de um pedido - que terei de acrescentar à minha lista de afazeres para o período natalício: Bilocas, fazes outra cópia no teu caderninho para não te esqueceres de mim?

(Como é que eu me vou esquecer de ti?)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Natal é quando um Príncipe quiser

O Pai Natal trouxe-me um brinquedo novo e eu ando encantada.

When Christmas comes early...
(o meu blogue fica ou não fica lindo aqui no iPad?)

Tenho ouvido assiduamente os podcasts do Praia das Maçãs, mas aceito qualquer sugestão que me queiram fazer quanto a aplicações - das chiras, claro - para pôr aqui no meu brinquedo. Obrigada!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Zinices

Um dos aspectos mais divertidos de escrever, ilustrar e publicar periodicamente uma zine é ouvir as reacções das pessoas. Primeiro, porque os leitores levam cada número muito mais longe do que eu podia imaginar (literal e metaforicamente); depois porque me contam a forma como exploraram a leitura - e no fim quem fica a ganhar, claramente, sou eu.

Uma leitora e comentadora deste blogue mandou-me um mail onde me conta as suas "zine parties" com a sobrinhada. Com a respectiva autorização, transcrevo aqui parte do e-mail que me enviou a relatar as actividades desenvolvidas a partir da leitura da edição de Setembro:

"[...]Cada um tinha uma cartolina A3 colorida, dobrada ao meio e na capa colaram o mapa. Abrindo a cartolina vão recortar e arrumar os objectos nas partes da casa que escolherem. E podemos desenhar as salas?... perguntas que revelam interesse. Disse que dava prémios ao trabalho."

Giro, não é? O Príncipe até me sugeriu que fizesse uma adenda com uma planta, ideia dada por estes meninos muito criativos.

O e-mail termina com:

"Espero que a autora do projecto Zine não me peça "royalties" por alterar o original."

Pois que não peço, não! É com muita alegria que fico a saber que a zine é lida, "actividada" e vivida, e eu é que agradeço por me escreverem a contar estas histórias deliciosas. Bem haja!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Finalmente, casa

Home.

Os nossos móveis chegaram. Após quatro meses e meio, ou devo dizer, após longuíssimos quatro meses e meio, temos uma casa que começa a parecer um lar. Não dá para descrever a alegria de dormir na minha cama, sobre o meu colchão, com a cabeça na minha almofada - já nem me lembrava que era assim tão suave.

A abertura dos caixotes assemelhou-se muito à noite de Natal, com toda a expectativa e a surpresa de abrir um pacote que tem - ou não - algo que suspeitávamos que lá poderia estar. Encontrei cartolinas, tintas, pincéis, tesouras, telas. Encontrei a minha máquina de costura, da qual tantas saudades tinha, e o meu cavalete, que ainda não tive oportunidade de estrear.

Desde Março que não pinto (perguntem à alfândega argentina porquê, que eu já não tenho paciência) e desde Maio que não faço a maioria das coisas que fazia no meu estúdio em Buenos Aires.

É bom ter as nossas coisas de novo perto de nós.

Agora sim, parece que vivo cá no Panamá.