segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Momento desculpem-lá-qualquer-coisinha-sou-estrangeira-e-não-percebo

Que é como quem diz, esta coisa das expressões idiomáticas tem muito que se lhe diga.

O que vou relatar passa-se em plena aula de pintura, trabalhos expostos na parede, numa conversita de preâmbulo antes da análise colectiva que é costume o professor fazer nos dias de composições com poses rápidas. Imaginem duas folhas gigantes por pessoa, e somos mais de uma dezena, ou seja, uma parede cheia.

Uma das minhas colegas, sentada atrás de mim, pergunta-me:

"Che, los tuyos son esos?", apontando de facto para os meus trabalhos. Assenti.

"Ay, la flauta!", respondeu ela.

Ora aqui está. Para a minha cabeça mal-pensante, ay, la flauta só se poderia estar a referir à posição das figuras. Abri gigantemente os olhos e perguntei-lhe: "QUÉ?". Foi um "qué" tão enfático que até lhe pus o ponto de interrogação ao contrário no início e tudo, apesar de ser objectora de consciência no que toca a grafar esse sinal pouco prático.

Vendo o meu ar de espanto-barra-susto, que ela, obviamente, não entendia, explicou-me o significado da dita expressão idiomática:

"Che, la flauta significa que es bárbaro!". E bárbaro, na Argentina, é bom.

A pintura em questão era esta:

2009.09.28_02 baixa

Tenho dito.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Agora que descansei...

...aproveito para agradecer a todos os leitores do "Entre..." os comentários feitos ao abbrigate*. A verdade é que estamos muito contentes!

Agora que descansei, chegou também o momento de contar como foram as férias. Sim, coitadas das férias, onde é que elas já vão! Mas talvez por isso mesmo esta seja uma boa altura para lembrar esses dias de despreocupação horária e muita natureza.

Skiing in Ushuaia

Começámos por Ushuaia. Para quem não sabe, uma das condições no nosso imaginário contrato pré-nupcial foi a de que todos os anos teríamos uma semana de esqui. Eu tinha duas opções: ou ia, ou não ia. Ora eu comecei a esquiar em adulta, gente, já indo para osteoporótica, o que provocou em mim uma intensa onda de pânico que se vinha manifestando em forma de pesadelos sempre que pensava que a semana da neve estava para chegar. Enfim, insistia por uma questão de harmonia conjugal e também porque toda a gente me dizia que ao princípio custava, e isto e aquilo, e um dia, "quando menos esperasse", eu ia gostar.

Ora isso aconteceu. Mesmo. E deu-se precisamente a meio da estadia no sul do mundo. Suponho que terá sido por uma combinação de factores, alguns inerentes ao Cerro Castor, a estância de esqui onde estivemos, outros que têm a ver com a minha progressão em cima dessas tábuas deslizantes.

Skiing in Ushuaia

Em primeiro lugar, as pistas são bem largas, o que permite a uma medricas como eu esquiar à vontade, dar as curvas tão abertas ou tão fechadas quanto se me ofereça no momento e não temer a cada instante que um esquiador mais veloz me passe por cima dos esquis (coisa que me aconteceu no passado, infelizmente mais do que uma vez. Medo.). Por alguma curiosa razão, há pouca gente. Ou então não, ou então só parece que há pouca gente. Porque ao almoço sempre tínhamos um pouquinho de acotovelamento para chegar ao matambrito. Nos meios de elevação não há filas, não há lutas para passar à frente, não há nada dessas coisas que os humanos fazem quando estão em grande número num pequeno espaço. Nada.

E tive uma instrutora espectacular. Ou melhor: es-pec-ta-cu-lar. A sério, fantástica: intercalou as aulas de técnica com as aulas de diversão e pôs-nos a esquiar em caminhitos, em neve não pisada, a dar saltinhos (eu! A dar saltinhos! Com esquis postos!), a esquiar à ré, enfim, tudo o que lhe passou pela cabeça. Foi uma delícia: pela primeira vez, senti que me dava permissão a mim própria para me divertir com aqueles apêndices naquelas botas ultra-desconfortáveis. Foi uma maravilha! Nos primeiros dias, contava à instrutora: "ontem o Paulo levou-me a uma pista assim e assado". A meio da semana já a conversa era outra: "ontem levei o Paulo àquele caminho que nos mostraste e ele adorou!".

My class!A turminha.

Skiing in UshuaiaEu, feliz, no dia em que esteve sol. E aí uns -15ºC.

Uma das alternativas para almoçar na montanha é levar merenda e ir a um dos refúgios que lá existem. O nosso preferido era o mais alto, mais extremo e mais perto do nada que era a outra encosta. Um dos dias tivemos esta simpática visita:

This little guy came to check out our lunch

No último dia, contudo, a surpresa relacionada com comida não foi tão agradável:

Cota 480 in Cerro Castor burningO restaurante Cota 480 ardeu completamente

Lá se foi o matambrito a la pizza do Paulo. E muitas outras coisas, muito mais valiosas, de muitas outras pessoas.

Ainda em matéria de comida, e voltando aos aspectos positivos, uma particularidade da cidade mais austral do mundo é que há muito peixe e marisco, contrariamente a Buenos Aires. Comemos centolla de mil maneiras, tal como os portugueses comem bacalhau de todas as formas e feitios. Tal era a saudade que tínhamos de marisco bom! No topo da lista:

Antes da intervenção...

...e depois da intervenção.

Depois deixámos Ushuaia para no dia seguinte embarcar em direcção a Lisboa. Mas isso fica para outro dia.

Mais fotografias aqui.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Senhoras e senhores, meninas e meninos...

...apresento-vos o meu novo bebé, o abbrigate*.



Tem sido uma das razões para a minha ausência e para o meu atraso nos relatos das férias, mas é com muito gosto que me atraso em todas essas lides bloguísticas porque a razão é boa. Tudo começou há algum tempo atrás, em conversa com a minha amiga tricotadeira, e agora sócia e "partner in crime", Joji.

Sei que este blog é em português - e assim se manterá - mas hoje abro uma excepção para vos deixar aqui o texto do lançamento da nossa marca de roupa para bebé tricotada à mão. É que o cansaço é demasiado para a traduzir.

Era uma vez...

Once upon a time, in a far, far away land, two wizards joined forces against cold weather and came together to create abbrigate*, a new brand of hand-knitted, deliciously yummy baby wear to protect the youngest of the youngest from the cold.

Joji, one of the wizards, was a mom of two little wizard-apprentices. She used her knitting powers ever so intensely that one day she found out there was not one, not one single boy or girl suffering from shivers in those chilly days and nights of winter. Suddenly, she had no one else to knit for, because everybody around her was warm and cozy.

One day, Billy, the other wizard of this tale, told Joji:

"Oh, dear friend, don´t be sad! Why don´t you use your powers to keep children warm... everywhere in the world? There are other kingdoms out there who may be in need of your amazing knitting powers!"

We all know wizards never quit, so Joji and Billy sat down with their wizardry books and made an oath:

"We shall keep all babies warm and cozy during those chilly days and nights throughout the year!"

And, after repeating it three times, abbrigate* came to life.



abbrigate* is a mom-owned brand of hand-knitted, ecological baby wear.

abbrigate* garments have an unique character because:
- they´re exclusively designed by abbrigate*, for abbrigate*; they can even be customized by embroidering the baby´s name!
- they´re ecologically sound: fibres are carefully selected to combine the best materials with ease of care. That´s why we use hypoallergenic fibres that are machine washable.
- they´re handmade by knitters who earn a fair wage by doing something they enjoy.

abbrigate* ´s first line of products is a collection of Baby Kimonos for babies up to six months old. Kimonos come in ten (almost edible, may we add) colours, from the classic rose and blue to bolder alternatives. Future projects include expanding the offer with different models (late 2009), as well as launching specially designed, limited editions of our classic line.

Try our wizardry today and see how good our garments look even after being used by your children, your friends´ children and your grandchildren. And we´re not exaggerating! Find us on:

abbrigate* blog
abbrigate* shop @ etsy
abbrigate* shop @ bigcartel

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quem diria?

Museu do Brinquedo, SintraMáquinas de costura no Museu do Brinquedo, em Sintra.

No Sábado passado fui comprar a minha primeira máquina de costura, presente da minha Mãe. Comprei-a na Casa Olguin, cá em Buenos Aires, e só posso recomendar o atendimento. Acho que nunca tinha sido tão bem atendida na minha vida!

Um belo dia fui, juntamente com uma amiga, fazer uma expedição pela cidade à procura da máquina ideal. Já tinha lido várias coisas nesse inesgotável mundo que é a internet, nomeadamente no Superziper, sobre que procurar na primeira máquina de costura. E por aí fomos. Procurámos, procurámos, aqui e ali perguntávamos o que era o overlock e o falso overlock (não que eu agora saiba muito mais, convenhamos) e, na maioria dos lugares, respondiam-nos com um encolher de ombros que nos resultava particularmente frustrante.

Até que chegámos à Casa Olguin, que eu sabia ser o distribuidor Janome cá na Argentina. E aí, gente, aí foi a loucura. O vendedor sentou-se connosco, fez a demonstração de tudo o que a máquina fazia, as diferenças entre os três ou quatro modelos de máquinas familiares que tinha disponíveis, enfim, foi a loucura. Fiquei convencida pelo serviço, pelo acompanhamento, pela garantia.

Hoje fomos lá ter a aula para saber mexer na máquina; daí passámos a trocar dados com a professora, que também tricota e faz de tudo um pouco, mas que desconhecia o ravelry.

(Abro parêntesis para explicar que o ravelry tem sido o disparador de muitas das mudanças que estão a acontecer na minha vida, isto porque junta, de forma virtual, pessoas que gostam de tricot e crochet. Foi através desta comunidade que conheci uma boa parte das minhas novas amigas porteñas, incluindo a que foi comigo à expedição e hoje à aula. Fecho parêntesis.)

E é isto. Nunca pensei que me fosse transformar numa virtuosa dos lavores femininos, mas agora espero que para lá caminhe. Tantos anos de "evolução" para isto...!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma das razões para a minha ausência

Gente, ando longe, muito ausente, mas é por uma boa causa. A minha sócia desvenda o porquê, aqui. Estou muito, muito contente.

domingo, 13 de setembro de 2009

Domesticite aguda

Hoje deu-me um ataque de domesticite aguda e estive, qual formiga trabalhadeira, a arrumar cómodas, gavetas, despensa e caixas de conteúdos desconhecidos que se amontoavam ali no canto, entalados entre a parede e o aspirador. Quem tem casa, sabe que ele há recantos de algumas divisões onde a vontade de penetrar é francamente baixa, e de mês em mês se vai adiando a resolução daquele acumular de coisas que já nem se sabe o que são.

Depois descobrem-se objectos cujo paradeiro se desconhecia, coisas que nem se sabia que tinha, caixas de cartão cheias de papel de bolinhas, tudo guardado para uma iminente mudança que tarda em chegar. No cômputo final, descobri que vou poder fazer as pastas porta-documentos que estava a precisar a partir de sacos de cartolina.

Já sei que isto não interessa a ninguém, mas enquanto não chegam os relatos das férias é o que há.

E a Primavera está a chegar. Hoje só levei um casaquinho leve à rua, mas já dá para andar sem casaco. Viva Setembro!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Já estamos de volta a casa

Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa

As férias foram boas, tão boas, mas agora já estamos de volta a Buenos Aires. As despedidas, como sempre, foram difíceis, mas também sabe bem estar em casa.

A minha paixão por Portugal cresceu exponencialmente e foi com muita pena que me vim embora; não me interpretem mal: eu adoro viver cá e sei que temos uma vida fabulosa, cheia de eventos culturais e experiências gastronómicas. Mas Lisboa é - e suponho que sempre será - a minha casa. Está cada dia mais bonita, mais arranjada, e aqueles encontros furtivos que temos com o rio numa esquina ou num miradouro quaisquer? Impagáveis.

Até breve, já tenho saudades!