quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um ano!

"We´re in Panama!", issue 13

A nova zine, edição aniversário, está no ar! Vejam-na aqui.

A zine, que já é uma senhora, também já tem página do facebook. É ir e fazer "like".

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Numa manhã de sol

Templo Bahá´i no Panamá

Há uns fins-de-semana atrás, aproveitámos uma manhã de sol para ir até ao templo Bahá´i, cuja cúpula vemos daqui da varanda de casa. A viagem até lá não é evidente, até porque aqui por estas bandas não abundam nem placas toponímicas nem de sinalização. De facto, E esta? Que rua é? é das expressões mais repetidas por mim quando ando de carro. Mas com umas quantas paragens para pedir indicações, lá encontrámos o acesso que vai da estrada principal até ao topo da colina, que é como quem diz, até um mundo paralelo.

Uma acácia rubra em flor no templo Bahá´i

Lá em cima, reinam a calma e o silêncio. Tudo limpo, os canteiros estão cheios de plantas e flores e abundam as árvores e sombra. Um centro de recursos, recepção e biblioteca acolhem os visitantes, crentes ou não, já que todos - como eles repetem - são bem-vindos. Uma ladeira une o centro de acolhimento ao templo, assente no topo da colina, qual nave espacial, com uma cúpula de mosaico branco que reflecte a luz do sol. À entrada, uma senhora deu-nos as boas-vindas, facultou documentação sobre a fé Bahá´i e respondeu às nossas perguntas.

No templo Bahá´i

A sensação da entrada no templo é a da passagem para um universo paralelo onde não existe desarmonia, nem dor. O ambiente é de paz; não está calor nem frio, não há ar condicionado nem ventoinhas, há apenas ventilação cruzada e o canto dos pássaros que ali nidificam. Os bancos são de madeira maciça, lindos, e não existe um altar. Quando entramos numa igreja (ou templo budista, porque não?), está claramente marcada a direcção do olhar para um altar. Neste templo, a planta em forma de estrela de nove pontas e a ausência de altar dão-nos muitas direcções para onde olhar, que resulta numa sensação de unidade e harmonia.

Segundo a documentação que nos facultaram no local, o templo foi desenhado pelo arquitecto Peter Tillotson, cujo projecto venceu 43 outras propostas. A construção teve início em 1969 e durou dois anos e meio e foi custeada na sua totalidade pela comunidade Bahá´i mundial.

A cidade vista do templo Bahá´i

Saindo da paz do templo, as vistas para a cidade são magníficas. Vemos montanhas cobertas pela luxuriante vegetação tropical e, ao fundo, a cidade moderna a erguer-se em arranha-céus que desafiam toda a lógica.

Fauna no templo Bahá´i

É um lugar que vale muito a pena visitar, preferentemente num dia de sol. Para saber como chegar, o melhor é consultar o google maps.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O antigo e o moderno

Old and new
Vista das Cidades do Panamá, numa tarde como a de hoje. Em primeiro plano, o Casco Viejo, ou centro histórico; ao fundo, os arranha-céus da cidade moderna.

Bom fim-de-semana.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Passos para um início de semana infeliz

Estamos sem água há 48 horas.

Sexta-feira à noite recebemos um pequenino recado da administração do edifício a avisar que vamos ter um corte no abastecimento de água no Sábado, entre as 9 da manhã e as 9 da noite. Adorámos saber com toda essa antecipação e pusemo-nos a encher baldes e panelas com água.

Sábado tivemos água durante todo o dia, já que o edifício dispõe de reservatório próprio para estas ocasiões. À noite, ao chegar a casa e cheios de vontade de um duchinho antes de ir dormir, nada: torneira sequinha, sequinha, como se este não fosse um país tropical onde chove a cântaros praticamente todos os dias da estação húmida (a tal que dura nove meses e na qual nos encontramos).

Domingo de manhã aquecemos a água das panelas e tomamos um belo duche vintage, isto é, de alguidar. O prognóstico é que daí a duas horas o abastecimento se regularizaria.

Domingo à noite, nada de água. Torneira seca, sequinha, aliás tal como esta manhã, segunda. Continuo a aproveitar a água do desumidificador para lavar as mãos e tivemos, por breves minutos, um pouco de água potável pela torneira: enchi uma panela e fiz um chá para beber durante o dia.

O IDAAN, organismo responsável, diz que a válvula que estiveram a reparar avariou no momento em que voltaram a ligar a água no Sábado à noite. A administração do nosso edifício, responsável pelo nível de água no reservatório, diz que ontem comprou dez mil galões de água. Desses dez mil galões, eu enchi a tal panela. Já fizeram circular um memorando pelo edifício em que, basicamente, se isentam de qualquer responsabilidade, atirando em todas as direcções: no IDAAN, que não há forma de dar uma previsão nem de terminar de arranjar a mencionada válvula; nos moradores do prédio, que usaram a água de forma pouco racional. Só se esquecem deles próprios, que não conseguiram manter o volume de água no reservatório num nível aceitável.

No meio disto tudo, os andares mais altos são os últimos a receber o precioso líquido, e por isso aqui continua tudo muito sequinho. Até quando, não sei. Um dos principais traços culturais dos panamenhos é a sua total incapacidade de dizer "não", por isso desde ontem que ouvimos que a situação se vai resolver "dentro de duas horas", que "já comprámos mais água", "o camião-cisterna vem a caminho" e "a água já está a ser bombeada". As duas horas já lá vão há mais de 24, e nós aqui continuamos.

A pergunta lógica é: então e não há ninguém que nos possa albergar para um duche? Há sim senhora, temos a sorte de ter vários vizinhos aqui na zona que não ficaram sem água. Porquê? Porque por alguma razão o volume de água nos reservatórios dos respectivos prédios se mantém alto. E porque é que ainda lá não fomos? Porque continuo a acreditar que o Pai Natal chegará em forma líquida, pela torneira.

Hoje é daqueles dias em que troco a casa grande e a vista de mar por uma apartamento acanhado num país civilizado. Já sei que retrospectivamente vou achar imensa graça a estes episódios. Mas hoje, seguramente, não.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Passos para um fim-de-semana feliz

Primeiro passo:
chocolate cake, step 1
Alcançar um dos chocolates de agricultura biológica que stockámos, comprados na loja virtual do Culantro Rojo.

Segundo passo:
chocolate cake, step 2
Desembrulhá-lo e babar com o cheiro.

Este chocolate culinário é tão magro que é difícil de derreter em meio não gorduroso, como café ou rum. Venha o óleo de girassol.

Terceiro passo:
chocolate cake, step 3
Lanchinho na varanda.

Fotografar o quarto passo requer uma câmara endoscópica, de que não dispomos.

As eleições para quem está deste lado

Já vivo na América Latina há mais de quatro anos, dos quais três em Buenos Aires e um aqui no Panamá. Em Buenos Aires, assim que obtive o visto de residência fui logo recensear-me para votar. Vieram as Legislativas de 2009, e eu feliz e contente porque finalmente ia poder cumprir o meu dever cívico.

Cerca de uma semana antes da data das eleições em Portugal, comecei a ver os comentários dos meus amigos emigrantes no facebook. Anunciavam que o boletim de voto já lhes tinha chegado, que já tinham votado. E eu? Nada. Ligo para a Embaixada competente e a resposta é que eles nada têm que ver com o tema, que os boletins tinham chegado havia já duas semanas, que se não tinha recebido não havia nada que eles pudessem fazer.

Resultado: não votei. Não sei de quem foi a responsabilidade, ou o que terá falhado. Assumo que pode ter sido de quem coordena as eleições para os cidadãos no estrangeiro; mas também pode ter sido um problema dos correios argentinos, que podem não ter feito a entrega dos ditos boletins.

Um ano e meio depois, já no Panamá, chegam as presidenciais.

O Panamá acumula vários entraves à participação dos cidadãos portugueses nos actos eleitorais: primeiro, não dispõe de embaixada portuguesa, nem sequer de consulado. Temos apenas um consulado honorário, que tem competência para muito pouca coisa e que dinamiza muito, muito pouco a difusão da cultura portuguesa no país. (Como esclarecimento, a embaixada mais próxima é em Bogotá, ou seja, noutro país, a uma viagem de avião de distância.) Mais: em Abril, enviaram-nos por mail um convite para um jantar com deputados portugueses de visita ao país. Sabem quem era o remetente? "Consulado de Potugal". Assim, sem mais nem para quê, sem sequer se darem ao trabalho de rever e reler o que tinham escrito.

Voltando aos entraves à participação, o segundo prende-se com um conceito que parece totalmente alienígena a quem nunca viveu na América Central, onde aparentemente é prática comum: cá não há distribuição domiciliária de correio. Não há números nas portas, não há carteiros. Por isso tive de ir alugar um apartado na estação de correios mais próxima, estação essa que é uma tristeza completa. Mas ter um apartado é uma opção, não uma obrigação, o que faz com que muita gente não tenha morada onde receber correspondência.

Resumindo: entre não haver um consulado com competência para facultar uma câmara de voto aos cidadãos aqui recenseados e a impossibilidade da distribuição por correio dos boletins, eis mais um acto eleitoral em que não vou participar (e longe vai a minha possibilidade de me candidatar a presidente da república).

A minha pergunta é: num país que ocupa um dos lugares dianteiros em governo electrónico, para quando o voto electrónico? Não pode ser mais complexo que tudo o que já fizeram: relembro que todas as minhas interacções com as Finanças, com a Segurança Social e com o meu Banco são feitas electrónica e remotamente. Por isso, que falta para haver o voto electrónico? Porque é que ainda não há voto electrónico em Portugal? Seria a solução para estes obstáculos constituídos pelas especificidades locais de cada país.

Posto isto, no Domingo, por favor, vão votar. Em branco, nulo, num partido ou noutro: vão votar. E, como vi num dos filmes do youtube, na segunda vamos trabalhar.