quarta-feira, 30 de abril de 2008

Dia da Liberdade

Já se passaram uns dias largos sobre o dia 25 mas só hoje realmente soube o que escrever sobre o assunto.

Por cá o dia passou-se sem notícia. Não foi feriado nem fim-de-semana prolongado e as únicas celebrações foram através dos parágrafos nos blogs que visito regularmente.

Só hoje, ao escutar o podcast das notícias em português da Deutsche Welle desse dia, é que me arrepiei ao ouvir uma pausa na narração e depois a batida da Grândola Vila Morena.

Se é certo que não vivi o "antes", só o "depois", a vivência argentina tem sido muito útil para imaginar como terá sido o passado. Não que aqui se viva em ditadura, porque não é verdade. Mas vive-se num ambiente de desinformação (o lápis azul cá mudou de tom, mas funciona na mesma, umas vezes a favor de uns, outra a favor de outros), de propagandismo, de convocação coerciva de (algumas) massas a alguns actos públicos de apoio ao governo, e assim por diante.

Não querendo estar a cuspir na sopa - porque a Argentina lá me vai acolhendo - a democracia por cá ainda é uma criança. E esse facto deixa-me muito grata por ter havido um 25 de Abril no meu país, quatro anos antes de eu nascer.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Abençoados sejam os narigudos...


...com um bom olfacto para cheirar a sopinha da Mamã.

Ontem já falei da hortelã na canja; hoje salivo a pensar nos cozinhados da minha Mãe. Em Portugal "abriu" a época de favas...

(É a ilustração para o Illustration Friday, cujo tema esta semana é "primitive".)




P.S. Há que adicionar aqui um detalhe deveras importante: o Paulinho faz uns cozinhados muito bons e até consegue aproximar-se bastante da sopinha da minha Mãe. Mas ele também entende que Mãe é Mãe, e cozinha da Mãe... é mesmo assim, exclusiva.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Hortelã

Pôr menta na canja não é o mesmo que pôr hortelã na canja. É parecido. Até é bom. Mas não é a mesma coisa.

Estas diferenças, ainda que pequenas, a esta distância revestem-se de toda uma importância vagamente desproporcionada. Mas é através dos cheirinhos e sabores (e do Skype, naturalmente) que vamos matando as saudades de Portugal e da comida da Mamã.

Como tal, deixo aqui o registo do transplante de hortelã (aparentemente bem sucedido) que começou em Lisboa e terminou algum tempo depois, do outro lado do lago Atlântico. Em três vasos diferentes, pelo sim, pelo não.

Hortelã...

...mais hortelã...

...e o "folhudo" manjericão, que pega em todo o lado.

Feiras do Livro

Não deve faltar muito para a Feira do Livro de Lisboa, de que tanto gosto, abrir as suas portas. Ou melhor, as suas barraquinhas Parque Eduardo VII acima.

Sem nougat nem cheiro a sardinha assada a anunciar o Verão, começa amanhã a 34.ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires. É num pavilhão fechado (Outono oblige) e não há a alegria dos vendedores ambulantes. Mas é o que há e é bem bom.

Este ano não quero deixar passar ao meu lado alguma da programação cultural paralela. E a ver se descubro em que dia é o dia de Portugal para ir lá ver o autor deste ano (que ainda não sei quem é).

Fim-de-semana em Colonia del Sacramento, no Uruguay

Tínhamos de ir ao Uruguay e a história de Buenos Aires estar praticamente soterrada ("sofumada"?) em fumos (alegadamente não-tóxicos) foi um incentivo extra para irmos.

Cruzamos o rio no meio de uma atmosfera branca e chegámos à margem oriental do Río de la Plata. Uma inspiração mais profunda de algum alívio revelou-se muito frustrante: já cheirava a fumo.

Mas o Uruguay é um paraíso aqui ao lado da poluída Buenos Aires: os carros andam devagar, param nas passadeiras, bebe-se mate por todo o lado... o ritmo é consideravelmente mais lento e a pausa sabe bem. Buenos Aires tem muitas vantagens, mas um abrandamento de quando em vez sabe sempre bem. Dormir sem barulho de autocarros, apesar de o nosso hotel ser numa das ruas principais de Colónia, foi uma novidade também muito bem-vinda.

No dia seguinte acordámos e já cheirava a fumo. Como é que estes vizinhos podem gostar uns dos outros se se tratam assim? Uns queixam-se das fábricas papeleiras, vai daí respondem com um manto de fumo impenetrável... o ar que se respirava no Sábado passado em Colonia arruma as picardias entre Portugal e Espanha num chinelo.

Ainda assim, passeámos. Que podíamos fazer? Dentro do hotel cheirava a fumo; fora também. Então, fora. Vamos lá. E fomos.











terça-feira, 22 de abril de 2008

O vento mudou de direcção...

...e por isso não temos tido fumo por cá. Mas os incêndios continuam activos e o fumo, misturado com o nevoeiro, hoje provocou mais uma série de acidentes nas estradas do norte da província de Buenos Aires.

Este post é curtinho: da incredulidade já passámos à resignação e da resignação a uma certa tristeza.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Porcos a voar

Ok. Vamos lá pôr os pontos nos ii . Quem dizia que em Macau só faltava ver porcos a voar que tente viajar para a Argentina. Agora. Quero ver.

Porque é absolutamente inacreditável, aqui vão as fotografias:

Olhando para a direita...

...olhando para a esquerda.

E não. Não é "neblina matinal". É fumo.

Fumo de quê, será que há aqui algum incêndio? Mas não acabou já o Verão? Pois é, acabou o Verão e não há um, mas muitos incêndios. E não são incêndios quaisquer: são queimadas, "quemas de pastizales".

Nas notícias só se fala da interdição das estradas, da visibilidade reduzida a alguns metros, das partículas de dióxido de carbono. Já se insinuou ligeiramente a polarização que se abriu com o conflito entre produtores agro-pecuários e governo. Depois deita-se água na fervura e diz-se que muitos produtores também são contra esta prática. E assim por diante.

A questão fundamental para mim é que as "queimadas" são fogos controlados e pequenos, não são incêndios com emissão de fumo capaz de cobrir uma cidade do tamanho de Buenos Aires. E não é só a cidade, é também uma grande parte da província de Buenos Aires, que, para se ter uma ideia, tem uma superfície semelhante à da Península Ibérica. Imaginem que há um incêndio em Madrid e que se sente o fumo em Lisboa: surrealista, não é?

Pois. Não. Não é surrealista. Aqui acontece.

Quero acrescentar mais uma coisa: o aeroporto internacional de Ezeiza está praticamente encerrado (no ano passado a falta de radares sofreu com o nevoeiro do Inverno; este ano o sofrimento começa já no Outono, com a fumarada! O Aeroparque está encerrado, ou seja, não se sai por via áerea da cidade. Por estrada, também não. Esperemos que não nos estraguem os planos de evasão de barco.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Parabéns!


Até agora eram secretos... mas como os destinatários já os receberam, aqui estão os cartões de parabéns que lhes enviei. O vermelhinho, para o meu Pai; o cor-de-rosa, para a Mélanie.

Parabéns aos dois e espero que tenham gostado!



Mais imagens de todas as fases entre o desenho e o produto acabado.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Parabéns

Muitos, ao meu Pai.

No ano passado a coisa não correu tão bem: acho que nem sequer lhe consegui dar os parabéns. Estava internada e tinha sido operada de urgência aos intestinos. Quando fechava os olhos, viajava numa tripe demasiado surrealista provocada pela anestesia. Quando acordava, voltava a adormecer.

Felizmente este ano está tudo bem: embora a barriga ainda continue grande (continuo a ouvir a sempre pertinente questão: "estás grávida?"), a cicatriz de talhante que me fizeram está com muito boa cara e bem sarada. Os intestinos, maravilha. E a boa forma vai sendo recuperada gradualmente.

Tudo isto para dizer: parabéns Pai! Pena não ter estado aí para celebrar contigo, mas acho que já não foi nada má a ajuda que o skype nos deu, não é verdade?

Final-de-semana legal

(Atenção: este post deve ser lido com sotaque brasileiro)

Esse final-de-semana foi legal demais. Tivemos nossos amigos brasileiros, mais precisamente cariocas, de visita. Uma viagem de trabalho a Buenos Aires se prolongou por mais dois dias para poderem aproveitar Sábado e Domingo por cá.

Logicamente os convidámos para ficarem cá em casa: não perdemos uma oportunidade pra falar português, não é? Tanto falámos que, no final de sexta-feira, já eu estava pensando em português brasileiro, colocando uma série de "...pra cacete" ("bom pra cacete", "cheio pra cacete",...) no meio de minhas frases. As pensadas, claro. O que eu falava, eu tentava que soasse português lusitano.

Daí que foi legal demais. Nossos amigos são muito gente fina (adoro esta expressão!), nos fizeram uma companhia muito bacana, fomos no Osaka comer ceviches e tiraditos, na Feria Puro Diseño e, inclusivamente, passámos pelo Easy, esse hipermercado de materiais de construção que está faltando no Rio. Ou, pelo menos, está faltando com os preços de cá.

Os serões foram passados em casa, olha só: Paulo tocando piano, acompanhado no violão pelas mãos de D e pela voz de F. Eu, no tricô.

Que pena que finais-de-semana beleza como esse tenham um fim tão rápido. Mas agora tá mesmo vindo a vontade de ir no Rio. Outra vez.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Os disparates do costume

Quem me conhece sabe. Sabe que eu gosto destes disparates. E de tipografia. E de tipografia na cidade.

Mas, claramente, este post não é propriamente sobre a tipografia na cidade mas sim sobre as aventuras da tipografia na cidade.

Ora estava eu a sair alegremente com a minha amiga F. do Ateneo, livraria porteña instalada dentro de um teatro (no palco, o café onde tínhamos ido comer a sobremesa do ceviche), e não é que olho em frente e vejo uma loja com este nome?



"Nossa", disse, sob influência claramente carioca. E deixei-me ficar a apreciar a sensação de encontrar uma loja sofisticada com um nome destes. Depois desviei-me, o poste saiu do caminho e vi aparecer o "l". "Clona", chama-se.

Caiu um mito.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

FAQ

Faz hoje um ano da minha chegada à Argentina. Para comemorar a efeméride, faço um post sobre as perguntas mais frequentes destes últimos 12 meses.

Diálogo A:
- De dónde sos?
- De Portugal.

- De qué parte de Portugal?
- De Lisboa.

- Ah. Y cuándo volvés a Rio?
- Bueno, no sé, algún día voy a visitar.


Diálogo B
- De dónde sos?
- De Portugal.

- De qué parte de Portugal?
- De Lisboa.

- Y que hacés acá?
- Vivo acá.

- Sí? Mirá vos. Y te gusta vivir acá?
- Sí.

- Extrañás mucho?
- Sí.

Diálogo C
(farmacêutico põe ar sedutor:)
- Vivís en Francia?
- No.

- En Italia?
- No.

- Dónde vivís?
- Acá en Buenos Aires.

- Bueno, sí. (sorriso, bate a pestana) Pero de dónde sos?
- De Portugal.

- Ah! De Portugal... Mirá vos.
(peço-lhe o talão e vou-me embora porque já sei que pergunta se segue.)

Eu chamo a este fenómeno "perguntite aguda". Manifesta-se sobretudo na população masculina mas é inegável que há uma certa curiosidade pelos estrangeiros que é comum a toda a gente. Invariavelmente, pensam que sou brasileira. Às vezes, mesmo depois de dizer que sou portuguesa (vide Diálogo A). E, sendo brasileira, obviamente que sou do Rio.

Só em Ushuaia nos aconteceu uma coisa extremamente curiosa, que muito me (nos) surpreendeu. Estávamos num restaurante a escolher os pratos e o rapaz que nos atendia percebeu que falávamos português. Muito gentilmente começou a falar português connosco. Quando chegou ao ingrediente "alho-francês" de um dos pratos, disse-nos que tinha "alho-porro". "Ah, alho-francês", dissemos, um pouco como quem pensa alto, enquanto imaginávamos o prato - e salivávamos. Responde o gaiato: "dizem alho-francês? São portugueses, não é?".

Merece a minha admiração.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A minha primeira camisola tricotada!


Ora aqui vai o início da minha primeira camisola. Quero dizer, tricotada por mim!

"Ter pano para mangas" ganhou um novo sentido...



Mais fotografias aqui.

Argentinizada

Parece que sim, estou definitivamente argentinizada. Falo castelhano com sotaque de Buenos Aires, uso vos em vez de , atravesso a rua à maluca, já me oriento a a andar de autocarro.

E agora já cebo mate em casa:

Desmentindo a mentira

Ora bem, apesar de ninguém ter reagido à minha mentira (esta é directamente enviada às visitas que cá estiveram e ao coabitante desta casa!), desminto já a mentira: não há mancha nenhuma na despensa, o tecto está branquinho e parece-me que as sessões de raspadela, estuque, selante, primário e pintura final terminaram.

Tenho dito.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A tia com o avental da sobrinha


Imagino que esta fotografia não tenha graça absolutamente nenhuma para ninguém, excepto para mim.

Mas não faz mal, não interessa nada, é mais uma manifestação de saudades e de absoluta adoração pela minha sobrinha Carolina, a única até ao momento e, como tal, a preferida.

(tenho de aproveitar enquanto posso dizer que é a minha sobrinha favorita, tout court, porque quando houver mais sobrinhos tenho de dizer a minha sobrinha favorita de x anos, estratégia diligentemente aprendida com a minha Mãe.)

Acho que ela gostou do presentinho. Eu, deste lado, adorei fazê-lo e imaginá-la a vesti-lo para "achudar a Avó".

Mais imagens aqui.

Vicissitudes da vida

Para quem não sabe, aqui há uns meses tivemos uma mega-infiltração no tecto da cozinha.

Não, não. "Mega-infiltração" não descreve o fenómeno. Tivemos, sim, uma pintura abstracta no tecto da cozinha, uma instalação digna de um museu de arte contemporânea (ou mesmo de arte futura).

Apareceu em Dezembro, fomos de férias, voltámos de férias e estava (bem) maior. Um certo dia em Fevereiro tivemos cá o pintor na sua primeira sessão. Raspou, raspou, raspou mas chegou à conclusão de que o estuque ainda não estava bem seco e, portanto, não lhe podia aplicar nova massa.

Próxima sessão: daí a uns dez dias.

Vou abreviar, não quero que isto se torne toda uma saga parecida com a do frigorífico e da máquina de lavar louça. Até porque, em bom rigor, o pintor só se esqueceu da data de uma das muitas sessões de raspanço, estuque, selante, primário, secundário e talvez também terciário.

Encurtando razões, terminou hoje o trabalho: o tecto da cozinha está lindo e quase como novo.

Não é que agora tenho uma mancha no tecto da despensa?