sexta-feira, 30 de julho de 2010

Estou triste

Morreu o António Feio. Que pena.

Edito para acrescentar estas duas canções, interpretadas pelo Jorge Drexler. Sempre que ouço o "Stay", penso no Patrick Swayze, que morreu exactamente do mesmo mal. E quando ouço "Sea", penso na querida Mercedes Sosa, que teve a boa ventura de morrer velha e de nos deixar muitas canções bonitas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Esta manhã, no Casco Antiguo

Plaza Mayor, Casco Antiguo, Panamá

Esta manhã fui para o centro histórico da Cidade do Panamá para desenhar. É o meu bairro de eleição. Dos centros históricos hispânicos da América Latina, este é claramente um dos mais bonitos, até porque tem a imensa vantagem de ainda ter gente a viver lá. Gente que sempre lá viveu, que faz lá compras e que vai lá à escola.

E depois tem o Teatro Nacional, o Palácio do Governo e umas quantas igrejas e catedrais. E lojas, algumas para turista, outras bem escuras e a cheirar a humidade, com ventoinhas e velhotes à porta. Na Plaza Mayor, um engraxador sem trabalho e umas senhoras, penso que da brigada de limpeza urbana, a pôr a conversa em dia. Com muita calma, porque com o sol a queimar e o dia está lindo, estava um calor de não se aguentar. Que o diga a senhora da direita.

thursday, 9.30 am

Diz que a adaptação é isto - parte III

Tínhamos marcado ir ao consulado amanhã. Precisamos de nos ir inscrever, retirar um documento para termos a carta de condução cá, enfim, um par de assuntos que têm de ser resolvidos.

Preparámos documentos e fotografias (tarefa que merece todo um post) e o Príncipe libertou a manhã, na sua agenda, para lá irmos.

Por sorte, hoje ligou para confirmar - como vêem, estamos a aprender - e ficou a saber que amanhã não vai dar para irmos. Teremos de deixar para a semana que vem porque o computador do consulado está avariado.

Tal como leram: "o computador", no singular.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Diz que a adaptação é isto - parte II

Outra particularidade do panorama imobiliário panameño é que os edifícios têm uma coisa chamada de área social. Geralmente inclui piscina e ginásio, às vezes campo de squash e sauna, nas versões mais mirabolantes até sala de cinema têm.

Pois, lá está, a adaptação é isto: é ter ginásio no prédio, sauna e piscina, portaria como se de um hotel se tratasse e cartãozinho para subir pelo elevador. Quão longe está a minha casa escura e escondida no Beco do Rosendo, com aquelas paredes de 1916, escadas praticamente medievais e um chão que baixava no meio das divisões.

Adaptemo-nos, portanto. Resta saber como será a adaptação ao mundo real quando sairmos do Panamá!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Diz que a adaptação é isto

Diz que sim, que a adaptação a um novo país é jogar com o que temos e não comparar com aquilo a que estamos habituados. Enfim, podemos ter um olhar crítico, mas não exageremos, até porque não se muda um país em dois dias - e nem sequer sabemos se o país quer ser mudado.

Ora toda esta conversa sobre adaptação porque hoje fui tentar alugar um apartado na estação de correios mais próxima.

Cabe aqui fazer um interlúdio para explicar que no Panamá não há entrega de correio porta a porta, até porque as portas não têm números e isso complica bastante o trabalho a um carteiro. Porque não há carteiro, nem distribuição porta a porta. Aliás, coisa bem curiosa, aqui as moradas são dadas com base em pontos de referência: "vá pela Via Espanha até ao Instituto X, vai ver a bomba de gasolina Y, na diagonal oposta vai encontrar Z e aí está o prédio Alegria de Viver. Contorne, e atrás vai encontrar a nossa loja.".

Mas enfoquemo-nos no assunto em questão: a adaptação, vinda do episódio nos correios.

Eu já sabia, quando ia para lá, que o mais provável era não conseguir alugar o apartado. Seguramente estaria a esquecer-me de alguma coisa essencial, apesar de levar comigo os dois passaportes - no apartado só entregam a correspondência enviada aos nomes que eles têm registados como associados à caixa postal. E também tinha dinheiro. E, achava eu, paciência.

Estava um senhor a ser atendido e eu observava e observava, pensava em como achava as estações de correio argentinas de outro mundo - se antes as achava más, agora acho-as maravilhosas. Realmente, não há como baixar a fasquia para se apreciar o presente!, pensava eu, até que fui atendida.

A senhora que me atendeu foi muito simpática, respondeu a todas as minhas perguntas com um sorriso, explicou-me todos os detalhes, e pronto, vamos lá, faz favor quero um apartado.

Que não. Que agora estão esgotados (sim) porque lhes estão a mudar as fechaduras (tal qual estão a ler). Lá para Agosto, quem sabe, mas mais vale ficar em lista de espera e assim contactamo-la. Só tem telemóvel? Não tem número fixo?

Ui, se a senhora soubesse...

Pergunto-me: não será momento de pôr números às portas? Se calhar não querem, e tudo bem, eu é que sou de fora e tenho de me habituar.

domingo, 25 de julho de 2010

Estas coisas estranhas




Este fim-de-semana pude finalmente fotografar uma coisa que me parece, claramente, de outro mundo: um auto-banco. Suponho que a minha surpresa se prende com o facto de não andar a viajar o suficiente, sobretudo para a parte norte aqui do continente. Atrevo-me a pensar que isto é hábito norte-americano, hábito esse que os panameños, depois de tantos anos de administração estrangeira, absorveram e preservaram.

Não sei bem se hei-de qualificar o acto de se servir de um multibanco sentado dentro do seu carro como extremo comodismo se como o cúmulo da praticidade. A verdade é que me parece estranhíssimo estar numa fila - como se de uma portagem se tratasse - para ir levantar dinheiro... Sobretudo quando há um estacionamento (gratuito) ao lado e caixas multibanco para "peões" (diria mesmo "regulares") sem filas nem demoras.

Sabe-se lá se um dia destes não sou eu a usar estas estranhas invenções!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mesmo a tempo para o fim-de-semana...

July issue is out!

Aqui vai o número de Julho da minha e-zine. Podem descarregá-lo aqui e comentar ali em baixo, que eu adoro receber comentários. É só imprimir frente e verso, dobrar pelas marquinhas que lá pus e siga para bingo.

Para quem não leu a de Junho, está aqui. E é gratuita, claro.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aventuras e desventuras

Já estamos no Panamá há dois meses. Já explorámos alguns restaurantes - e não houve desilusões nessa matéria. Já estou a fazer contactos com clientes, já estou a fazer aulas de yoga (e de bailoterapia, como contei noutro dia). Já tenho uma rotina mais ou menos articulada. Tudo isso, mas ainda não temos casa.

Minto: temos casa. Aquela em que estamos, temporária, e aquela para onde iremos, em data a definir, nos píncaros de uma torre moderna. Quem diria, afinal até temos duas casas e eu a queixar-me.

Tudo isto seria muito mais bonito se, em vez de duas, tivéssemos só uma, a nossa, e se dentro dessa casa tivéssemos só as nossas coisas, e não as emprestadas.

Mas tudo isso está ainda longe de acontecer. As nossas coisas estão em Buenos Aires, provavelmente ainda presas na engasgada alfândega argentina, que noutro dia se deparou com 300kg de cocaína dentro de móveis usados, num contentor com Espanha como destino.

Assim sendo, espera-nos pelo menos mais um mês sem móveis, sem a nossa cama, sem a minha máquina de costura nem os meus pincéis nem o cavalete.

Bem sei: não é o fim do mundo - nem nada que se pareça - mas já estou um bocadichiquinho farta.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Coisas caricatas, ou talvez mesmo "do além"

Para quem gosta de uma bela gargalhada, recomendo muito um passeio pelo último post do Dicforte.

Quem é amiga, quem é?

Em Nova Iorque comprei livros



Já tinha aqui contado que comprei livros, muitos. No Museu de Arte e Design, o MAD, o vendedor viu-me a escolher cuidadosamente os volumes que ia levar e queria tanto fazer-me um desconto que me perguntou se era estudante (não sou), se os livros eram para fazer pesquisa (não propriamente para uma tese, mas vá), então está bem, aqui vai o desconto. Não o quis contrariar, ora essa, um senhor tão gentil e atencioso, porque pensando bem ainda foi uma nota verde - e podiam ter sido várias.

Na Books of Wonder, uma deliciosa livraria para crianças, comprei livros para as minhas sobrinhas e um outro para uma criança um pouquinho mais crescida - que ninguém desconfie que o livro é para mim.

Na livraria das Nações Unidas comprei o Ecoholic, esse livro bem gordinho que aí está na fotografia.

Comprei também uns quantos livros para ir lendo, mas claramente o mais importante, comprado numa livraria no mercado de Chelsea foi este:

 Uma bíblia, senhores, uma bíblia. Diz quem já leu que é leitura com conteúdo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Em Nova Iorque perdi-me no metro

perdi-me no metro em NY II

Quantas vezes? Nem sei. Talvez porque esteja habituada a que uma linha tenha uma cor, outra tenha outra; talvez porque às linhas são atribuídos nomes, não números ou letras, como no caso. Talvez até porque nos outros metros em que já circulei há diagramas da rede em todo o lado. Ou talvez até porque estou habituada a placas sinaléticas com pictogramas, complementados por pequenos textos, não testamentos que nos indicam que fora de horas o comboio expresso se transforma em local e tem de se apanhar ali o número 4 para duas estações mais tarde apanhar o número 6.

Talvez.

A verdade é que me perdi no metro e o pior é que não existe comunicação entre os dois sentidos da via em todas as estações. Portanto: descoberto o erro, é preciso sair do metro numa estação onde exista comunicação com o sentido oposto. Ou então atirar para trás das costas, sair à rua e voltar a pagar bilhete.

Digamos, simplesmente, que não é evidente.

(E o calor nas estações? Alguém entende?)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Em Nova Iorque fui ver museus

No Guggenheim

Como qualquer pessoa que abra um guia de Nova Iorque sabe, a cidade tem muitos museus, qual deles o mais apetecível. Então museus de arte, arte aplicada ou design, nem se fala: a escolha fica difícil. Por isso, decidi impor a minha regra de um museu por dia e segui para bingo, isto é, escolhi os museus que mais queria ver. Obviamente deixei muita coisa para trás, o que foi uma pena, mas o que vi, vi com atenção, dedicação e tempo até de me arrepiar e largar a ocasional lagrimita. Acho que a escolha foi acertada.

No Guggenheim

O primeiro museu que visitei, o Guggenheim, tem aquela estrutura em espiral que já conhecia de mil filmes, fotografias e reportagens. Poder-se-ia pensar que é uma desilusão quando lá chegamos, que já nada é surpresa, que só lá vamos "confirmar", em vez de descobrir. Mas não. É lindo e arrepiante estar dentro daquela construção.

Confesso: não delirei com a exposição em si, "Haunted". Não que não seja interessante. Só não é o tipo de expressão artística que me chama. Por outro lado, a exposição estava narrada partindo do piso térreo para cima, subindo os seis andares na estrutura em espiral. Ora, muitas vezes, as plaquinhas com a informação sobre a peça estavam à esquerda da respectiva peça, ou seja, acima da dita. Isto significa que o observador é forçado a subir para ler a placa e a voltar a descer um bocadinho para apreciar a peça. Uma canseira.

Mas, e há sempre um mas, nas salas anexo do museu estavam algumas exposições temporárias. A de Julie Mehretu deixou-me completamente aparvalhada, encantada, hipnotizada e mesmo fantabulizada. É um conjunto de pinturas gigantes onde a cada olhar, e a cada distância, se descobre um novo nível de leitura. Fiquei muito tempo naquela sala branca, observando as pinturas e as pessoas que olhavam, se aproximavam, se afastavam dos quadros gigantescos, que nos engoliam e regurgitavam. Murmurei várias vezes: "compro todos, podem entregar lá em casa".

No dia seguinte, a escolha recaiu sobre o Museu de Arte e Design, ou MAD (aprecio o sentido de humor). Comparado com outros gigantes do panorama local, este museu é pequenino, característica que me agrada sobremaneira. Tirando a falta do ocasional banquinho para o descanso periódico, é um museu com o tamanho perfeito, já que podemos ver todas as exposições sem nos fartarmos de tanta cultura. Porque a cultura, meus amigos, dá muita bolha no pé, essa é que é essa.

Uma das exposições era sobre (pausa para o pigarreio) objectos feitos com coisas mortas. Chama-se Dead or Alive e, apesar de ser, como explicar, estranha, é muito, muito interessante. Há objectos que são verdadeiramente lindos, e só quando percebemos que aquelas coisas são insectos verdadeiros (nhaca) ou penas de pombos (nhaca nhaca) é que sentimos - literalmente - comichão.

Gostei também da mostra sobre bicicletas feitas à medida: quem diria que seria tão interessante?

A loja deste museu é uma terrível perdição: entre outros livros, encontram-se à venda catálogos de exposições antigas - e qual delas a melhor. Para terem uma ideia, a minha mala voou para Nova Iorque com quatro quilos (não estou a exagerar) e voltou com mais vinte. Livros. Livros. Livros. E só comprei os que sabia que não ia encontrar por internet.

No MoMA

O último museu que vi foi o MoMA. Zanguem-se os puristas do Met; não deu. Estive lá da outra vez em que fui, em miúda, com os meus pais, e tenho a imagem de um museu gigantésimo, com muita arte egípcia (de que gosto) e muita, muita ala para ver. Esqueçam a bolha do pé. No Met, é mesmo chaga.

Posto isto, fui ao MoMA. Muito bem acompanhada, naveguei por todas aquelas salas, pisos, escadas, tudo lindo, tudo branco, e tirei partido do horário ampliado às quintas-feiras, só durante os meses de Verão.

Também aqui, muitíssima emoção ao ver As Oliveiras, de Van Gogh e, mais tarde, La Danse (I), de Matisse. Bem a propósito, em Julho abre uma exposição só, só sobre Matisse. Um privilégio!

Parece que neste museu se concentram todas as obras que nos aparecem, ou já apareceram, nos compêndios de história da arte contemporânea: desde Picasso a Frida Kahlo, passando por Piet Mondrian e Brancusi, nesta colecção há de tudo, bem exposto, bem narrado no audio-guia gratuito e com muito espaço para gozar cada uma das obras. Lindo, e a não perder.

As exposições temporárias também são muito boas, nomeadamente as que são sobre design: "Shaping Design Modernity", "Action! Design over time" e "What was good design?MoMA´s message 1944-56"

Felizmente já nem entrei na tentação da loja do museu (vinte quilos em livros, eu seja santa), mas diz que o brownie do bar é muito bom.

Missão museológica cumprida, fui às Nações Unidas. Mas isso é conversa para outro dia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Global Peace Index

Assim de repente, apraz-me muito partilhar que, segundo o Institute for Economics and Peace, Portugal está em 13.º lugar no que toca ao Global Peace Index. Esta honrosa posição posiciona-nos à frente de países manifestamente conhecidos como sendo pacíficos e tolerantes como o Canadá, em 14.º, ou até mesmo a Alemanha, em 16.º. Em relação à vizinha Espanha, que está em 25.º lugar, então nem se fala.

Mais uma razão para nos sentirmos muito orgulhosos de sermos portugueses e de fazermos o país que temos.

Nota: para quem quiser saber como calculam o dito índice, é visitar esta página.

Fui ali e já vim

Na semana passada fiz uma visita muito boa à minha prima, em Nova Iorque. Ainda nem aterrei bem, mas quando os meus dois neurónios voltarem ao Panamá, conto mais.

Nos entretantos, já estou com saudades!