segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mais panamices

Hoje, no elevador, confirmei que muitas pessoas no meu edifício não sabem como usar os botões da chamada de elevador. Cada patamar tem dois: um com uma seta para cima; outro com uma seta para baixo. Funcionam de uma forma bastante básica: quando uma pessoa se dirige a um andar acima daquele onde está, carrega na seta para cima; quando, por seu turno, se dirige a um andar abaixo daquele onde se encontra, carrega na seta para baixo. Elementar? Diria que sim.

Mas no Panamá as coisas são diferentes e a doutrina vigente neste edifício é um pouco alternativa: quem chama um elevador para ir para um piso acima daquele onde está carrega na seta para baixo (ou seja, de chamada para descer). Porquê? Porque o elevador precisa de descer (do andar onde ficou estacionado até ao andar onde a pessoa se encontra) para depois poder finalmente subir.

E não há forma de convencer as pessoas de que se carrega na seta para cima quando se quer subir e na seta para baixo quando se quer descer. Na cabeça delas, isso só afasta o elevador e torna a espera mais longa. Não têm a menor noção de que obrigam o elevador a paragens desnecessárias durante uma viagem no sentido contrário àquele que desejam, o que prolonga ainda mais a espera de todos.

Haja paciência.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Vem aí a bela da chuvada. #panamá

De manhã, tudo indicava que aí vinha uma enorme chuvada. Mas o São Pedro  tinha outros planos, andava ocupado com qualquer outra coisa, de maneira que nos presenteou com um fantástico dia de sol e bons pedaços de céu azul, para matar a saudade.

E nem uma gota de chuva!

E o fim da tarde foi feito de pôr-do-sol dourado e cor-de-rosa. É aproveitar, minha gente, e celebrar; dias assim são uma dádiva.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

In progress. For the first time, co-authored verses in French. #embroidery #babyblanket #abbrigate

Como talvez tenham percebido pelo post anterior, estivemos com obras em casa. Acabaram ontem, e hoje vieram retirar parte das máquinas. À boa maneira panamenha, o senhor foi lá abaixo levar a máquina principal, e voltaria logo para vir buscar o resto do material. Como quem vai comprar cigarros, nunca mais voltou. E não é inédito o "esquecimento" de material em casas de clientes.

De situações semelhantes foram feitas as duas últimas semanas, e por isso - e para me abstrair um pouco - deixo aqui uma fotografia duma manta que estou a bordar. É um presente para um amigo distante (no tempo e no espaço), em conjunto com outra amiga, e pela primeira vez tem versos em português e em francês. Uma manta bilingue, portanto. abbrigate*, claro.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

No Portugalize.me, "Postais que transcendem fronteiras"

aqui contei que escrevo um post semanal no blog Portugalize.me. Penso que o âmbito desses posts também é válido aqui no Entre..., e por isso, de agora em diante, transcrevê-los-ei aqui também neste estaminé. Espero que gostem!


*


Ele há "postais" que transcendem qualquer fronteira.

Já de volta ao Panamá, temos estado com obras em casa, em virtude (ou desvirtude) de o chão de pedra da sala se ter levantado e explodido, devido a um "assentamento" do edifício. E pensar em obras em casa dá logo dores de cabeça, seja em que latitude for.

Com obras aqui no Panamá, e com este contacto forçado com o mundo da construção civil, tem sido curioso descobrir que há estereótipos que pensava serem bem "tugas", mas, bem pelo contrário, são universais.

Comecemos então pelo Pintas. O Pintas, assim chamado devido ao seu discurso e linguagem corporal de "vocês desconhecem tudo sobre o tema e eu, em contrapartida, domino-o", chega e entra casa adentro, dono da empresa que vai executar o arranjo. Para ele, tudo é fácil, nada suja e os rapazes vão deixar tudo num brinquinho quando saírem. O melhor de tudo é a sua pontualidade, em que "agora" significa "daqui a meia hora, com sorte" e "estou no elevador da outra torre" significa "não me maces, mulher, que sou preciso noutro lugar". Há sinais que o delatam: o porta-chaves com a chave do carro que pende do bolso, deixando a marca de fora. A camisa, não entalada, a cair-lhe em grande estilo por cima das calças de ganga, que são de marca e vincadas, claro. Usa sapato fino e nota-se, de uma forma geral, que há anos que não carrega um balde, quanto mais um carrinho de mão. Não admira que não saiba que uma obra suja, olhando para o seu aprumo; ele simplesmente não frequenta. Para melhorar tudo, trata toda a gente por tu, desde o empregado ao cliente, e pergunta muitas vezes se entendemos (porque todos sabemos que nós, mulheres, pouco ou nada entendemos).

Depois temos o Empregado do Pintas, um pobre desmotivado cuja única luz na sua vida laboral é o dia do pagamento. Nesse dia, trabalha meio tempo para ir receber o cheque e distribui com intervalos generosos de tempo as tarefas pelas poucas horas em que trabalha. Do Pintas, nem o número de telefone tem; encontram-se apenas quando este aparece, qual visão, para vistoriar o trabalho, e de caminho dar-lhe ordens. O Empregado do Pintas é um pobre desmotivado, que não entende o conceito de brio nem lhe compensa trabalhar mais rápido. Por isso traz o jornal, o telemóvel, e, se possível, companhia para conversar. O seu lema é "Calma. Muita. Calma."

Finalmente temos não os senhorios (que desses, felizmente, só podemos dizer bem) mas sim a sua Representante na cidade, já que vivem fora. E a sua Representante é, também ela, um estereótipo. É reconhecida pela forma como trata mal a quem sente que está num degrau abaixo na sua linha nobiliárquica interna, aquela que só ela conhece, e com falsa deferência a quem sente que está acima. É um encanto na sua calça justíssima e de cintura demasiado baixa, e exibe a sua roupa interior como se disso dependesse a nossa felicidade. Naturalmente, interrompe os outros e não ouve nada do que lhe dizem, inventando explicações e justificações para assuntos que claramente não domina. É constantemente desmentida pelos factos, que ela ignora pacificamente. Afinal de contas, ela sabe.

Tudo isto para dizer o quê? Que a expressão "só neste país...", tantas vezes ouvida na paragem do 713, não tem qualquer validade. Ele há "postais" que transcendem qualquer fronteira. (texto originalmente publicado a 21.05.2012, no blog Portugalize.me)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

San Miguel de Allende, México

San Miguel de Allende, #méxico

San Miguel de Allende, onde os nomes das lojas são pintados. #méxico

Tudo é bonito em San Miguel de Allende, #méxico

Confirma-se: o meu encanto com o México manteve-se até ao final da estadia. Por momentos tive medo que alguma coisa acontecesse e mudasse radicalmente de ideia. Mas não. Não fui assaltada, nem assediada, estive em lugares lindos, fui bem atendida em todo o lado, os carros pararam nas passadeiras e lavei os olhos - e a alma - com as casas, as cores, as vistas.

San Miguel de Allende confirmou o seu lugar no topo da tabela da minha paixão mexicana, seguida de muito, muito perto pela comida, e logo a seguir pela Cidade do México - ou por alguns bairros da Cidade.

San Miguel de Allende, coisa mailinda. #méxico

Quando chegámos, fomos recebidos por uma procissão na praça principal, com direito a guitarrada e cantoria, ao mesmo tempo que na Igreja Matriz se celebrava um casamento e um grupo de mariachis, à porta, esperava pelos noivos.

San Miguel de Allende, #méxico

A cidade está muito bem conservada, desde as suas cinquenta e três mil igrejas (não sei ao certo, mas são muitas), às livrarias e centros culturais, uma biblioteca pública cheia de livros e de gente, lojas e lojinhas bonitas, com pátios e fontes, e ruas empedradas e inclinadas, para ajudar a digerir a tortilha e o gelado.

San Miguel de Allende, #méxico

Assim nos recebeu o #méxico

Ficámos instalados numa casona colonial linda, de portas pintadas e quartos a dar para o pátio, pertinho do centro e dos correios, onde me deliciei na minha plática com o funcionário. Ao saber que os postais eram para pessoas fofinhas, deu-me uns selos lindos e adequados (e cor-de-rosa) para neles colar. Espero que cheguem brevemente, porque sei que são muito apreciados.

San Miguel de Allende é daquelas terras onde me imagino a voltar uma e outra vez.

Dados: ficámos alojados na Casa Schuck (muito recomendável), comemos na Hacienda de Guadalupe (também deliciosa, mas desconfio que em qualquer boteco mexicano se come bem). Fizemos compras em várias lojinhas, onde sempre, sempre nos trataram com imensa simpatia e atenção. Ah, serviço mexicano, já tenho saudades.

Mais fotografias mexicanas aqui.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Cartas do México

Street bench, Mexico city

A Rua da Amargura afinal existe (em San Angel, Cidade do México)

Até o chão é lindo em San Angel, #méxicodf

Nunca uma cidade me surpreendeu tanto, e tão positivamente. Terá sido porque as minhas expectativas eram realmente baixas, depois de tantos avisos quanto à segurança, ao trânsito intenso, à poluição do ar. Imaginava uma cidade gigantesca (que é), onde não podia caminhar pela rua, nem andar num autocarro, muito menos ter cara de estrangeira (que também tenho).

Mas não: após alguns dias aqui, estou fascinada com esta cidade. Cada bairro (e são muitos) é como uma pequena cidade dentro da cidade, e portanto atmosfera muda de rua para rua. É uma cidade cortada por vários eixos, de vários quilómetros, onde o trânsito é, de facto, ensurdecedor. E um quarteirão ao lado, nem mais nem menos, estamos no interior do bairro, ouvem-se os passarinhos e circula o ocasional carro, que abranda para me deixar atravessar.

A #cotel, no #panamá, já recebia esta mensagem. #méxicodf

Walking here is a pleasure, there are details to be found everywhere. #méxicodf

There's beautiful type everywhere. #méxicodf

"...and your address is, please?" #méxicodf

 Em muitas ruas me sinto em Buenos Aires, mas sem estar. As caras aqui, contrariamente ao que acontece na cidade meridional, são mestiças, desde o executivo até ao vendedor de rua. As pessoas são de uma simpatia que há muito não vejo - talvez desde que estive a fazer compras no comércio de bairro lisboeta. A vendedora de tecidos artesanais esteve a mostrar-me as diferentes moedas, quando lhe disse que ainda não as conhecia muito bem; foi até buscar a de 20 centavos de peso (1 cêntimo de euro) para que eu a conhecesse. Mostrou-me tudo o que fazia com os tecidos que vendia, desde o avental que trazia até à encomenda de guardanapos para um restaurante. Mais do que uma transacção, foi uma bela conversa. Saí com a alma cheia de sorrisos e voltei à rua, onde me senti tranquila, segura, e onde ainda não ouvi um único piropo (assédio, gente, assédio).

E já que falamos em costumes machistas, ou a ausência deles, também me surpreendeu muitíssimo que aqui os casais homossexuais dêem livremente as mãos em público, se beijem e abracem, sem serem olhados de relance ou serem apontados. Para mim, mais que um sinal dos tempos é indício de desenvolvimento social. Não sei se será assim em todo o lado, mas aqui, certamente, é.

The Metrobus is the best in terms of public transportation! #méxicodf

Até agora, usei o Metrobus, transporte público colectivo idealizado em Curitiba e importado por tantas cidades (Bogotá é uma delas). Trata-se de um "metro" de superfície, em que as carruagens, na verdade, são autocarros. O acesso é feito através de estações elevadas, de acesso reservado, e os veículos circulam em faixas dedicadas e isoladas, nas maiores avenidas. Não exagero quando digo que passam com intervalos de 15 a 30 segundos e as viagens têm um custo de 5 pesos (30 cêntimos de euro). Além disso há o Metro, que usarei amanhã e que tem uma extensa (e segura) rede.

É por tudo isto que a Cidade do México me conquistou de supetão, quando menos esperava. Estou fã, fã - e se tiver oportunidade, volto.

The Angel on Paseo La Reforma, México City

A colecção de fotografias, no flickr, encontra-se aqui.