quarta-feira, 31 de julho de 2013

Clube de bordado

Bordar é divertido!

Eu sei, eu sei, ando muito ausente. Já aqui contei que ando a fazer um curso de negócios e a dar umas voltas imensas ali para aquelas bandas. E hoje aproveito também para vos contar que, ao abrigo de todas estas mudanças, estou a lançar um novo Clube de bordado!

O Clube é para vocês, queridos leitores, que gostam de acompanhar as minhas aventuras; a partir de agora também vão poder participar. Como, perguntam vocês? É muito simples. Inscrevem-se aqui, o paypal encarrega-se dos pagamentos (25 euros por 6 meses; 45 por 12; a estes valores acresce o IVA para quem reside em Portugal) e a partir de Setembro passam a receber na vossa caixa de correio uma receita de bordado por mês para poderem bordar uma ilustração minha.

Giro, não é?

A melhor parte é que até hoje à meia-noite poderão gozar de de 15% de desconto na inscrição! Não percam e inscrevam-se já, já.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mais mimo, por favor

Quatro meses volvidos depois do regresso a Lisboa, pergunto-me se a lua-de-mel está a chegar ao fim. De repente, dou por mim a reparar no lixo no chão, ou nas paredes pintalgadas por vândalos que gostariam de ser artistas de grafitti.

Talvez já se me tenha apagado da memória a sujidade absolutamente negligente das ruas da Cidade do Panamá, mas nos últimos dias tenho reparado que há vários bairros da nossa cidade que estão sujos. Os passeios estão cheios de substâncias várias, para além dos suspeitos do costume: aos cocós de cão (donos, onde andam vocês?) juntam-se manchas pegajosas de origem desconhecida. Manchas sobre as quais antigamente alguém mandava um balde de água com detergente, mas hoje parece que essas almas cuidadosas já não têm ânimo, energia ou idade para o fazer.

É pena. E voltamos ao mesmo de sempre: tudo o que temos é mau (e não o cuidamos); tudo o que vem de fora é excelente, e os estrangeiros são todos muito melhores que nós. É outra vez o fatalismo do "país que temos", quando na verdade este é o "país que fazemos".

Que caminho há para inverter esta situação? Bem, eu sugiro que sejamos nós a arregaçar as mangas, ou seja, a acção cidadã, que continua a ser a melhor, mais eficaz e expedita para resolver a maioria das situações que queremos mudar.

Proponho o seguinte: esta semana, se virem um papel atirado ao chão, apanhem-no e deixem-no no lixo. Se virem muito lixo, liguem para a Câmara.

Quanto aos horrorosos tags nas paredes, preciso das vossas ideias. Que fazer? Conhecem receitas caseiras para tirar aquela porcaria das paredes? Algum número para onde possamos ligar? Uma carta que possamos escrever à Câmara, alguém a contactar?

Ajudem-me, por favor. É que temos de cuidar o nosso espaço, seja ele Lisboa, Porto, Funchal ou Terceira. Não importa: é nosso, é de todos. E temos de ser nós a fazer algo para que todos possamos viver num espaço mais bonito.

*

Este texto foi inicialmente publicado no Portugalize.me. Como costuma acontecer nos assuntos do coração - no meu caso, paixão por Lisboa - gerou alguma discussão lá por terras facebookianas. Frutos dessa discussão são:

• plataforma da Câmara Municipal de Lisboa para o munícipe pedir recolha de lixo, lixo volumoso, entre muitas outras coisas
• grafittis limpam-se com diluente ou ácido muriático, à venda em drogarias (requer uso de luvas grossas e máscara protectora)

Uma cidade mais cuidada está nas nossas mãos, gente!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Cápsula do tempo

I'm never tired of Sebastião Rodrigues's work. This cover is 50 years and doesn't feel dated. #illustration #design #almanaque #portugal

Quando, há quase sete anos atrás, parti para a Argentina, fechei o que não vendi dos recheios da minha casa e do atelier em caixotes, guardados na arrecadação dos meus pais.

Os anos foram passando e em cada viagem de férias resgatei alguns livros que queria mesmo ter perto de mim. Não muitos, infelizmente; o limite de peso na bagagem de porão não o permitia (e o azeite da Capinha ganhou sempre).

Apesar de me ter continuado a rodear de livros, é para mim difícil explicar a alegria que senti, quando há umas semanas atrás desembalei os caixotes, limpei o pó aos muitos livros e os arrumei em estantes. Não consegui evitar a sensação de estar a abrir uma cápsula do tempo, em que até o ar era o que ali ficara fechado quando os livros foram guardados.

Descobri com alegria vários títulos que me acompanharam durante os meus anos de trabalho em Portugal.

É o caso do catálogo da exposição do trabalho de Sebastião Rodrigues, que teve lugar no ano de 1995, vivia eu ainda em Macau. Na altura já sabia que queria estudar Design, mas estava longe de conhecer o que se fazia em Portugal.

Sebastião Rodrigues ilustrou e paginou publicações, cartazes, postais. Dedicou-se aos seus trabalhos com um sentido de atenção ao pormenor e uma minúcia que a mim me apaixonam. Penso ser por isso que hoje me dedico a fazer ilustrações bordadas, e ensaio, de figura para figura, um ponto cada vez mais pequeno.

Nos dias que correm, fazemos, enquanto colectivo, uma inversão paradoxal nos nossos interesses: com o smartphone mais moderno registamos o apreço pelas técnicas tradicionais que definem a nossa identidade. E é por isso que, ainda hoje, o trabalho de Sebastião Rodrigues é tão actual: porque combina linhas e formas que ainda hoje são contemporâneas com uma admiração pela tradição e um domínio das técnicas de paginação manual.

Se tiverem oportunidade, não deixem de folhear este livro. Se forem como eu, vão precisar de pano absorvente para evitar a baba na folha.

(Este texto foi publicado pela primeira vez no Portugalize.me.)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Aqui e agora

I thought I was seaside. Fantasy courtesy of seagulls. #lisboa #lisbon #perfectblue

Esta foi a minha primeira semana no meu novo atelier. Três meses depois da chegada a Lisboa, finalmente sinto que começo a instalar-me. Na minha vida ainda há caixotes um pouco por todo o lado, mas decidi que não seriam esses (não muito) pequenos detalhes que me retirariam esta sensação de, finalmente, estar a estabelecer uma rotina na minha nova cidade.

Esta manhã, cheia de sol mas ainda fresca, trabalhava sentada, de janela aberta, quando comecei a ouvir gaivotas. Não foi imediato: comecei a ouvi-las, senti que era Verão, que estava na praia, a brisa do mar a bater-me na cara.

Mas não: estava sentada a trabalhar, no meu atelier, num dos projectos que tenho em mãos. Olhei pela janela aberta e vi uma gaivota pousada no telhado em frente. Nas suas tarefas de gaivota, comunicava com uma companheira, pousada noutro canto do telhado. O seu gaivotês despertou em mim uma memória de Verões anteriores; com ela, uma sensação de descanso, relaxamento, frescura, lazer.

Comecei a pensar em como se deve estar bem na praia, calor mas não demasiado, passeios à beira-mar, um gelado comido antes de mais um banho.

Não sei exactamente porquê, mas o meu pensamento inverteu-se. De repente dei por mim a pensar que em vez de longe e impossível era aqui, no meu novo atelier, com estas gaivotas a gritar e com este mesmo projecto que tenho em mãos, uma ilustração bordada que me traz imensa alegria... é exactamente aqui que quero estar.

Foi uma boa sensação.

E vocês? Aqui e agora, ou lá longe e impossível?

Este texto foi previamente publicado na minha coluna semanal no Portugalize.me