segunda-feira, 23 de abril de 2012

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Seguindo as recomendações dos amigos chapines (guatemaltecos), assim que aterrámos no aeroporto La Aurora (que nome lindo!), na Cidade da Guatemala, encaminhámo-nos directamente para a antiga capital do país, cujo nome é, sem surpresas, Antigua Guatemala.

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

O nome pode não ser surpreendente, mas a cidade é. Mais tarde ficámos a saber que já não era a primeira capital, mas sim a terceira, depois de Iximchel (que não visitámos) e Ciudad Vieja (que visitámos, de bicicleta, e fica a poucos quilómetros de Antigua). A cidade está rodeada por três vulcões, visíveis de todos os pontos da sua planta e que muito ajudam à orientação. Ao sul, o vulcão de Água, assim chamado devido a um triste acontecimento em 1541, quando uma imensa enxurrada de água estagnada acumulada na cratera, juntamente com lama e terra, inundou a então capital. A sua destruição ditou a mudança da capital de Ciudad Vieja para Antigua. Os outros dois vulcões são a oeste da cidade: Fuego e Acatenango, que subimos.

Antigua é o arquétipo de cidade colonial espanhola, com a sua praça mayor - aqui, denominada de Parque Central, já que é arborizada - onde se localizam os palácios de governo e a catedral. É, literalmente, o centro da cidade e também o seu eixo: a partir daí, as avenidas denominam-se pelo seu número, seguido de "norte" ou "sul" e as ruas, por seu turno, pelo ordinal, seguido de "nascente" ou "poente". E por se tratar de uma grelha, a orientação é facílima em Antigua, sem surpresas.

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

As ruas são calcetadas à maneira antiga e a construção, bastante preservada, é colonial; em cada rua há uma igreja, mais ou menos recuperada, ou um mosteiro reconvertido em hotel. É esta riqueza de património - e a sua conservação - que conquistaram a certificação da Unesco como Património da Humanidade.

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

É uma cidade que conta com boa infra-estrutura turística e que tem muitas escolas de espanhol como língua estrangeira. Por isso, a sua população flutuante consiste de muitos estrangeiros que aí permanecem por temporadas, fazendo da cidade uma base para as explorações da região dos vulcões.

Antigua Guatemala

Antigua Guatemala

Os restaurantes são muitos e variados e, para nossa imensíssima alegria, descobrimos que os guatemaltecos gostam de sopa. Há sopa a toda a hora e a toda a refeição, normalmente acompanhada por uma fatia ou duas de pão. Pela primeira vez, comi sopa de tortilla negra, uma sopa de vegetais com pedaços de tortilha feita com milho negro (seguramente tem um nome específico, que eu desconheço).

Antigua Guatemala

Passámos dois dias em Antigua, onde nos cruzámos várias vezes com as procissões por ocasião da Semana Santa. Quem quiser apreciar a religião de forma bem teatralizada, muito tétrica, ver homens mascarados de carrascos e meninas pequeninas com andores pesadíssimos aos ombros, não pode perder Antigua nesta época. Para mim, todo este espectáculo é um pouco excessivo, mas quando me cansava mudava de rua e via outra fachada linda.

Depois destes dois dias, usámos a cidade como ponto de partida para explorar os arredores. Contratámos passeios com duas agências, uma delas recomendada abaixo, e aproveitámos o calor com que nos receberam no Hotel Cirilo, um lugar que aconselho vivamente a quem gostar de alojamento cómodo, limpo, com um acolhimento familiar e com todos os confortos de um hotel de primeira categoria.

As nossas recomendações são:
Hotel Cirilo
Old Town Outfitters (a agência de viagens com passeios bem alternativos)

Temos muitas recomendações de restaurantes, mas essas ficarão para outro momento.

E para quem quiser ver mais fotografias, a colecção flickriana - ainda em actualização - encontra-se aqui. Muitas fotos são do Príncipe, a quem agradeço; ele tem um olho perspicaz e é rápido nos reflexos, tendo tirado fotografias espectaculares durante as férias.
Antigua Guatemala

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Portugalizo-me

Fly London

Aqui há umas semanas, a Raquel Félix iniciou um muito interessante projecto de valorização das marcas portuguesas e da nossa apreciação das mesmas, tanto dentro como fora de portas. Lançou o blog Portugalize.me e muito amavelmente convidou-me para contribuir semanalmente. Este é o mais recente post que lá escrevi e a ilustração também é minha - quem me conhece, sabe o amor que tenho por estas sandálias!

Leiam e subscrevam!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vulcão Acatenango, Guatemala

A subida ao Acatenango foi das melhores experiências de viagem que tive até hoje. Melhor? Bem, talvez marcante ou emocionante sejam mais apropriados. Ou, reconsiderando, e usando uma expressão da minha querida C1, "pode ser melhor".

O dia começou pela fresca: às 4h30 da manhã, ainda escuro como bréu, apanharam-nos no hotel. Em Antigua, o frio da madrugada aperta. Por isso estávamos com as várias, digo, todas as camadas que tínhamos levado para a viagem. Na mão, o pequeno-almoço num saquinho. Entrámos na van com a nossa banana, o pão com doce de manga e o sumo de pêssego sem imaginarmos o que nos esperava.

Sunrise en route to Acatenango volcano, Guatemala

O sol nasceu no caminho entre Antigua e a aldeia que nos serviu de campo de base. Apareceu atrás de uma colina, laranja, lindo, prometendo um dia especial. Oseas, o guia, no banco do condutor, parou para nos dar aquele regalo por nos termos levantado tão cedo. Nós fotografámos.

Going up, many hours to go. #Guatemala #Acatenango

Chegámos então ao nosso ponto de partida, uma aldeia com uma latrina comum onde de um ganchinho pendiam folhas de jornal. A 2200 metros sobre o nível médio do mar, naquele aglomerado de meia dúzia de casas vivem os agricultores que cultivam as terras aráveis da encosta do vulcão. E também lá vive o nosso segundo guia, um maia de nome Sixto, que até aos dezoito anos pensou chamar-se Enrique.

Começámos a subida aos infernos. Sim, quem pensa que o inferno é exclusivamente subterrâneo está redondamente enganado. O vulcão Acatenango é um inferno, mas também é um paraíso.

Aos vinte minutos de caminhada, por entre campos de batata, de feijão e de milho, eu sentia que a minha garganta se fechava com o bater frenético do coração. Nem eram as pernas: era o coração que se tentava habituar ao esforço, num ar que já era rarefeito. Tive de parar com frequência para poder abrir uma estreita passagem para o ar. Pensei, muito seriamente, que não poderia continuar. O grupo ia lá à frente; comigo, o Príncipe e Sixto, que prontamente me arranjou uma cana-cajado. Continuei.

Na paragem seguinte, Oseas, o guia, contou-me o segredo: dar passos curtos, lentos, a um ritmo constante e sem paragens. E a verdade verdadeira é que, passado um bocado, me senti bem. Cansada, mas bem. As pernas obedeciam-me, o coração tinha voltado ao lugar dele, no peito. As costas estavam feitas um rio, reajustaram-se camadas de roupa e aí continuámos nós.

Depois dos campos cultivados passámos a uma etapa de bosque de montanha tropical. A vegetação, cerrada, oferecia-me mais oxigénio que os campos cultivados. Os trilhos eram, a dada altura, perfeitos caminhos de cabras, descidos aos saltinhos por quem havia pernoitado na cratera. Quando nos cumprimentavam, só lhes conseguia dizer que os admirava.

E sabem? A vantagem de viajarmos por países cuja língua conhecemos é exactamente essa: as pessoas respondiam-me, alentavam-me, diziam-me que faltava pouco para a próxima estação de descanso.

Walking on clouds (almost). #acatenango #guatemala

E entre estações de descanso, lá subimos mais metros e chegámos à parte de pinhal. Pela estação seca e pela altitude, muito menos denso que o bosque abaixo. A esta altura, as nuvens começaram a vir namorar-nos de perto. Às vezes víamos a pessoa da frente; às vezes não.

Misty, cloudy, wet. #acatenango #guatemala

Passado algum tempo (horas, minutos?) chegámos ao ponto máximo da montanha em que nos encontrávamos e começámos a contorná-la num trilho estreitinho mas muitíssimo agradável de pequenas subidas e trechos planos. As minhas pernas já não sabiam mexer-se sem ser a subir, por isso obrigava-me apenas a separá-las em passos largos, para aproveitar a inércia do movimento.

Depois desta etapa de paraíso começou a verdadeira subida: no terreno de terra vulcânica solta, a sensação era a de andar na praia, na areia seca, como se estivéssemos a subir uma duna interminável.

Having lunch. One hour to go. #guatemala #acatenango

Ao fim de cinco horas de subida, e a uma da cratera, Oseas preparou-nos um almoço de tortilha com guacamole, tomate e frijoles refritos para retemperar forças. A esta altitude, quando o sol brilhava, o calor era abrasador. Quando vinham as nuvens, o frio congelava-nos. Em dois ou três minutos a sensação térmica variava da praia para o ski, do Verão para o Inverno. Quando dei por mim, tinha os lábios completamente roxos. Temi que tivesse que ver com o mal de altura, mas tive sorte: contra o frio basta pôr mais uma camada e calçar umas luvas, emprestadas.

Chegou então a última subida, porventura a mais difícil: pedra e terra solta, numa inclinação sem um arbusto ou árvore. Caminhámos pela crista da montanha: qualquer passo ao lado seria já, tecnicamente, uma encosta - bem inclinada, por sinal. A cratera esperava-nos, cada vez mais perto. Mas cada vez custava mais pôr um pé à frente do outro. No grupo, houve quem precisasse de comprimidos para combater as náuseas provocadas pela falta de oxigénio. Comigo, não sei que milagre se processou: depois do início tremido, tudo se compôs e não mais senti os efeitos do ar rarefeito.

Quase a chegar à cratera, sentia os olhos a marejar-se de lágrimas. Quem diria? Depois de ter achado que ficava logo no início, não foi com muita confiança que retomei a caminhada. Estar ali, naquele momento, quase, quase a chegar à cratera foi mágico.

We made it to the crater, at 3976m! Barely visible, Fuego volcano erupting. #acatenango #guatemala

Hail falling on the crater, mixed with ash from Fuego volcano. #guatemala #acatenango

E depois cheguei. Seis horas, 15km e 1776m de desnível mais tarde, cheguei à cratera. Dei um salto. Celebrei. Ao lado, o vulcão de Fuego fazia breves aparições por entre as nuvens. Da sua cratera saía uma linha de fumo; as suas erupções ouviam-se ali mesmo ao lado e a cinza caía-nos em cima.

Up in the sky: on the crater of the Acatenango, Guatemala

We made it to the top!

Começou a cair uma granizada valente que foi cobrindo a cratera de branco. As pedrinhas que me caíam nas orelhas doíam. Muito. E começámos a descida.

Não fazia a menor ideia de como conseguiria chegar à base, sobretudo tendo em conta que as minhas pernas já só sabiam subir. Descobrimos, com muita alegria, que a terra solta - tão terrível de subir - era muitíssimo divertida de descer, com o improvável bónus de ter de esvaziar os sapatos de pedrinhas umas vinte e três vezes por minuto. Descemos por trilhos diferentes, trilhos estreitos, largos, de terra firme e terra solta, de pedras, de raízes. O meu rabo viu o chão mais que uma vez.

Até que, finalmente, chegámos à aldeia. E aí, as minhas pernas recusaram-se terminantemente a mexer mais um milímetro que fosse.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Enquanto não chegam os relatos guatemaltecos...

"we're in Panama!" now at Ay Robot! in la Antigua Guatemala. #zine

...conto-vos que a zine deu uns bons passeios pela Guatemala e foi parar à loja de banda desenhada antigüeña "¡Ay Robot!". Se espreitarem o site, verão o balcão onde esta fotografia foi tirada.

Finalmente resolvi o problema de toner que tinha com a impressora e há novamente distribuição de exemplares pela cidade... e pela América Central. E sabem que mais? Está quase a fazer dois anos de vida! Dois! Viva!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um cheirinho da Guatemala, "Guate" para os amigos

Mint tea in a new country.

Procession during holy week in Antigua Guatemala.

"we're in Panama!" now at Ay Robot! in la Antigua Guatemala. #zine

Inner patio of Café Condesa, la Antigua Guatemala.

How green can watercress soup be? And how red can strawberry juice be? #guatemala

Going up, many hours to go. #Guatemala #Acatenango

Misty climb

Holy week procession in la Antigua Guatemala.

See you, Tikal

We climbed two of these volcanoes. :)

Estamos de regresso da Guatemala, depois de nove dias de passeios, subidas, descidas, bicicletas e muitos, muitos quilómetros nas pernas. Antes de entrar nos relatos detalhados, deixo aqui um cheirinho do que foram estes dias. Podem, se quiserem, ver mais fotos aqui.

Na última foto que aqui vêem, vimos o último pedacinho de céu azul durante vários meses; aqui no Panamá já começou a estação das chuvas, o que significa que só lá para final de Dezembro teremos um dia de "sol firme e céu azul".