segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sopa de tortilha, iguaria mexicana

Sopa de tortilla

Uma das coisas boas dos nossos dias panamenhos é a intensíssima vida social que levamos. Como este é um país com muitos, muitos imigrantes - só a empresa em que o Príncipe trabalha, diz-se, deslocou para cá mais de 600 famílias -, há muita gente com a mesma disponibilidade que a nossa. Ao contrário do que acontecia na Argentina, onde quase só tínhamos amigos locais, aqui as pessoas estão longe das respectivas famílias e por isso acabam por criar laços com mais facilidade.

Terminado o preâmbulo, é fácil entender que nos damos com muita gente, de muitas nacionalidades diferentes. E porque gostamos de comida - e diz que há mais gente que partilha esta loucura - criámos, assim meio por acidente, um Clube de Cozinha com mais dois casais. Os jantares vão alternando em casa de uns e de outros e cada qual apresenta uma iguaria do seu país.

Ora uma das primeiras sessões foi de comida mexicana, feita por uma mexicana, e foi uma delícia. Começámos com uma magnífica sopa de tortilla, acompanhada de abacate e queijo fresco. O impacto nas nossas papilas gustativas foi tal que a nossa anfitriã nos forneceu genuínas tortilhas para repetir a experiência em casa.

Igual, igualzinho? Não. Bom? Sim, senhores leitores. Uma delícia. E fotografei, como podem ver acima.

Gracias, Wicha!

Em três dias apenas

Estivemos nesta casa mais de um ano sem ver praticamente fauna nenhuma. Nos últimos três dias, por uma qualquer razão que desconheço, já avistei osgas - três vezes, pelo menos de dois tamanhos - e uma gigantesca barata.

Nos meus tempos de Macau, as baratas eram visitas assíduas, por isso até estava a estranhar a sua ausência panamenha. O que me surpreende é que todos estes episódios sucederam no espaço de três dias. Três.

Hmmm.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Entre o Panamá e as memórias de Buenos Aires

Hoje estive a fazer tempo num lugar onde estava um piano de semi-cauda a ser tocado. Um lugar de passagem, o pianista já devia estar habituado a não receber a menor atenção porque, como estratégia, pegava as canções umas às outras, como se de um comboio se tratasse. Quem não estivesse atento, ouviria uma única canção, lá ao fundo.

Enquanto o ouvia lembrei-me de uma episódio ainda em Buenos Aires, mesmo antes de nos mudarmos para o Panamá.

Certa noite, por um passeio de uma qualquer rua da cidade, olhei para baixo - precaução imprescindível para não pisar "minas" nem tropeçar em lajes levantadas - e vi uma nota de cinquenta pesos (a taxa de conversão aponta para os dez euros, mas naquela altura equivaleriam em termos de poder de compra a uns vinte e cinco euros). Olho para todos os lados, porque cinquenta pesos a menos iria fazer muita diferença à pessoa que os tivesse perdido. Não vi ninguém, de maneira que peguei na nota e levei-a na mão, determinada a entregá-la ao primeiro sem-abrigo que encontrasse. Afinal de contas, aqueles cinquenta pesos não eram meus.

Por acaso do destino, não me encontrei com nenhum; nem com malabarista de semáforo, nem senhora com o filho ao colo a pedir comida. Não encontrei ninguém.

Os dias foram passando e a nota de cinquenta pesos continuava dobradinha à espera de ser entregue, até que na última noite em Buenos Aires, já a achar que não íamos encontrar ninguém, decidimos que o que tinha que ser tinha muita força. Aqueles pesos não eram nossos, tínhamos de nos decidir.

Fomos jantar a um restaurante muito bonito, num palácio que pertencia ao clube dos franceses. Entrámos e parecia que estávamos noutro tempo e noutro lugar, a viver um daqueles ambientes vagamente coloniais, vagamente Hemingway, com bar de cocktails e cadeirões de cana num pátio interior.

A sala de jantar tinha uma lareira grande onde pousavam as garrafas de vinho; a ementa do dia era declamada pelo cozinheiro. O jantar foi uma delícia, claro está, e o ambiente completado com um piano tocado ao vivo, numa sala ao lado, por um pianista que não recebeu uma única palma durante toda a noite.

No fim do serão, o músico veio às mesas recolher as suas gratificações: já tínhamos decidido que era aquela a pessoa que ia receber os cinquenta pesos. O pianista recebeu a nota, teve um momento de hesitação e espanto, depois olhou-nos emocionado. Não era preciso, não era preciso...

Ele não sabia, mas naquela noite calhou-lhe a ele receber o agradecimento que devemos a tantos pianistas de tantos lugares de passagem e que nunca recebem um olhar sequer de reconhecimento.

O senhor de hoje, surpreendido com as palmas, veio-me perguntar se gostava de música. Sim, gosto, e ainda mais tocada ao vivo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Yoga à luz das velas

Esta manhã acordei mais tarde que o habitual: o dia estava tão escuro que o meu despertador natural não funcionou. Cheia de preguiça, arrastei-me para fora da cama. Preparei-me para sair para a aula de yoga, mas lá fora chovia tanto...

Deu-me a preguiça, muita preguiça, e só me convenci quando pensei que fazer yoga com a chuva a cair seria certamente muito bom.

Lá fui eu. Cheguei encharcada, como se previa, apesar desse facto cá ser pouco relevante - com o calor que faz, não há inconveniente em molhar o pezinho, ele seca logo a seguir.

Quando cheguei, lembrei-me; e sugeri ao professor acendermos umas velinhas. Que achava ele? Ele não só não hesitou como acendeu uma vela em frente de cada aluno e toda a aula foi dada em função da vela, à volta da vela.

Foi uma aula especial, e especialmente boa.

Não foi novidade para mim, mas confirmei que vale a pena vencer a preguiça e ir: saio de lá mais alta, mais magra e mais sorridente do que entrei.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Viva o surf!

Dado que um dos meus objectivos do ano era aprender a fazer surf, há uns meses atrás pusemo-nos a caminho da escola recomendada, a Panama Surf School, equipados com as lycras de manga comprida - e com super-mega protecção solar - e os calções de perna também comprida, já que a pele esfolada pela prancha não é agradável, sobretudo tendo em conta que a água do mar é, enfim, salgada.

Surf lessons in El Palmar, Panamá

A escola fica a cerca de 100km da Cidade do Panamá - perto, portanto -, numa pequena aldeia chamada El Palmar, na costa do Pacífico. Para cada dois alunos há um professor dentro de água connosco, a ajudar-nos a apanhar as ondas e a apontar os detalhes a corrigir. Quando o mar está calmo, conversamos, tiramos dúvidas, fazemos-lhe perguntas. Quando o mar está mais agitado, levamos tareia, ele mais que qualquer um de nós.

A rua da nossa escola está ladeada de mangueiras, árvore que eu nunca tinha visto com olhos de ver. Desconhecia o porte, a forma da folha e o aspecto do fruto. Tudo isso mudou quando chegámos pela primeira vez, em plena época de manga - e sentimos um forte cheiro a fruta e muita, muita manga caída no chão.

Olhámos para cima e vimos as copas das mangueiras:

Mango trees

Olhámos em frente e vimos...

Iguana having mangoes...

...a senhora iguana, que se regalava com o pitéu que a esperava no meio da rua.

Observações à parte, lá dentro receberam-nos assim:

Surf lessons!

Era hora de ir surfar!

Em noites pós-aulas de surf dormimos tão, mas tão bem! Ah, que regalo...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Chamo-lhe um figo

Doces regionais algarvios

Doces regionais algarvios

Tenho uma gigantesca pasta de fotografias das férias aqui no meu computador. De vez em quando, vou lá espreitar e tiro uma ou duas imagens para ir matando as saudades.

Os doces regionais algarvios devem ser dos poucos da doçaria portuguesa de que realmente gosto, com todo o amor e paixão que se pode sentir por uma sobremesa. Não que não sejam deliciosos; eu é que não sou particularmente amiga de doces - de longe, prefiro salgados.

Mas aqui abro uma excepção: primeiro, porque são lindos. Imitam frutos, bichos, flores; são pintados com cores saturadas e, claro, sabem bem. Exceptuando os que têm forma de camarão-barra-lagostim-barra-gamba, adoro escolher um bolinho, trincá-lo devagarinho e olhar para o interior, para ver se tem fios de ovos. Adoro o contraste do ligeiríssimamente amargo da amêndoa com o doce predominante, a textura e o volume.

Dêem-me doces regionais algarvios (excepto em forma de gamba) e sou uma mulher feliz.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Oh.

RIP Steve Jobs

Estou triste com a notícia da morte de Steve Jobs. Que fazer? Graças a este senhor há vários anos trabalho de forma muito mais cómoda e com sistemas operativos intuitivos, funcionais e fáceis de aprender; apesar de usar computadores da marca há mais de 10 anos, até hoje só tive duas máquinas. Obsolescência? Esta em que escrevo já tem cinco anos e continua a dar cartas.

Há mais de um ano atrás apaixonei-me pelo iPad, ferramenta que uso todos os dias, sobretudo para lazer, mas também para trabalhar. Os cépticos não lhe encontravam utilidade; eu já não sei como seria viver sem ele.

Ao maluco que imaginou que podíamos ter toda a nossa música num paralelepípedo (iPod); que quis um telefone só com um botão (iPhone) e que achou que devíamos navegar na net numa coisa para a qual nem havia nome (iPad), só posso agradecer. Estas ideias loucas vieram revolucionar e facilitar a minha vida.

Em jeito de despedida, o discurso do fim de ano na Universidade de Stanford. Vale a pena ver até ao fim.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não havia necessidade

Há dias em que me esforço muito por tentar ver os lados positivos deste país onde vivo. E ele há-os, claro que sim. Mas há outros em que só consigo pensar que francamente, não havia necessidade.

Há um par de semanas, tivemos a visita de um amigo que fazia uma escala de cinco horas na cidade. Pediu-nos para passarmos de carro nas principais atracções turísticas. Primeira paragem, Casco Viejo. Passeámos um bocadinho e, claro, levei-o à Plaza Mayor, a da Catedral. Parecia haver uma procissão, o que normalmente é sinónimo de espectáculo de luz e cor.

Quando entrámos na Catedral, o panorama foi este:

Iglesia Catedral, Casco Viejo, Panamá

Iglesia Catedral, Casco Viejo, Panamá

No meio da lixarada, até uma sola de sapato encontrei. O meu amigo, cheio de sentido de humor, dizia-me que adorava visitar os mercados das cidades que visitava. E eu pensava nos meus pais, que quando visitaram a Catedral em Fevereiro passado a acharam pouco cuidada... comparada com isto, estava um brinquinho.

Para a nojice e para a falta de civismo e de respeito não há a menor paciência.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A edição-inundação está no ar!

"We´re in Panama!", issue 16

Ainda a estação das chuvas vai no adro, qual procissão, e já aí está o número que celebra o fenómeno frequente da bela da inundação. Até Dezembro, muita água há-de cair (literalmente) e muito bolor há-de chegar à roupa (ou não, que eu ando alerta). Mas agora, confesso, já estou um pouco cansada dos dilúvios bíblicos que se fazem sentir, potenciados pelo deficiente sistema de drenagem da cidade.

E porque é destas histórias bizarras que se faz esta zine, é ir, meus amigos, é ir ler exactamente aqui. E depois fazer uma passagem pela página do facebook para apertar o botão do "gosto".

domingo, 2 de outubro de 2011

Percebes?

Oh, bela visão!

O que para uns pode consistir numa visão dantesca, para mim é promessa de deleite gastronómico.

Tento explicar aos amigos de cá o que são percebes, como se comem e a que sabem. Mas é inútil: olham e acham que isto deve ser coisa do outro mundo e que os seus apreciadores só podem ser marcianos (ou, vá, portugueses). Quando lhes digo que é como comer mar com consistência, não entendem.

Só provando.

E agora, olhando as fotografias das maravilhosas refeições das férias em Portugal, salivo e recarrego as baterias. Diz que agora só para o ano.