segunda-feira, 29 de junho de 2009

Eleições várias

Ontem houve eleições cá na Argentina. De uma forma geral e muito resumida, a dinastia K levou uma valente machadada na sua confiança. Ainda não ouvi o discurso da derrota (que foi dado em directo... às duas da manhã) nem o da presidente (estava muito mais divertida a beber um chá e a conversar, porque foi hoje a meio da tarde), mas pelo que ouvi das minhas colegas, suponho que de várias formas mais ou menos encapotadas tenham tentado esconder a amplitude da perda com uma alegação ou duas de fraude.

Mas adiante.

Também sobre eleições, desta feita no Irão, a Diana publicou um vídeo arrepiante no blog dela. Nada temam, porque não contém imagens chocantes. Mas vale a pena ver.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Podcasts

Há já bastante tempo, a C. perguntou-me que podcasts ando a ouvir actualmente. Ora aqui está um assunto que me é caro porque, para quem trabalha sozinha como eu, o podcast funciona sobretudo como uma grande companhia.

Passo a contar:

Definitely not the opera, da CBC Radio.

Para quem fala inglês e gosta de ouvir temas bem abordados, sem nunca serem aborrecidos. Nestas emissões já tocaram assuntos tão diferentes como o valor de um agradecimento, o que são as queixas e porque nos queixamos e muitos outros. Hoje estava a ouvir o programa sobre distracções e, mais uma vez, senti-me muito acompanhada. Afinal, não sou só eu que tento fazer tetris com o meu tempo, me levanto, vou à cozinha buscar uma chávena de chá e volto de lá com um lenço de papel, mas sem chávena de chá. Limpo o nariz e penso que me picam as mãos. Vou à casa de banho e ponho creme, mas ao passar pelo quarto lembro-me de uma camisola que queria pôr a arejar. Olho para a mesa de cabeceira e vejo uma revista que me chama a atenção; pego nela e vou para a sala e sento-me no sofá. Sinto frio e ligo a televisão para ver a temperatura lá fora. Chi, está mesmo frio, deve ser por causa do aquecimento que o ambiente está tão seco. Levanto-me e vou à cozinha buscar uma chávena de chá: "que estranho, o chá já está frio...", penso eu.

Ah, o podcast! É verdade. Para quê tentar descrevê-lo? Ouçam-no, porque vale a pena.


Coisas que acontecem e Laboratolarilolela

Cada um são meia dúzia de minutos com o belo do disparate do Nuno Markl, o que me dá sempre para a risota. Para acompanhar ilustrações e trabalhos que requeiram menos concentração, pois claro.


Governo Sombra, TSF

Para me manter próxima da realidade portuguesa, nada melhor que um banhinho de Governo Sombra. A actualidade nacional já comentada, com piada incluída e tudo. Gosto muito e consta até que já mandei sonoras gargalhadas, dizem os vizinhos da frente que não percebem como é que uma pessoa sozinha, debruçada sobre uma mesa, se ri tanto.

Sticks and String

E este é o útlimo podcast de que sou fã há muito tempo. O tema é o tricot e é feito por um senhor australiano que vive nas montanhas perto de Sydney e que tricota (não só mas também) a caminho do trabalho. Para quem não tricota, suponho que não deve ter muita graça; para quem tricota, a coisa muda de figura, já que ele entrevista pessoas famosas deste universo (o do tricot), conta como vão os seus projectos, fala dos dois gatos, faz crítica de agulhas, fios, livros e revistas sobre tricot. E tem piada, claro.

De resto, vou ouvindo de forma intermitente os podcasts de Stephen Fry, os episódios da Praia das Maçãs, as entrevistas no Pessoal e Transmissível e as conferências TED Talks. E estou a ouvir o audiolivro Little Women, de Louisa May Alcott, disponível de forma gratuita aqui.

Frio

Com a chegada do Inverno, aproxima-se também a temporada de ski, momento muito esperado aqui nesta casa (mais por um que por outra). Enquanto contamos (alguém mais que eu) as semanas até à partida para Ushuaia, tricoto alegremente os gorros e passa-montanhas a usar nas extremas temperaturas austrais. Sim, porque aparentemente as temperaturas sentidas lá no sul não são para os betinhos que vão a Bariloche (nós, no ano passado) ou a Las Leñas, praticamente tropical (nós, há dois anos).

Em regime de preparação para o frio, estou no processo de tricotar este passa-montanhas:

Passa-montanhas

Depois de já ter tricotado este gorro...
my cabled hat
...que estreei esta manhã, depois de ver na televisão que a temperatura era de -0,3ºC (acho que os senhores da televisão devem ter adorado ir buscar o "menos" à biblioteca de símbolos estranhos e raramente usados).

E tricotei este e também o bordei (onde ficaste tu, ponto cruz, depois de tantos anos de tortura e de sofrimento?):
DSC03660

É, não dá para ver mas é o monograma de certa pessoa desta casa. O que uma pessoa faz por amor!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sobre a vaidade

my sweater, now completed!

Ou talvez não. Talvez não seja "sobre", mas sim "a vaidade". É a vaidade de quem terminou total, definitiva, completamente a camisola azul, já com o galão (comprado aqui) cosido. (Falta o queque, ou o bolo de arroz, e já acabava a piada sem piada!)

Gosto tanto desta camisola! Ele é a lã, fiada e tingida à mão, comprada directamente ao produtor durante a Feira de Artesanato de Buenos Aires; ele é a cor, que me faz lembrar o mar; ele é onde a tricotei, aqui na Argentina e também na Austrália, durante a nossa lua-de-mel, enquanto o "Jarbas" (perdão, Príncipe) me conduzia pelo lado esquerdo da estrada e víamos paisagens lindíssimas.

Nesta camisola aprendi a coser um fecho num tecido tricotado (não que soubesse em tecidos não-tricotados, convenhamos, mas é sempre bom aprender) e a pôr-lhe um galão por cima. E agora tento usá-la o mais frequentemente possível, porque a adoro e também porque este azul espanta os cinzentos típicos do Inverno e eu, pelo meu lado, fico muito mais feliz.

Mas agora já chega de tricotar camisolas para mim. Agora são gorros para o ski e mantas para o sofá.

Um dia esta casa ainda vai estar coberta de coisas tricotadas. Ora deixa cá procurar uma receita para um tea cosy maneirinho...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ter vida social...

...é muito bom. E é bom também não ter tido vida social em Buenos Aires durante algum tempo para agora dar valor a ter combinações com (novas) amigas e almoços e mate y galletitas com outras.

Obrigada às minhas novas amigas!

(Estou contente!)

terça-feira, 16 de junho de 2009

E vivam também os fins-de-semana prolongados!

O fim-de-semana prolongado argentino não foi tão prolongado quanto o português, já que só ontem, segunda-feira, é que foi feriado. Mas nem por isso foi menos desejado ou aproveitado que os cinco dias de mini-férias desse lado do oceano! Desde muitos tricots (no Sábado foi o dia mundial do tricot em público), a puzzle, estudo de alemão, cinema e uns quantos programas de televisão, estes três dias foram muito bem aproveitados. (E acho que me esqueci de mencionar as sestas!)

Ora poderíamos pensar que esta última alternativa, a televisão, era a menos interessante, mas, pasmem, nem por isso. E é precisamente de um dos programas que vimos que quero aqui falar.

A televisão argentina, regra geral, é uma piada de bastante mau gosto. O serviço noticioso, então, nem se fala. Nas notícias praticamente não passam temas internacionais, a menos que de alguma forma mais ou menos directa tenham repercussão local. Isto quer dizer que aqui ninguém ouviu falar de atentados bombistas no Paquistão, eleições no Irão ou até da guerra civil que houve no Sri Lanka. Não, aqui fala-se do assalto à casa de não sei quem, da colisão na estrada não sei quantas, dos jovens delinquentes no bairro tal e, claro está, nas guerras entre as facções que vão agora às urnas.

O que faz com que, sistematicamente, tenhamos de recorrer a outros canais noticiosos, o que felizmente não apresenta problemas. Entre a BBC, a CNN (nos canais em inglês e em espanhol) e a Deutsche Welle sempre vamos tendo uma série de perspectivas diferentes sobre as coisas que acontecem no mundo.

A BBC, especialmente ao Domingo de manhã, passa uma série de documentários muito interessantes, sendo que este Domingo passou um que realmente me agradou: Cocaine Diaries: Alex James in Colombia. Este documentário, realmente, é muito interessante. Nos primeiros minutos o apresentador, Alex James, dá-nos o fio condutor da hora que se segue - e este fio agarra-nos logo. Conta-nos que é agricultor, que numa vida anterior foi baixista do grupo britânico Blur e que, nessa vida anterior, era também viciado em cocaína. Entretanto, muitos anos depois, recebeu um convite do presidente da Colômbia para visitar o país e ver o que está a ser feito para combater o narcotráfico.

E ele lá vai. É recebido pelo presidente, pelo vice-presidente, vai à selva ver o que o exército faz para destruir as plantações de coca, aniquilar os laboratórios clandestinos que produzem cocaína, vê o processo (e só o processo já é bastante desencorajador, com todos os petro-químicos usados para extrair da folha o princípio activo), fala com uma "mula", ou correio, na prisão, encontra-se com traficantes e assassinos a soldo em Bogotá... Enfim, o documentário é realista, multi-facetado, e, sobretudo, responsabiliza muito o consumidor, já que enquanto houver quem consuma, haverá tráfico.

O próprio narrador engole um par de vezes em seco com as respostas que ouve - e nós também.

Tal como Alex James descobre na sua viagem, também eu achei o mesmo quando fui à Colômbia, há dois anos: é um país fabuloso, rico e diverso, com as pessoas mais gentis e bem educadas que conheci, a falar o castelhano mais melodioso e poético que já ouvi. É um país que luta por avançar e, pelo menos em termos urbanísticos, que foram os que melhor pude observar, é um país que tem dado cartas a nível internacional com projectos de mobilidade (em Bogotá) e requalificação urbana (Medellín) de primeira categoria. Mas é também um país que sofre na pele e no dia-a-dia o efeito dos vícios dos consumidores ricos (porque a cocaína é cara e não é para qualquer carteira).

É um documentário a ver.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Viva o 10 de Junho antecipado!

Camané em Buenos Aires

Ontem fomos ver o concerto que a Embaixada de Portugal em Buenos Aires nos proporcionou: Camané e os seus acompanhantes. Três excelentes acompanhantes, há que dizer!

Num concerto cujo acesso era só por convite, a sala, de cerca de 1800 lugares estava praticamente cheia. Incrível, não é? Tendo em conta que não havia assim tantos portugueses (não somos assim tantos por estas bandas), foi uma boa assistência a que se conseguiu ali, sobretudo tendo em conta o preconceito que existe por cá de que o fado é tristón.

Camané cantou e encantou, entre canções a capella, instrumentais magistralmente executados pela sua trupe e pelo entusiasmo com que se ofereceu ao público. Não tendo sido rapaz muito falador, esforçou-se por comunicar em castelhano - e comunicou sobretudo com a sua música.

Em alguns momentos, nos meus braços os pêlos levantaram-se e o coração apertou-se um bocadinho, com as saudades.

Viva o 10 de Junho!

P.S. Ao jantar, contámos à nossa amiga G., argentina, porque é que amanhã é o nosso feriado nacional. Tenho muito orgulho no facto de a data escolhida se relacionar com um acontecimento artístico e não político. Gosto do meu país!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Vinte anos

E porque hoje se comemora o vigésimo aniversário do massacre na Praça de Tiananmen, que não nos esqueçamos que não mudou assim tanta coisa no Império do Meio.

Homens nus

O "Entre..." está a ficar um antro de poucas-vergonhas. Onde é que já se viu um post sobre homens nus? Mas este post é para vos contar da minha actividade paralela de há um ano para cá, a pintura. No início tínhamos uma modelo; agora, temos um modelo. Ainda por cima chama-se Jesús - e o irmão, Dios.

Não sei se já contei esta história aqui, mas já serve de anedota para desbloquear conversas quando conheço pessoas novas. Ora um dos colegas da pintura é um rapaz novito, que ouvia falar na cola de Jesús, na espalda de Jesús, nas piernas de Jesús e achava que éramos todos muito religiosos, muito crentes e muito observantes da tradição.

Ora não senhores, estávamos mesmo a falar sobre o nosso modelo, ainda por cima um rapaz de estrutura bem definida (levante a mão quem apreciou a metáfora!) e muito simpático. Nas aulas, aguenta piadas sem fim sobre o nome dele e responde com paciência de santo (só podia) às perguntas sobre como anda Dios.

E porque ele realmente é um santo, porque faz poses complicadíssimas e não se mexe nem um centímetro, porque ainda por cima é uma simpatia de rapaz, aqui ficam as fotografias do quadro que estou a fazer.

2009.05.18_01bAssim ficou após a primeira sessão...

E assim é como está agora, após a segunda sessão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cesária Évora em Buenos Aires



Ontem à noite foi o concerto de Cesária Évora em Buenos Aires. E que concerto! A sala estava a uma temperatura claramente próxima dos zero graus (e só estou a exagerar um bocadinho), mas as mornas e as coladeras de Cesária Évora aqueceram o ambiente. Cantou as que eu conhecia e muitas que não conhecia. O encore incluiu o Besame mucho, muito requisitada pela plateia. No final estava toda a gente de pé, a dançar... não só a música convidava como também era preciso espantar o frio!

A parte chata foi a do grupo que subiu ao palco para fazer a abertura do concerto. Não fazia ideia que ia ser assim: as luzes não estavam apagadas, as pessoas ainda estavam a ser sentadas nos seus lugares, os chicos que vendiam cachorros quentes e hambúrgueres apregoavam altíssimo a sua mercadoria... Enfim, na minha opinião, uma tremenda falta de respeito para com os artistas em palco, que ainda por cima até tinham umas canções bem giras para partilhar com o público.

Já em casa casa, colei-me ao aquecimento porque os meus pezinhos mais pareciam cubitos de gelo. Brrr.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ano do Bicentenário









No dia 25 de Maio celebra-se na Argentina o início da Independência. Tudo começou na semana anterior a este dia, nos idos de 1810. Correndo o risco de deixar aqui algum disparate histórico, vou tentar contar resumidamente a história da independência desta já não tão jovem república.

Ora nessa semana, os crioulos (como chamavam aos filhos de imigrantes nascidos cá), fartos de tanto manda e desmanda da coroa espanhola, começaram a manifestar-se abertamente contra a autoridade, considerada longínqua. No dia 25 de Maio a situação culminou e chegou-se à decisão de fazer um Cabildo (como uma Assembleia Municipal) cuja assistência não fosse exclusivamente de espanhóis, mas sim onde se admitissem também crioulos. E este foi um passo muito importante.

A independência só se consuma a 9 de Julho de alguns anos mais tarde (1816), na sequência do Congresso de Tucumán, onde se fez a Declaração de Independência à coroa espanhola.

(Nota aparentemente marginal: Sobre este episódio encontrei este link, que fala inclusivamente de uns tais de "planos portugueses de invasão". Lendo o texto, até me parece que eram mais os planos das Províncias Unidas do Rio de la Plata de se unirem à coroa portuguesa, mas não é de destas politiquices que reza o "Entre...".)

Voltando às celebrações do 25 de Maio, este ano começou, portanto, o ano em que se começa a comemorar o Bicentenário. Assim, no dia 24 à noite foi feito um mega-concerto na Avenida 9 de Julio, com palco no Obelisco e muitos milhares de pessoas avenida abaixo, com muitos e variados artistas argentinos que cantaram igualmente muitos e variados hinos às personalidades da independência. Nós temos o hino nacional; eles têm o nacional e mais uma mão-cheia deles, a Sarmiento, a Cabral e a muitos outros heróis da independência (sim, Ana, ri-te!). Cada artista imprimiu o seu toque pessoal e, com a ajuda de legendas, também nós pudemos acompanhar os hinos e perceber a quem se destinava cada um deles. (Para os curiosos, aqui fica um link para todos os hinos que são cantados nas escolas.)

À meia-noite, todos os artistas subiram ao palco para cantar o hino nacional, como manda a lei. E "como manda a lei" não é força de expressão, é mesmo literal: à meia-noite toca mesmo o hino nas estações de rádio...