quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Como achei Portugal

Esta é uma reflexão que anda a marinar na minha cabeça há algum tempo e é sobre as mudanças que senti em Portugal, quando lá estive no Natal. Após algumas semanas aí, já não as sentia tanto e tive até de fazer algum esforço para me lembrar delas. Por isso, acho que este post poderá ter alguma utilidade para quem já não tem distanciamento suficiente para as apreciar (e só se lembra das horríveis casas assinadas pelo nosso Primeiro e outras desventuras semelhantes).

Tenho também a noção de ter notado essas diferenças talvez por estar a chegar da Argentina. Atenção, não quero aqui assumir um papel algo condescendente de "europeia a apreciar um país menos desenvolvido". Primeiro, porque a Argentina está muito à frente de Portugal em muitas coisas; segundo, porque ninguém gosta que um estrangeiro venha dizer mal do nosso país - acontece-nos a nós, portugueses, e também aos argentinos.

Assim sendo, vamos ao que interessa.

O comportamento na estrada e o respeito dos limites de velocidade: não tenho dúvidas nenhumas de que os tão badalados radares estão a surtir efeito. Honestamente, não poderia estar mais de acordo com a sua função pedagógica: estão lá, estão sinalizados, as pessoas sabem claramente que ali vai estar um radar e que, se forem em excesso de velocidade, serão multados. Funciona, e ainda bem. A verdade é que a circulação está mais regrada, não só dentro da cidade (em vias "semi-rápidas", por exemplo) como também em auto-estradas. E aqui sou corroborada pela opinião de mais emigrantes, que observaram que também na auto-estrada se respeitava mais o limite de velocidade (dentro da já assumida tolerância para os 140).

A sensação de haver uma maior fiscalização e de a impunidade já não ser total: pois é, acho que nos estamos a "suiçar". É uma boa coisa, diria eu, dado que na Suíça, como se sabe, há regras para tudo e fiscalização para ainda mais. Ainda estamos longe, mas não há como seguir bons exemplos. Em que é que notei este "suiçamento"? Notei em várias coisas: na questão supra mencionada dos radares e das multas que chegam a casa dos condutores, numa declaração de IVA que fiz fora do prazo cuja notificação da devida coima chegou em menos de uma semana; de poder consultar essa notificação por internet, imprimir o documento de pagamento e pagar tudo a partir de cá.

Poderia estar a tergiversar, mas não estou: a verdade é que a maioria dos serviços estão agora disponíveis por internet, o que não só me ajuda muito a mim, que estou cá longe, como a tantas outras pessoas que agora já escusam de perder horas a fio nas repartições.

Notei também que as casas de banho estão mais limpas. "Mais limpas", reforço a ideia. Mas não estão limpas. Aliás, em Buenos Aires é muito raro encontrar uma casa de banho suja e, quando isso acontece, avisa-se um qualquer empregado do estabelecimento e imediatamente a dita é limpa. Em Portugal, uma casa de banho suja num restaurante ou num centro comercial é um facto absolutamente normal e ninguém se preocupa por aí além com isso. Excepto, talvez, quem tenha filhos pequenos que precisam de se sentar nas sanitas. Mas não estou a ver que um empregado calce umas luvas de borracha e lave imediatamente a casa de banho, como vi por cá.

Outra coisa muito positiva: a nova lei do tabaco. Nem vale a pena entrar em mais discussões sobre o assunto. Os espaços estão muito mais respiráveis, inclusivamente aqueles em que o fumo é permitido. Até que enfim que se pensa na qualidade do ar que respiramos (todos: fumadores e não-fumadores)!

Para finalizar, acho que em Portugal há muita coisa que funciona: não tenho dúvida de que temos corrupção, mas não é um fenómeno omnipresente como noutros países da Europa e do Mundo, nomeadamente a Argentina. Os nosso tribunais demoram a deliberar, mas deliberam - e a decisão não é normalmente comprada. Além do mais, há instituições que regulamentam outras instituições, o que dá ao cidadão comum alguma protecção. Temos também o famoso "cruzamento de dados" e a lista de devedores ao fisco e aos poucos muda-se a percepção de que "fugir aos impostos" não é uma coisa assim tão louvável.

Posto isto, falta-me escrever sobre as coisas em que a Argentina está muito mais avançada.

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