quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Panamices

Aqui há tempos, uma amiga panamenha contou-me uma história que aconteceu a um seu conhecido. Vinha ele por determinada estrada da Cidade do Panamá quando, num semáforo, um senhor se aproximou do seu carro para lhe oferecer uma limpeza expresso de vidro, em troca de uns trocos.

O condutor baixa o vidro do carro e diz-lhe que não, que lhe vai oferecer algo melhor: um trabalho. Dá-lhe o cartão de visita e pede que lhe ligue nos próximos dias.

O telefone não tocou e, algumas semanas mais tarde, encontra-se de novo com o mesmo limpador de vidros semaforeiro. Baixa o vidro e pergunta-lhe por que não lhe havia ligado.

"É que o senhor me queria pôr a trabalhar!". E, lá está, trabalhar dá trabalho e até cansa.

Infelizmente, é esta a mentalidade panamenha: é quase, quase preciso convencer as pessoas a trabalharem, a cumprir a respectiva parte dos acordos, a serem pontuais (ser pontual, no Panamá, é chegar meia hora atrasado).

Já sei, já sei, os portugueses que me lêem vão imediatamente estabelecer não sei quantos paralelismos com a realidade que estão a viver. Mas, lamento, não têm razão. Como esta cultura de preguiça, de falta de brio e profissionalismo que se respira aqui de forma absolutamente transversal, não conheço outra! Haja paciência...

3 comentários:

Anónimo disse...

Aqui há muitos que desejariam ter um trabalho mas também há muitos que acham que trabalhar dá trabalho. Felizmente, também há muitos que trabalham competentemente.
Como diria a minha mãe, "há de tudo como na farmácia."
Bjs.
M

Ahimsa disse...

Olá Billy,

Percebo-te perfeitamente.

Estou cada vez mais convencida que as pessoas não sabem valorizar o tempo. O tempo é mesmo dinheiro, não num sentido utilitário, mas na medida que sempre que fazes perder o tempo de alguém, isso traz-lhe um custo: menos tempo para outras atividades, desde dormir, a comer, a trabalhar no projeto a viver a vida.

Namaste!

fungaga disse...

Por aqui vivemos aquela contradição estranha de as pessoas se queixarem de que não há trabalho e depois quereres alguém para fazer alguma coisa e não sei, pois, e tal, não está dentro da minha área e assim...

Eu sei que há empregos tão mal pagos que nem vale a pena trabalhar, com o que se gasta em transportes e a carga horária que põem em cima das pessoas (sim, ganhas 500€, mas depois não podes ir buscar os filhos à escola antes das 7h e tens de pagar ATL que custa 200...). É fácil dizer mal e a verdade é que há muitas situações complicadas. Mas nunca consegui perceber as pessoas que dizem que não a trabalhar, porque uma coisa sei de certeza: ninguém vem ao sofá de casa buscar-nos para nos oferecer um emprego bem (ou mal) pago.