O navio-escola Sagres está de visita a Buenos Aires. Na sua viagem de circum-navegação participa nas celebrações dos bicentenário da independência de vários países, nomeadamente o da Argentina. Também cá estão navios de outros países e a Dársena Norte de Puerto Madero teve, este fim-de-semana, uma cara diferente.
A partida da Sagres para mais uma etapa da sua viagem de circum-navegação está marcada já para amanhã, mas durante a sua estadia aqui (e acredito que em todos os outros portos) abriu as suas portas ao público. Falo por mim, com as saudades que tenho de Portugal e de falar português a torto e a direito - ou será só de falar a torto e a direito? - visitar a Sagres e meter conversa com toda a gente é o meu programa ideal de Sábado à tarde.
E assim foi. Havia um mar de gente à espera para visitar os vários barcos atracados no porto, que estava lindo. Entre mastros e velas e arranha-céus, a paisagem porteña estava definitivamente diferente.
A bordo da Sagres, os marinheiros de serviço metiam conversa com os visitantes, ajudavam na subida e descida dos íngremes degraus e respondiam com infinita paciência a todas as perguntas que lhes faziam. Desconfio que, tal como nós, houve mais algumas pessoas que foram para lá exibir as suas t-shirts de Portugal e os seus xailes típicos, com vontade de destravar a língua e praticar as conjugações verbais lusas. Em terra onde sempre nos confundem com brasileiros (mais uma vez, não que isso seja um problema, só é é muuuuuito cansativo), receber uma embaixada itinerante é motivo de muita alegria.
Da cozinha do navio vinha um cheiro delicioso a peixe fresco. Enquanto salivávamos, um dos cozinheiros cortava lâminas a um polvo já cozido. Perguntámos-lhe de onde vinha aquela iguaria e ficámos a saber que foi trazido de Portugal. Quem diria? Mas, bem vistas as coisas, o pouco polvo que por cá se arranja também vem das nossas bandas (mais frequentemente, da Galiza). A dificuldade, mesmo, foi afastar-nos daquele polvinho que se deixava fatiar como manteiga...
É verdade que na Sagres dão a provar as delícias da culinária portuguesa?, quisemos saber depois de ler o folheto que distribuíam aos visitantes. E sim, mas só às personalidades convidadas. E claramente o Sr. Embaixador não se lembrou de nós.
Uns suspiros de saudade mais à frente, vimos várias barricas de vinho que também fazem a viagem de circum-navegação. Desconheço que costume é este o de trazer o vinho a dar a passear (Tio Rui?), mas achei uma maneira bem interessante de o fazer envelhecer. Já imagino a descrição:
...vinho circum-navegador, envelhecido em casco de carvalho, com toques de sal e de vento e um final de maresia. Já sabem, quando, no futuro, beberem um moscatel de Setúbal, procurem-lhe os vestígios da ondulação.
Dada a volta à Sagres ainda visitámos outras embarcações, mas não amor como o primeiro, que neste caso se deveria substituir por não há orgulho como o patriótico.
E, já no regresso a casa, registámos esta imagem:
E esta, hein? Mais fotos
aqui.
5 comentários:
Olá,
Sagres é Sagres e "mai nada".
Em tempos li que há um vinho que, efectivamente, envelhece na viagem. Diga lá Tio Rui, sff, qual é!
Se calhar estou a confundir com as histórias do vinho da Madeira...
Namaste!
Que FIXE!!! A minha memória já não é o que era, mas não foi o vinho do Porto ou da Madeira que foi inventado assim?
Ahimsa e Fungagá, pois que fui olhar para as minhas fotografias e encontrei barricas de Moscatel e de vinho da Madeira! Não sei de nada dessas histórias, quem quer contar?
Olá,
No interessante livro, para este tipo de trivialidades, "Por que é que o mar é azul?" explica e cito:
"... o vinho da Madeira constitui um caso à parte. Tem melhor sabor quando está ligeiramente oxidado, característica que foi descoberta por acaso e depois deliberadamente explorada no século VXIII mediante o embarque de barris em navios à vela que faziam longas viagens até às regiões tropicais.".
Namaste!
Obrigada, Ahimsa, a tua explicação retira-nos as dúvidas. Desconhecia totalmente!
Enviar um comentário