terça-feira, 6 de julho de 2010

Em Nova Iorque fui ver museus

No Guggenheim

Como qualquer pessoa que abra um guia de Nova Iorque sabe, a cidade tem muitos museus, qual deles o mais apetecível. Então museus de arte, arte aplicada ou design, nem se fala: a escolha fica difícil. Por isso, decidi impor a minha regra de um museu por dia e segui para bingo, isto é, escolhi os museus que mais queria ver. Obviamente deixei muita coisa para trás, o que foi uma pena, mas o que vi, vi com atenção, dedicação e tempo até de me arrepiar e largar a ocasional lagrimita. Acho que a escolha foi acertada.

No Guggenheim

O primeiro museu que visitei, o Guggenheim, tem aquela estrutura em espiral que já conhecia de mil filmes, fotografias e reportagens. Poder-se-ia pensar que é uma desilusão quando lá chegamos, que já nada é surpresa, que só lá vamos "confirmar", em vez de descobrir. Mas não. É lindo e arrepiante estar dentro daquela construção.

Confesso: não delirei com a exposição em si, "Haunted". Não que não seja interessante. Só não é o tipo de expressão artística que me chama. Por outro lado, a exposição estava narrada partindo do piso térreo para cima, subindo os seis andares na estrutura em espiral. Ora, muitas vezes, as plaquinhas com a informação sobre a peça estavam à esquerda da respectiva peça, ou seja, acima da dita. Isto significa que o observador é forçado a subir para ler a placa e a voltar a descer um bocadinho para apreciar a peça. Uma canseira.

Mas, e há sempre um mas, nas salas anexo do museu estavam algumas exposições temporárias. A de Julie Mehretu deixou-me completamente aparvalhada, encantada, hipnotizada e mesmo fantabulizada. É um conjunto de pinturas gigantes onde a cada olhar, e a cada distância, se descobre um novo nível de leitura. Fiquei muito tempo naquela sala branca, observando as pinturas e as pessoas que olhavam, se aproximavam, se afastavam dos quadros gigantescos, que nos engoliam e regurgitavam. Murmurei várias vezes: "compro todos, podem entregar lá em casa".

No dia seguinte, a escolha recaiu sobre o Museu de Arte e Design, ou MAD (aprecio o sentido de humor). Comparado com outros gigantes do panorama local, este museu é pequenino, característica que me agrada sobremaneira. Tirando a falta do ocasional banquinho para o descanso periódico, é um museu com o tamanho perfeito, já que podemos ver todas as exposições sem nos fartarmos de tanta cultura. Porque a cultura, meus amigos, dá muita bolha no pé, essa é que é essa.

Uma das exposições era sobre (pausa para o pigarreio) objectos feitos com coisas mortas. Chama-se Dead or Alive e, apesar de ser, como explicar, estranha, é muito, muito interessante. Há objectos que são verdadeiramente lindos, e só quando percebemos que aquelas coisas são insectos verdadeiros (nhaca) ou penas de pombos (nhaca nhaca) é que sentimos - literalmente - comichão.

Gostei também da mostra sobre bicicletas feitas à medida: quem diria que seria tão interessante?

A loja deste museu é uma terrível perdição: entre outros livros, encontram-se à venda catálogos de exposições antigas - e qual delas a melhor. Para terem uma ideia, a minha mala voou para Nova Iorque com quatro quilos (não estou a exagerar) e voltou com mais vinte. Livros. Livros. Livros. E só comprei os que sabia que não ia encontrar por internet.

No MoMA

O último museu que vi foi o MoMA. Zanguem-se os puristas do Met; não deu. Estive lá da outra vez em que fui, em miúda, com os meus pais, e tenho a imagem de um museu gigantésimo, com muita arte egípcia (de que gosto) e muita, muita ala para ver. Esqueçam a bolha do pé. No Met, é mesmo chaga.

Posto isto, fui ao MoMA. Muito bem acompanhada, naveguei por todas aquelas salas, pisos, escadas, tudo lindo, tudo branco, e tirei partido do horário ampliado às quintas-feiras, só durante os meses de Verão.

Também aqui, muitíssima emoção ao ver As Oliveiras, de Van Gogh e, mais tarde, La Danse (I), de Matisse. Bem a propósito, em Julho abre uma exposição só, só sobre Matisse. Um privilégio!

Parece que neste museu se concentram todas as obras que nos aparecem, ou já apareceram, nos compêndios de história da arte contemporânea: desde Picasso a Frida Kahlo, passando por Piet Mondrian e Brancusi, nesta colecção há de tudo, bem exposto, bem narrado no audio-guia gratuito e com muito espaço para gozar cada uma das obras. Lindo, e a não perder.

As exposições temporárias também são muito boas, nomeadamente as que são sobre design: "Shaping Design Modernity", "Action! Design over time" e "What was good design?MoMA´s message 1944-56"

Felizmente já nem entrei na tentação da loja do museu (vinte quilos em livros, eu seja santa), mas diz que o brownie do bar é muito bom.

Missão museológica cumprida, fui às Nações Unidas. Mas isso é conversa para outro dia.

8 comentários:

Mariana Ramos disse...

Qualquer dia também vou fazer essa visita. A maneira como a descreves cria um apetite...
Beijinhos
M.

Billy disse...

Vale mesmo a pena! E diz que a anfitriã é o máximo.

kel disse...

Eu vi essa exposição do Matisse a semana passada no Art Institute de Chicago e recomendo vivamente.

Mar disse...

A regra de um museu por dia... e por sinal, no MOMA, uma das exposições temporárias, a do Shapping Design foi uma das que também gostei bastante... porque ainda por cima me lembrei de uma série de coisas que tenho vindo a aprender contigo e com o Manel;-)))

Houve uma outra, agora não tenho um meu caderno de viagem, mas era de animação com óperas que simplesmente amei!

Ah... e eu, evitei mesmo as livrarias... todas, as dos museus e umas outras - um pouco mais cinzentas - mas que me costumam levar à loucura:-))) Na realidade, não é verdade...entrei em duas com propósito muito claro: prenda para o pai... mas foi no Centro de fotografia de que te falei;-)))

ah que saudades da big apple!

Mar disse...

Não tenho o livro de notas, mas tenho a net;.))

a exposição de que estava a falar era esta:
http://www.moma.org/visit/calendar/exhibitions/964

e a da Abramovic (ainda apanhei a presença da artista propriamente dita, o que foi o máximo!) - http://www.moma.org/visit/calendar/exhibitions/965

bj bj bj, e conta mais coisas sobre a viagem, please!!!

Anónimo disse...

É sempre um prazer ler os teus diários de viagem. 20 quilos! LOL!!! Mas confesso que fiquei com inveja. Acho que nunca voltei de férias com tantos quilos a mais na viagem. O teu relato aguçou ainda mais a minha vontade de visitar muitos destes sítios. Ai NY, NY...

Billy disse...

Kel, giro giro era a exposição do Matisse vir ao Panamá. Será que?

Mar, eu também evitei livrarias! Quero dizer, as grandes, daquelas onde se encontra tudo o que está na amazon. Mas fui às dos museus e às de bairro. Em três palavras: a do rei.

V, preciso de explicar que levava, vá, 5kg (carry on). Realmente a mala chocalhava. Mas depois... olha, o que é que se há-de fazer, a "coltura" ocupa espaço e pesa muito e eu tenho uma estante gigante em casa (na verdade, desmontada, em caixas, num armazém em Buenos Aires) e tenho de a encher. ;)

Anónimo disse...

Há bocado enganei-me. O que eu quis dizer foi "nunca voltei de férias com tantos quilos a mais na BAGAGEM" e não "viagem", mas acho que todos perceberam.

Agora tens um bom motivo para montar a estante :-D