Já vivo na América Latina há mais de quatro anos, dos quais três em Buenos Aires e um aqui no Panamá. Em Buenos Aires, assim que obtive o visto de residência fui logo recensear-me para votar. Vieram as Legislativas de 2009, e eu feliz e contente porque finalmente ia poder cumprir o meu dever cívico.
Cerca de uma semana antes da data das eleições em Portugal, comecei a ver os comentários dos meus amigos emigrantes no facebook. Anunciavam que o boletim de voto já lhes tinha chegado, que já tinham votado. E eu? Nada. Ligo para a Embaixada competente e a resposta é que eles nada têm que ver com o tema, que os boletins tinham chegado havia já duas semanas, que se não tinha recebido não havia nada que eles pudessem fazer.
Resultado: não votei. Não sei de quem foi a responsabilidade, ou o que terá falhado. Assumo que pode ter sido de quem coordena as eleições para os cidadãos no estrangeiro; mas também pode ter sido um problema dos correios argentinos, que podem não ter feito a entrega dos ditos boletins.
Um ano e meio depois, já no Panamá, chegam as presidenciais.
O Panamá acumula vários entraves à participação dos cidadãos portugueses nos actos eleitorais: primeiro, não dispõe de embaixada portuguesa, nem sequer de consulado. Temos apenas um consulado honorário, que tem competência para muito pouca coisa e que dinamiza muito, muito pouco a difusão da cultura portuguesa no país. (Como esclarecimento, a embaixada mais próxima é em Bogotá, ou seja, noutro país, a uma viagem de avião de distância.) Mais: em Abril, enviaram-nos por mail um convite para um jantar com deputados portugueses de visita ao país. Sabem quem era o remetente? "Consulado de Potugal". Assim, sem mais nem para quê, sem sequer se darem ao trabalho de rever e reler o que tinham escrito.
Voltando aos entraves à participação, o segundo prende-se com um conceito que parece totalmente alienígena a quem nunca viveu na América Central, onde aparentemente é prática comum: cá não há distribuição domiciliária de correio. Não há números nas portas, não há carteiros. Por isso tive de ir alugar um apartado na estação de correios mais próxima, estação essa que é uma tristeza completa. Mas ter um apartado é uma opção, não uma obrigação, o que faz com que muita gente não tenha morada onde receber correspondência.
Resumindo: entre não haver um consulado com competência para facultar uma câmara de voto aos cidadãos aqui recenseados e a impossibilidade da distribuição por correio dos boletins, eis mais um acto eleitoral em que não vou participar (e longe vai a minha possibilidade de me candidatar a presidente da república).
A minha pergunta é: num país que ocupa um dos lugares dianteiros em governo electrónico, para quando o voto electrónico? Não pode ser mais complexo que tudo o que já fizeram: relembro que todas as minhas interacções com as Finanças, com a Segurança Social e com o meu Banco são feitas electrónica e remotamente. Por isso, que falta para haver o voto electrónico? Porque é que ainda não há voto electrónico em Portugal? Seria a solução para estes obstáculos constituídos pelas especificidades locais de cada país.
Posto isto, no Domingo, por favor, vão votar. Em branco, nulo, num partido ou noutro: vão votar. E, como vi num dos filmes do youtube, na segunda vamos trabalhar.
2025 CALENDARS - good tuesday
Há 2 dias
5 comentários:
I like:-) do post claro, o conteúdo enfim reflecte uma realidae bem indesejável... e brigada:-)!!!
E a MAR pode votar?
(Não me lembro de ter tido essa possibilidade quando residimos na actual terra dela...)
Quanto aos eleitores cá de casa, podes estar descansada: iremos!(ainda há indecisões, mas daqui até lá, hão-de resolver-se...)
Bjs.
M
MAR, ontem falámos sobre isso mas já não me lembro: votaste?
Eu irei votar. Desde os meus 18 aninhos ainda não falhei um momento de eleições. Tenho pena que o nosso governo não pensa nas pessoas que estando fora não podem votar. Queixam-se tanto da abstinência e esquecem-se que há quem queira votar e esteja impossibilitada de o fazer... Enfim... Espero que o voto eletrónico venha rápido para poderes execer o teu direito de cidadã! ;-)
Com o cartão do cidadão e a possibilidade de iniciar sessão segura na internet, nada impede o voto electrónico. Eu estou contigo, mesmo estando em território nacional aderia na hora!
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