Nos idos de 2000 estava de viagem com um casal amigo, regressando a Lisboa depois de uma estadia no sul de França. Com algum receio disseram-me que teríamos de parar para visitar uma prima afastada que vivia numa aldeia perto da fronteira espanhola, que teríamos de lá ficar a dormir e que assim só chegaríamos a Lisboa um dia mais tarde. Foi coisa que não me preocupou, até porque para passeio estou sempre pronta.
A verdade é que essa noite em casa da prima foi um daqueles momentos em que a vida muda um bocadinho, ou talvez até muito. Ao princípio estava preocupada por me sentir vagamente intrusa pois a prima não sabia que eu estava a viajar com eles. Mas rapidamente se dissipou tal sensação: a conversa ao jantar e depois do jantar, a noite bem dormida, embalada pelo som do Atlântico ao alcance da mão e o pequeno-almoço do dia seguinte fizeram daquelas poucas horas um momento absolutamente inesquecível.
Quando cheguei a Lisboa, recebi uma carta da nossa anfitriã a perguntar-me porque não havia escrito no livro das visitas e a pedir-me para o fazer
a posteriori. Fiz então esta ilustração, que lhe enviei numa cartinha para ela colar no livro.
A prima chamava-se Claudine Coron e morreu esta semana. Depois deste encontro, nunca mais a vi, mas também nunca mais a esqueci. Esta é a minha homenagem a esta pessoa que em tão pouco tempo me deixou uma impressão tão forte. Bem haja e que descanse em paz.
1 comentário:
Só tu, minha filha, para dizeres as coisas difíceis de maneira tão simples!
Muitos beijinhos!
Mãe
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