Aviso: este post contém linguagem vulgar.
Não sei por que razão mas ultimamente tenho-me lembrado muito de um episódio anedótico que me aconteceu numa tarde luminosa de Novembro na baixa lisboeta. Lembro-me bem da data porque era o aniversário da minha irmã. Saí da faculdade e desci a colina até à zona das lojas da Rua Augusta, onde acabei por lhe comprar umas calças em padrão xadrez - estavam na moda, nessa altura.
Caminhava com o meu ar habitualmente alheado, a olhar para o magnífico céu azul que costuma coroar a cidade e a controlar vagamente o sinal do semáforo, esperando o bonequito verde para poder atravessar a estrada. Eis senão quando um velhote se chega a mim e me diz (nunca me esqueci das palavras dele):
"Menina, faz-me um broche."
Olhei para o lado e tinha um senhor de cabelo branco, ar bastante lavado e insuspeito e não queria acreditar. Olhei para o outro e vi uma pacata concidadã que encolheu os ombros e revirou os olhos. Veio o verde e atravessei a estrada, tentando deixar a experiência para trás. Só que a experiência não cooperou e acompanhou-me.
"Menina, ninguém tem de saber das nossas vidas, faz-me um broche. Tenho ali um quartinho numa pensão. Faz-me um broche", ia-me dizendo o velhote enquanto me perseguia Baixa fora. Sentia-me vagamente como se tivesse um auscultador de telefone gigante atrás de mim, que amplificava o som de uma chamada para uma linha qualquer de pornografia telefónica paga a peso de ouro. O homem não desistiu facilmente, até que perdi a paciência e lhe gritei qualquer coisa que me saiu no momento de estupefacção. E aí lá se foi embora, provavelmente para tentar a sorte noutro lugar qualquer.
Olhando para trás, o episódio dá-me uma tremenda vontade de rir que não consigo reprimir de cada vez que penso na frase mais repetida por ele. E na proposta da pensão. E do quartinho na pensão. E da descrição do que queria que eu lhe fizesse. Vá, ao menos tentou. Não teve sorte, mas tentou.
(Onde andará hoje?)
2025 CALENDARS - good tuesday
Há 2 dias
4 comentários:
É a primavera que te faz lembrar o céu azul de Lisboa e, por arrastamento, o velho da proposta indecorosa?
Olá!
Por favor regressa! É que contigo aqui, tenho alguém com quem dividir os doidos de Lisboa!!!
Namaste!
Bem, como já estás fora há algum tempo, espero que - por esta altura - já tenha conseguido a tão desejada pregadeira (era o que ele queria, não era?)...
(gargalhadas)
Vivam estas comentadoras fantásticas!
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